NOVO ENSINO MéDIO - UM SALTO PARA O FUTURO »
Um norte para a educação do Brasil
Diario inicia série de quatro reportagens sobre as mudanças que buscam estimular alunos a aprender mais e atualizar a escola aos dias atuais
Alice de Souza
alice.souza@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 20/09/2017 03:00
A cada um minuto, um aluno abandona as salas de Ensino Médio no Brasil. A etapa final da educação básica do país repele ao invés de acolher. A estatística é reflexo de um sistema de ensino arcaico e travado num abismo temporal, distante de modelos de referência educacional do mundo e, sobretudo, da realidade do jovem do século 21. O destino econômico e profissional brasileiro depende do preenchimento dessa lacuna, com uma mudança estrutural que estimule a aquisição de competências para a vida.
A partir de hoje, o Diario inicia a série Novo Ensino Médio, um salto para o futuro, no qual estimulará o conhecimento sobre a estratégia utilizada pelo Brasil para recuperar o pulso do fim da educação básica e promover o reencontro entre os interesses da juventude e o conhecimento. À luz do baixo desempenho dos estudantes brasileiros nas avaliações nacionais e internacionais, vamos mostrar a reforma, em quatro matérias, com as propostas de mudança que objetivam levar o país a oferecer um Ensino Médio com mais oportunidade e qualidade aos jovens.
Dados dos indicadores de fluxo escolar da educação básica, divulgados pela primeira vez neste ano, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostram que a maior taxa de evasão escolar do país está no Ensino Médio. Um total de 11% dos alunos, nesta etapa de ensino, deixa a escola. De cada 3,3 milhões de pessoas que entram no primeiro ano, saem apenas 1,9 milhão. A situação se torna mais crítica porque aqueles que conseguem vencer a evasão caem diante do aprendizado. Quem termina a educação básica hoje sabe menos português e matemática do que há 20 anos. O pano de fundo dessa realidade, defendem os especialistas, é o modelo equivocado de Ensino Médio brasileiro, no qual o aluno está engessado em 13 disciplinas obrigatórias, com foco no ingresso universitário. “O jovem quer uma escola que dialogue com o seu mundo. Vivemos uma época de descontinuidades tecnológicas. Precisamos de uma escola que promova a autonomia, que desenvolva a criatividade e o pensamento crítico. Tornar a sala de aula motivadora. Mas o currículo de hoje olha pelo retrovisor”, explica o diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos. “O papel do Ensino Médio deve ser nos impulsionar a procurar a informação”, reflete o aluno do segundo ano do colégio Damas Matheus Ávila, de 16 anos.
Sancionado neste ano pelo presidente Michel Temer, o novo modelo prevê uma mudança estrutural no currículo do Ensino Médio, cujo objetivo é tornar a escola conectada às demandas do jovem ao mesmo tempo em que estimula o protagonismo dos estudantes. A medida é resultado de um passivo de quase duas décadas de debates. “O Congresso Nacional, há 15 anos, já falou da necessidade dessa reforma. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, já apontava um desejo de flexibilidade. Há um acúmulo de discussões”, esclarece o secretário de educação básica do Ministério da Educação (MEC), Rossieli Soares da Silva.
O Novo Ensino Médio flexibilizará a grade curricular, reorganizando a disposição das disciplinas. O sistema de matérias obrigatórias sai de cena, dando lugar a uma divisão entre uma base comum e obrigatória a todos e itinerários formativos dentro das áreas de conhecimento. A carga horária será ampliada e ganharão fôlego também o ensino técnico e profissional e as escolas em tempo integral.
A atual fase de discussão gira em torno da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que está em desenvolvimento, e será apresentada ao Conselho Nacional de Educação (CNE) até o fim do ano. Depois disso, O CNE deverá promover audiências públicas para elaborar um parecer e uma resolução sobre a BNCC, que deve ser homologada pelo ministro da Educação em 2018. A partir da homologação, os sistemas de ensino deverão estabelecer, no primeiro ano letivo subsequente, um cronograma de aplicação das alterações. A implantação deve se iniciar no segundo ano letivo. A expectativa é de que o novo Ensino Médio esteja em curso em 2020.
O que muda com o novo Ensino Médio
Carga Horária
Hoje: o Ensino Médio brasileiro prevê uma carga horária de 2,4 mil horas divididas entre os três anos, o que dá uma média de 800 horas por ano.
Com a reforma: a carga horária mínima exigida a ser implementada pelos próximos 5 anos será de 1 mil horas por ano, totalizando 3 mil horas durante toda a formação da última etapa da educação básica.
Divisão
A nova estrutura prevê que 60% da carga horária total do ensino médio sejam uma parte comum e obrigatória para todos os alunos - com as competências e os conhecimentos definidos pela Base Nacional Comum Curricular - e outra parte flexível que oferece itinerários formativos nas áreas de conhecimento ou formação técnica profissional.
Disciplinas
Hoje: o estudante cursa 13 disciplinas obrigatórias repetidas durante os três anos do ensino médio.
Com a reforma: somente língua portuguesa e matemática permanecem durante os três anos do curso. Os conteúdos de artes, filosofia, sociologia e educação física seguem obrigatórios, nas áreas de conhecimento da Base Nacional Comum.
Ensino técnico
Atualmente, o estudante que deseja formação técnica de nível médio precisa cursar as 2,4 mil horas do Ensino Médio regular e mais 1,2 mil horas do técnico. Com a mudança, a formação técnica passará a integrar a carga horária regular, sendo um dos itinerários formativos disponíveis para escolha.
Disciplinas obrigatórias
O novo Ensino Médio, além dos componentes curriculares a serem definidos na BNCC, prevê a obrigatoriedade das disciplinas de língua portuguesa e matemática ao longo dos três anos. O inglês passa a ser obrigatório a partir do sexto ano do ensino fundamental.
E sobre artes, educação física, filosofia e sociologia?
A proposta prevê que serão obrigatórios os estudos e práticas de filosofia, sociologia, educação física e artes no Ensino Médio.
Primeiro pilar
Aprender a conhecer
Tornar prazerosa apreensão do conhecimento, promovendo descobertas, construções e reconstruções, de modo que sejam valorizadas a autonomia e a atenção permanentes, considerando as alterações suscitadas pelo progresso científico e as novos modelos econômicos e sociais.
O Ensino Médio
No Brasil
28 mil escolas
Matrículas
1º ano
2,9 milhões de estudantes
2º ano
2,4 milhões de estudantes
3º ano
2,1 milhões de estudantes
Evasão no ensino médio
2007
País - 3,5
Meta - 3,4
2009
País - 3,6
Meta - 3,5
2011
País - 3,7
Meta - 3,7
2013
País - 3,7
Meta - 3,9
2015
País - 3,7
Meta - 4,3
*O Ideb é obtido pelas notas do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e pela taxa de aprovação percentual.
Como serão definidos os itinerários formativos?
A partir de hoje, o Diario inicia a série Novo Ensino Médio, um salto para o futuro, no qual estimulará o conhecimento sobre a estratégia utilizada pelo Brasil para recuperar o pulso do fim da educação básica e promover o reencontro entre os interesses da juventude e o conhecimento. À luz do baixo desempenho dos estudantes brasileiros nas avaliações nacionais e internacionais, vamos mostrar a reforma, em quatro matérias, com as propostas de mudança que objetivam levar o país a oferecer um Ensino Médio com mais oportunidade e qualidade aos jovens.
Dados dos indicadores de fluxo escolar da educação básica, divulgados pela primeira vez neste ano, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostram que a maior taxa de evasão escolar do país está no Ensino Médio. Um total de 11% dos alunos, nesta etapa de ensino, deixa a escola. De cada 3,3 milhões de pessoas que entram no primeiro ano, saem apenas 1,9 milhão. A situação se torna mais crítica porque aqueles que conseguem vencer a evasão caem diante do aprendizado. Quem termina a educação básica hoje sabe menos português e matemática do que há 20 anos. O pano de fundo dessa realidade, defendem os especialistas, é o modelo equivocado de Ensino Médio brasileiro, no qual o aluno está engessado em 13 disciplinas obrigatórias, com foco no ingresso universitário. “O jovem quer uma escola que dialogue com o seu mundo. Vivemos uma época de descontinuidades tecnológicas. Precisamos de uma escola que promova a autonomia, que desenvolva a criatividade e o pensamento crítico. Tornar a sala de aula motivadora. Mas o currículo de hoje olha pelo retrovisor”, explica o diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos. “O papel do Ensino Médio deve ser nos impulsionar a procurar a informação”, reflete o aluno do segundo ano do colégio Damas Matheus Ávila, de 16 anos.
Sancionado neste ano pelo presidente Michel Temer, o novo modelo prevê uma mudança estrutural no currículo do Ensino Médio, cujo objetivo é tornar a escola conectada às demandas do jovem ao mesmo tempo em que estimula o protagonismo dos estudantes. A medida é resultado de um passivo de quase duas décadas de debates. “O Congresso Nacional, há 15 anos, já falou da necessidade dessa reforma. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, já apontava um desejo de flexibilidade. Há um acúmulo de discussões”, esclarece o secretário de educação básica do Ministério da Educação (MEC), Rossieli Soares da Silva.
O Novo Ensino Médio flexibilizará a grade curricular, reorganizando a disposição das disciplinas. O sistema de matérias obrigatórias sai de cena, dando lugar a uma divisão entre uma base comum e obrigatória a todos e itinerários formativos dentro das áreas de conhecimento. A carga horária será ampliada e ganharão fôlego também o ensino técnico e profissional e as escolas em tempo integral.
A atual fase de discussão gira em torno da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que está em desenvolvimento, e será apresentada ao Conselho Nacional de Educação (CNE) até o fim do ano. Depois disso, O CNE deverá promover audiências públicas para elaborar um parecer e uma resolução sobre a BNCC, que deve ser homologada pelo ministro da Educação em 2018. A partir da homologação, os sistemas de ensino deverão estabelecer, no primeiro ano letivo subsequente, um cronograma de aplicação das alterações. A implantação deve se iniciar no segundo ano letivo. A expectativa é de que o novo Ensino Médio esteja em curso em 2020.
O que muda com o novo Ensino Médio
Carga Horária
Hoje: o Ensino Médio brasileiro prevê uma carga horária de 2,4 mil horas divididas entre os três anos, o que dá uma média de 800 horas por ano.
Com a reforma: a carga horária mínima exigida a ser implementada pelos próximos 5 anos será de 1 mil horas por ano, totalizando 3 mil horas durante toda a formação da última etapa da educação básica.
Divisão
A nova estrutura prevê que 60% da carga horária total do ensino médio sejam uma parte comum e obrigatória para todos os alunos - com as competências e os conhecimentos definidos pela Base Nacional Comum Curricular - e outra parte flexível que oferece itinerários formativos nas áreas de conhecimento ou formação técnica profissional.
Disciplinas
Hoje: o estudante cursa 13 disciplinas obrigatórias repetidas durante os três anos do ensino médio.
Com a reforma: somente língua portuguesa e matemática permanecem durante os três anos do curso. Os conteúdos de artes, filosofia, sociologia e educação física seguem obrigatórios, nas áreas de conhecimento da Base Nacional Comum.
Ensino técnico
Atualmente, o estudante que deseja formação técnica de nível médio precisa cursar as 2,4 mil horas do Ensino Médio regular e mais 1,2 mil horas do técnico. Com a mudança, a formação técnica passará a integrar a carga horária regular, sendo um dos itinerários formativos disponíveis para escolha.
Disciplinas obrigatórias
O novo Ensino Médio, além dos componentes curriculares a serem definidos na BNCC, prevê a obrigatoriedade das disciplinas de língua portuguesa e matemática ao longo dos três anos. O inglês passa a ser obrigatório a partir do sexto ano do ensino fundamental.
E sobre artes, educação física, filosofia e sociologia?
A proposta prevê que serão obrigatórios os estudos e práticas de filosofia, sociologia, educação física e artes no Ensino Médio.
Primeiro pilar
Aprender a conhecer
Tornar prazerosa apreensão do conhecimento, promovendo descobertas, construções e reconstruções, de modo que sejam valorizadas a autonomia e a atenção permanentes, considerando as alterações suscitadas pelo progresso científico e as novos modelos econômicos e sociais.
O Ensino Médio
No Brasil
28 mil escolas
Matrículas
1º ano
2,9 milhões de estudantes
2º ano
2,4 milhões de estudantes
3º ano
2,1 milhões de estudantes
Evasão no ensino médio
- 11% para todas as redes
- 3,6% na rede particular
- 5,6% na rede federal
- 9,4% na rede municipal
- 12,2% na rede estadual
2007
País - 3,5
Meta - 3,4
2009
País - 3,6
Meta - 3,5
2011
País - 3,7
Meta - 3,7
2013
País - 3,7
Meta - 3,9
2015
País - 3,7
Meta - 4,3
*O Ideb é obtido pelas notas do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e pela taxa de aprovação percentual.
Como serão definidos os itinerários formativos?
- A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) definirá o currículo comum a todos os estudantes. Esse documento está em elaboração pelo Ministério da Educação e será levado ao Conselho Nacional de Educação (CNE) até o fim do ano.
- Depois de definida a BNCC, estados e municípios discutirão com seus conselhos e núcleos de educação como serão distribuídos os chamados itinerários formativos, levando em conta o contexto local social e econômico para definição do que será ofertado.
Saiba mais...
Base Nacional é uma referência obrigatória