Ataques ao casario põem legado em risco

Publicação: 16/12/2017 03:00

Construções irregulares, abandono de imóveis, pichação e falta de preservação das fachadas do casario estão entre os problemas mais emblemáticos da Cidade Alta. O Iphan reconhece que a fiscalização na área tombada ainda é deficitária e que hoje o órgão conta com os próprios moradores para denunciar irregularidades.

A ocupação das encostas das ruas da Palha, Bertioga e Bispo Coutinho, além dos famosos “puxadinhos” no Amaro Branco e das reformas clandestinas, são as principais zonas de conflito no que tange à ocupação de terrenos dentro de uma área tombada. Para estreitar o diálogo com os moradores nesse sentido, a Prefeitura de Olinda está inaugurando na Rua do Amparo um escritório técnico de assistência arquitetônica, direcionado sobretudo à população de menor aquisitivo que resida dentro do perímetro do sítio histórico, que possui 1,2 mil imóveis tombados.

“Vamos oferecer apoio gratuito, com orientação de engenheiros e arquitetos especializados, que darão consultoria a profissionais particulares contratados pelos moradores”, explica o secretário de Patrimônio e Cultura de Olinda, Gilberto Sobral. O chefe do Escritório Técnico do Iphan em Olinda, Fernando Augusto Lima, diz que há poucos profissionais especializados em tombamento. “E existe uma cultura em Olinda de se realizar reformas sem autorização do Iphan. A obra acaba sendo embargada”.

Para a autônoma Erika Patrícia, 37 anos, que mora na Rua do Amparo, a iniciativa é bem-vinda porque os órgãos atuam apenas autuando ao invés de orientar e viabilizar. “Eu moro aqui desde criança e até hoje não sei exatamente qual intervenção eu posso fazer no meu imóvel”, afirmou. Outro problema que precisa de ser eliminado é a pichação. Utilizar a grafitagem para inibir a ação dos pichadores tem sido estudado como alternativa. Fernando Augusto, do Iphan, informou que o maior gargalo nesse sentido é a legislação, que não deixa claro se é ou não permitida a grafitagem em casario tombado.

“Há um estudo em andamento e depois haverá uma escuta social. A discussão é como criar possibilidades e flexibilizações”. Entre as propostas, está a autorização da grafitagem em ruas secundárias e nos imóveis mais recentes. O morador Nelson Guedes, 61, que nasceu no Alto da Sé, está fazendo pintura de fachada em seu imóvel localizado na Rua Prudente de Morais. Ele é um dos que deseja grafitar a figura do Homem da Meia-Noite na parede externa de sua casa. “Os pichadores respeitam o grafite e acho que o grafite valoriza o imóvel”, opinou.