Assassino de Maria Alice pega 35 anos Mestre de obras Gildo Xavier foi sentenciado a cumprir pena em regime fechado por sequestrar, estuprar, matar e ocultar o corpo da enteada de 19 anos

Publicação: 23/05/2018 09:00

O julgamento do mestre de obras Gildo da Silva Xavier, 35, acusado de sequestrar, estuprar, matar e ocultar o corpo da própria enteada, Maria Alice Seabra, 19, mudou a rotina de Itapissuma, na Região Metropolitana do Recife. Por falta de espaço no fórum, o júri popular ocorreu na Câmara de Vereadores. Mesmo assim, muita gente acompanhou do lado de fora. Por volta das 19h, após mais de dez horas de sessão, a juíza Fernanda Vieira Medeiros anunciou a sentença do réu, condenado a 35 anos em regime fechado. O resultado foi comemorado com fogos.

Maria Alice foi morta em 19 de junho de 2015. O assassino cumprirá pena no Presídio de Igarassu, onde aguardava julgamento há três anos. Gildo foi sentenciado a 17 anos e seis meses por homicídio qualificado, três anos e seis meses por sequestro com fins libidinosos, 12 anos por estupro e dois anos por ocultação de cadáver. O promotor Alexandre Saraiva havia pedido pena de 48 anos.

Durante o julgamento foram ouvidas três testemunhas de acusação: a mãe de Alice, Maria José de Arruda; a irmã da vítima, Maria Angélica de Amorim; e a delegada Gleide Ângelo, que investigou o caso. O corpo de jurados foi formado por sete mulheres. O acusado chorou durante seu depoimento. Ele negou ter estuprado Maria Alice ou amputado a mão e parte do braço esquerdo dela, que faltavam quando o cadáver foi encontrado, em decomposição, num canavial de Itapissuma.

O primeiro advogado a defender Gildo não convocou testemunhas de defesa. Após a saída dele, o defensor público Jânio Piancó assumiu o caso. Segundo ele, a defesa vai tentar diminuir as penas. “Ele foi ouvido três vezes na delegacia, todas desacompanhado de advogado. O estupro não foi comprovado pela perícia. A ocultação de cadáver também não está caracterizada porque não houve subtração do corpo”, argumentou.

Segundo o réu, houve uma discussão enquanto ele levava Maria Alice para uma suposta entrevista de emprego na empresa em que ele trabalhava. “Ela deixou de morar na nossa casa e eu toquei neste assunto porque queria que ela voltasse, mas ela começou a brigar comigo. Perdi a cabeça e dei três murros nela”, afirmou. Gildo disse que alugou um carro por R$ 300 em Goiana, no dia da morte de Maria Alice, colocou uma película escura nos vidros e deixou o corpo da jovem no canavial. “Quando eu vi que ela ficou desacordada, me desesperei, mas ela já estava sem respirar”, disse.

Cena de horror
A delegada Gleide Ângelo disse que encontrou o corpo com a calcinha e uma calça amarela (que o padrasto estava usando naquele dia), na altura do joelho, e a blusa levantada, deixando os seios à mostra. Apesar da descoberta dessa cena, Gildo nega o estupro e diz que um animal deve ter arrancado parte do corpo da vítima. “O laudo do IML mostra que o braço foi cortado por um instrumento. Ela tinha uma tatuagem no braço esquerdo, com o nome do pai, e ele achava que era de um namorado. E o estupro não é considerado só quando há conjunção carnal. No canavial tinham o sutiã rasgado, a calça que ele vestia e uma cueca dele”, disse Gleide.

“Esse foi o primeiro feminicídio que investiguei e eu não tinha a consciência sobre o machista, o agressor que mata a mulher. Agora consigo ver a forma simplista com que ele tinha um desejo sexual e, para satisfazê-lo, foi capaz de tudo”, comentou a delegada. O caso, no entanto, não foi classificado formalmente como feminicídio. “Quem cria desde os quatro anos já é pai e ele tinha o dever de cuidar. Com desculpa de arrumar um emprego, que era o sonho da jovem, ele a levou para a morte”, acrescentou a delegada.    

Ela acha que o crime foi premeditado, já que o acusado pediu dispensa do emprego naquele dia. A mãe da vítima confirmou a versão. “Há dois meses ele vinha prometendo um emprego a ela como recepcionista. Como ela estava procurando uma vaga, fiquei tranquila confiando nele”, diz. Para ter notícias da filha, Maria José de Arruda ligou para o então marido usando o celular da sogra. Maria Alice atendeu com gritos de socorro. “Ela disse ‘socorro, mamãe’. Logo depois ele mandou ela calar a boca e desligou. Sabia que a minha filha estava em perigo, mas não imaginei que o monstro fosse ele”, contou chorando.

A irmã de Alice, Maria Angélica de Amorim, 27, disse que o comportamento controlador que o padrasto demonstrava com a vítima se repetia com ela e a filha biológica dele. “Tudo tinha que ser do jeito dele. Ele brigava muito com a minha mãe. Tinha ciúme de mim e das minhas irmãs”, contou Angélica, que preferiu falar sem a presença do réu.