ENTREVISTA // ERNANI NUNES RIBEIRO » 'A primeira questão é a atitude das pessoas' Professor de educação inclusiva e acessibilidade comunicacional da UFPE

Publicação: 12/08/2017 03:00

Como os pais podem ajudar os filhos com necessidades especiais a desenvolverem a comunicação?
Vamos pensar caso a caso. Uma das coisas que os pais de pessoas cegas podem pensar, por exemplo, é estimular o mundo imagético do filho. Isto é, descrever o que está acontecendo no mundo da criança, dizer o que está se passando no desenho animado, levar os filhos a lugares com audiodescrição. Já em relação à criança surda, a barreira da comunicação é ainda maior. Assim, os pais devem estimular a criança a adotar a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como idioma, ou seja, é importante que os pais aprendam a língua para estimular essa comunicação. Quanto mais os pais se envolverem nesse universo e adotarem estratégias para o desenvolvimento da criança, maior será o desenvolvimento dela. E isso deve ser feito o mais cedo possível. Quanto mais se estimula, com descrição de objetos, descrição tátil, inserção na Libras, mais condições essa criança terá de se desenvolver.

Quais são as principais dificuldades encontradas por esses pais?
Ainda falta muito espaço comum a crianças com e sem deficiência. Cinema é um exemplo. A criança cega não tem tanta oportunidade, pois o espaço não é acessível e, via de regra, não há audiodescrição. Para as surdas não há legenda ou tradução para Libras. Muitas vezes a criança vai acompanhada pelos pais e a interação nesses espaços será apenas com eles. Por isso é tão importante inserir a criança surda na comunidade de surdos o mais rápido possível. O contato com outros faz com que ela se desenvolva mais e aprimore a linguagem.
 
Que suporte a sociedade pode e deve dar aos pais?
A gente entende que a sociedade abarca escola, espaços públicos, governos, então, seja qual for a instância, a primeira questão é a atitudinal, ou seja, da atitude das pessoas em geral em relação à pessoa com deficiência. Normalmente, o sujeito que nasceu com alguma diferença é visto como limitado, incapaz. Essas barreiras não fornecem ao indivíduo com especificidades condições para que ele seja visto como sujeito atuante. A sociedade ainda está caminhando a passos lentos em relação a essa questão. No Recife, ainda temos alguns espaço de inclusão, mas o que mais preocupa são as cidades do interior. Longe da capital, pais e famílias sofrem com falta de profissionais especializados, de cursos de formação e espaços acessíveis. Acredito que as políticas públicas, apesar de avanços nos últimos anos, devem abarcar mais essas cidades.