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A história da Rosa Linda
Pela primeira vez em 42 anos, a quadrilha mais tradicional de Paudalho e mais antiga de Pernambuco coloca uma jovem negra como noiva e levanta o debate sobre racismo
Marcionila teixeira | marcionila.teixeira@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 20/06/2018 03:00
A personagem mais importante da quadrilha Rosa Linda, no São João deste ano, é uma estudante negra. A escolha de Jennifer Kalyane dos Santos, 18 anos, não foi por acaso. Ela representará a primeira noiva negra da história da quadrilha, criada em Paudalho e a mais antiga de Pernambuco. São 42 anos de atividades consecutivas. A ideia é trazer para as festas de São João a discussão sobre o racismo.
A cada ano, a quadrilha escolhe um enredo para contar. “Desta vez, adaptamos para a realidade do Nordeste o conto de fadas da Cinderela. No nosso caso, a Cinderela é a noiva negra. Ela perde um dos sapatos durante o forró. Todo mundo imagina que o príncipe, um estudante branco, vai encontrar uma menina da mesma cor de pele no final, mas não é isso que acontece. O amor não tem cor”, resume Valquíria Gusmão, 40, uma das organizadoras.
Com esse roteiro inusitado, a tradicional Rosa Linda terminou virando símbolo de engajamento no combate ao racismo. O significado da quadrilha para os moradores de Paudalho vai além. Participar dos ensaios e apresentações também significa uma herança valiosa passada de pais para filhos. Jennifer entrou na quadrilha aos 14 anos. “Minha mãe conheceu meu padrasto lá dentro, dançando. Lá eu vivo todo tipo de sentimento positivo”, diz.
A quadrilha foi fundada em 20 de maio de 1976 por Elvira Gusmão, hoje com 78 anos. Ela era casada e estava grávida de Winderbug Gusmão, hoje à frente da quadrilha. Como todos os anos, ela comemorava o aniversário com festa e teve a ideia de algo diferente: montou uma quadrilha, chamou de Rosa Linda – que é o nome de um passo - e chamou os nove filhos e outros familiares para participar. Em dez anos, já atraía moradores do município para participar das apresentações.
Elvira ainda participa da organização da festa. “Sinto a quadrilha como se fosse uma filha. Enquanto viva estiver, ela continuará. Meu marido pediu para dar continuidade à Rosa Linda antes de morrer. A cada ano que passa, me emociono ainda mais quando vejo a apresentação. Penso se estarei viva no ano seguinte para ver tudo aquilo.”
A quadrilha vai se adaptando aos novos tempos para manter os jovens na brincadeira. Contrataram um coreógrafo. A ideia, no entanto, é deixar a apresentação com traços do passado, com alguns passos como “o túnel” e “olha a foto”, além de pouco brilho, cada vez mais comum nos outros grupos mais estilizados.
São 64 pessoas dançando. “Me encontrei na quadrilha. Eu era um jovem tímido, que não saia nem de casa. Quando vi o grupo pela primeira vez, a lágrima desceu. A Rosa linda é minha paixão”, diz Sueliton Félix, 23.
Um dos desejos da quadrilha é ser agraciada com o título Patrimônio Vivo, do governo do estado. A premiação, que consiste no pagamento de um salário mínimo por mês, daria folga financeira para colocar o grupo na rua. Além da subvenção da prefeitura, os integrantes organizam bingos, rifas e festas para arrecadar dinheiro para bancar o investimento. Enquanto Elvira estiver viva e a paixão pela Rosa Linda persistir com seus descendentes, a magia da quadrilha mais amada de Paudalho segue firme.
A cada ano, a quadrilha escolhe um enredo para contar. “Desta vez, adaptamos para a realidade do Nordeste o conto de fadas da Cinderela. No nosso caso, a Cinderela é a noiva negra. Ela perde um dos sapatos durante o forró. Todo mundo imagina que o príncipe, um estudante branco, vai encontrar uma menina da mesma cor de pele no final, mas não é isso que acontece. O amor não tem cor”, resume Valquíria Gusmão, 40, uma das organizadoras.
Com esse roteiro inusitado, a tradicional Rosa Linda terminou virando símbolo de engajamento no combate ao racismo. O significado da quadrilha para os moradores de Paudalho vai além. Participar dos ensaios e apresentações também significa uma herança valiosa passada de pais para filhos. Jennifer entrou na quadrilha aos 14 anos. “Minha mãe conheceu meu padrasto lá dentro, dançando. Lá eu vivo todo tipo de sentimento positivo”, diz.
A quadrilha foi fundada em 20 de maio de 1976 por Elvira Gusmão, hoje com 78 anos. Ela era casada e estava grávida de Winderbug Gusmão, hoje à frente da quadrilha. Como todos os anos, ela comemorava o aniversário com festa e teve a ideia de algo diferente: montou uma quadrilha, chamou de Rosa Linda – que é o nome de um passo - e chamou os nove filhos e outros familiares para participar. Em dez anos, já atraía moradores do município para participar das apresentações.
Elvira ainda participa da organização da festa. “Sinto a quadrilha como se fosse uma filha. Enquanto viva estiver, ela continuará. Meu marido pediu para dar continuidade à Rosa Linda antes de morrer. A cada ano que passa, me emociono ainda mais quando vejo a apresentação. Penso se estarei viva no ano seguinte para ver tudo aquilo.”
A quadrilha vai se adaptando aos novos tempos para manter os jovens na brincadeira. Contrataram um coreógrafo. A ideia, no entanto, é deixar a apresentação com traços do passado, com alguns passos como “o túnel” e “olha a foto”, além de pouco brilho, cada vez mais comum nos outros grupos mais estilizados.
São 64 pessoas dançando. “Me encontrei na quadrilha. Eu era um jovem tímido, que não saia nem de casa. Quando vi o grupo pela primeira vez, a lágrima desceu. A Rosa linda é minha paixão”, diz Sueliton Félix, 23.
Um dos desejos da quadrilha é ser agraciada com o título Patrimônio Vivo, do governo do estado. A premiação, que consiste no pagamento de um salário mínimo por mês, daria folga financeira para colocar o grupo na rua. Além da subvenção da prefeitura, os integrantes organizam bingos, rifas e festas para arrecadar dinheiro para bancar o investimento. Enquanto Elvira estiver viva e a paixão pela Rosa Linda persistir com seus descendentes, a magia da quadrilha mais amada de Paudalho segue firme.