Os sons que mudaram duas vidas O engenheiro civil Paulo Melo tem na música uma das principais formas de comunicação com o filho Victor, que é autista e tem dificuldades para falar

Publicação: 12/08/2017 03:00

A cadência do axé baiano e a estridência do frevo pernambucano servem como palavras nas conversas entre o engenheiro civil Paulo Melo, 54, e o filho Victor Melo, 20. Victor é autista, e a música é uma das suas principais formas de comunicação. Fã de André Rio, Almir Rouche e da banda soteropolitana Marreta é Massa, caçula da família Melo tem dificuldade para formar frases. Para cantar e batucar, não. Conhecer as músicas ouvidas pelo filho é, para o pai, uma forma de se conectar com ele.

Uma pesquisa de 2014 da Escola Médica da Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, mostrou que música e linguagem dividem mesmo espaço no cérebro. O experimento mostrou que o cérebro de jazzistas, quando imersos em interação musical, tem uma forte ativação nas áreas tradicionalmente associadas à linguagem falada e à sintaxe (como as palavras são organizadas nas frases). As conclusões do estudo sugerem que as regiões cerebrais relacionadas à sintaxe não estão restritas à linguagem falada e que o cérebro usa essa área para processar a comunicação em geral, seja pela linguagem ou pela música.

Na casa dos Melo, a pesquisa encontra comprovação. “Ele é apaixonado por música e temos nela uma forma de interação”, diz Paulo. A paixão de Victor por axé levou toda a família ao carnaval de Salvador há cinco anos. “Meu filho tem comprometimentos mais sérios em alguma áreas, como na comunicação falada, no desenvolvimento escolar, mas tem respostas maravilhosas em outras áreas, como na socialização. Ele ama estar com nossos amigos, ir para barzinho e ouvir música com a família. É assim que vamos interagindo e vivendo”, revela o pai.