No bloco do colégio, o início de tudo Engenheiro superou ressalva com "amor de carnaval" e se casará com psicóloga nove anos após o primeiro encontro

Publicação: 18/02/2017 09:00

Amor à primeira marchinha: Rafael viu Monyke longe, ainda na concentração do bloco, mas em um momento de distração perdeu-a de vista. Determinado, ele começou a procurá-la ainda no pátio do colégio. Ele tinha 18 anos e ela 17 (Rafael Martins/ DP)
Amor à primeira marchinha: Rafael viu Monyke longe, ainda na concentração do bloco, mas em um momento de distração perdeu-a de vista. Determinado, ele começou a procurá-la ainda no pátio do colégio. Ele tinha 18 anos e ela 17
O bloco de carnaval do colégio era apenas uma oportunidade para o futuro engenheiro civil Rafael Henrique Souza encontrar os amigos. Aos 18 anos, ele atravessou o Recife rumo a Olinda sem qualquer pretensão amorosa. Enquanto a agremiação se preparava para sair, Rafael avistou entre a multidão uma menina de diadema roxo. Era a psicóloga Monyke Cabral, então com 17 anos. Os dois não trocaram palavra, mas a partir daquele momento Rafael percebeu que tinha encontrado a mulher da sua vida. Em 2017, nove anos depois daquele encontro, os dois irão se casar.

Rafael viu Monyke longe, ainda na concentração do bloco, mas em um momento de distração perdeu-a de vista. Determinado, ele começou a procurá-la ainda no pátio do colégio. Sem sucesso, aguardou a saída do bloco e seguiu subindo e descendo ladeiras atrás dela. “Foi amor à primeira vista, mas ela não estava mais por lá. Então pensei que precisava achar um jeito de encontrar aquela menina”, conta. A solução foi buscar durante dois dias seguidos em uma comunidade do Orkut, por meio das fotografias. Deu certo e os dois iniciaram uma conversa.

Em uma semana, Monyke e Rafael começaram a namorar. “Depois descobrimos que todo ano meu pai ia buscar livros na casa dele para eu estudar. O irmão dele era amigo da minha irmã”, lembra Monyke. Foram quatro anos e meio de relacionamento, seguidos de uma pausa de três anos. Rafael foi fazer intercâmbio nos Estados Unidos, quando voltou Monyke estava viajando. Outros relacionamentos se passaram e, depois do regresso dela de um intercâmbio no Canadá por seis meses, Rafael decidiu tentar novamente. Mandou um e-mail e pediu 10 minutos de conversa.

Os dois voltaram a namorar e noivaram. Para eles, o amor de carnaval foi um completo acaso. “Eu tinha inclusive preconceito com isso. A minha ideia é de que no carnaval as pessoas estavam curtindo. Foi como um tapa”, diz Rafael. “Costumava vir para Olinda com a minha família e deixamos de vir depois que a minha mãe viu uma menina cair e bater a cabeça depois de um assédio”, complementou Monyke. Os dois irão se casar em abril, cheios de planos e visivelmente apaixonados.

Serpentina em vez da chuva de arroz

Marcílio e Greice oficializaram sua união em festa carnavalesca (Peu Ricardo/DP )
Marcílio e Greice oficializaram sua união em festa carnavalesca
Em vez de marcha nupcial, marchinhas de carnaval. No lugar da chuva de arroz, banho de confetes e serpentina. Na cerimônia de casamento da artista plástica Greice Porto, 56, com o empresário Marcílio Oliveira, 42, tudo lembrava a data que eles se conheceram. Em 2006, durante um baile de máscaras na semana pré-carnavalesca, o casal se viu pela primeira vez. Marcílio deu o primeiro passo para conquistar a animada foliã que usava uma máscara decorada com glitter prateado. Conversaram, trocaram os primeiros beijos e não se desgrudaram mais. No ano passado, ao completarem a primeira década juntos, decidiram formalizar a união em uma festa carnavalesca.

A festa de casamento aconteceu no domingo que antecedeu o carnaval de 2016. Não havia padre ou pastor. Quem acompanhou os votos dos noivos foi o presidente do bloco lírico O Bonde, Cid Cavalcanti. No buquê de Greice, máscaras carnavalescas lembravam o traje que ela e Marcílio usavam no dia do primeiro beijo. “Foi um dia mágico, com nossos amigos do bloco, muita marchinha de carnaval. Foi um grande baile, animado como nós dois”, contou Marcílio. “Se ele não gostasse de carnaval, nossa relação não daria certo. Somos apaixonados por essa folia e, no meio dela, descobrimos o amor”, completou Greice.

Toda segunda-feira de carnaval, quando os blocos líricos tomam as ruas do Bairro do Recife, o casal relembra o início do namoro. Eles, que desfilam anualmente no bloco O Bonde, vão renovar os votos feitos em 2016 no carnaval deste ano. “A gente brinca carnaval desde a época de solteiros. Juntos, vamos muito ao Recife Antigo e a bailes de clube. Chegamos em casa exaustos, mas felizes. Olinda não faz mais parte da nossa programação. Vejo como um lugar mais para gente solteira. Preferimos o carnaval do Recife”, disse a artista plástica.

Um baile  que já dura 24 anos

Alexandre e Girlaine conheceram-se no Bloco da Saudade (Rafael Martins/ DP )
Alexandre e Girlaine conheceram-se no Bloco da Saudade
A cena do primeiro encontro é descrita pelo casal como se tivesse acabado de acontecer. A psicóloga clínica Girlane Arraes, 59 anos, estava com um vestido “comprido, na altura do tornozelo, azul e branco decorado”. Olhava para o ortopedista dos Hospitais Memorial São José e Jayme da Fonte, Alexandre Arraes, 71, que foi avisado pelos amigos e prontamente a chamou para dançar. Era 5 de fevereiro de 1993, um baile do Bloco da Saudade, na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). Desde então, eles nunca mais se separaram.

Girlane já havia vivido um casamento antes, Alexandre também. Ela tinha ido ao baile por insistência da filha, nem sequer passou maquiagem, conta. Um detalhe sem qualquer importância, garante o médico. Depois de dançar, os dois foram para a parte de fora do salão e, entre uma conversa e outra, Alexandre “roubou” um beijo. “Ela queria, passou o rosto assim e pronto.”

No dia seguinte, os dois já foram juntos ao baile Vermelho e Branco, no Clube Náutico Capibaribe, e no domingo Alexandre convidou Girlane para passear. Chegou à porta da casa dela dirigindo um Chevrolet Bel Air 1957 e arrematou de vez o coração de Girlane, apaixonada por carros antigos. Os dois começaram a namorar, mas com limites (somente quebrados meses depois). Em junho daquele ano, viajaram de lua de mel e, cinco anos depois, decidiram oficializar o casamento.

As coincidências perpassam a relação do casal. Os dois já compraram óculos de sol iguais, estando longe um do outro, fizeram exatamente a mesma feira semanal e foram vestidos, sem combinar, de jeans para um dos encontros. O carnaval segue como pano de fundo da história. Desde 1993, Girlane e Alexandre só deixaram de desfilar pelo Bloco da Saudade uma vez. Estavam nos Estados Unidos, fazendo cálculos de fuso horário e lamentando exatamente na hora em que o cortejo saía.