DIARIO NOS BAIRROS » O balneário mais famoso do século 19 A Casa de Banhos do Recife, inaugurada na década de 1880, ajudou a aproximar o recifense do mar

Publicação: 24/08/2018 03:00

Antes de pertencer à Brasília Teimosa, a área dos arrecifes que liga o bairro ao Parque das Esculturas era ocupada por endinheirados que seguiam a tradição europeia de tomar banho de mar para curar doenças e mostrar status social. A Casa de Banhos do Recife, inaugurada na década de 1880, representou a aproximação do recifense com o mar. Até então, o costume era se banhar nas águas dos rios. Hoje, o local ocupado pela antiga Casa de Banhos se resume a uma placa enferrujada que conta parte da história do balneário e pedaços de concreto do trecho onde existia uma piscina.

Para construir a Casa de Banhos, o empresário Carlos José de Medeiros precisou de uma autorização especial do governo. Um edital para convocar empreendedores interessados em construir um estabelecimento para banhos terapêuticos foi lançado pelo governo de Pernambuco nos anos 1870. Não houve interesse por parte dos investidores no anúncio, que foi publicado novamente uma década depois. O empreendimento com dois terraços, um voltado para o Rio Capibaribe e outro para o oceano Atlântico, foi inaugurado na década de 1880.

A pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) Rita de Cássia explica que o contexto de instalação do Grande Estabelecimento Balneário de Pernambuco era a modernização da cidade do Recife e a diversificação das ocupações urbanas. “Os banhos ao ar livre começaram nos rios Capibaribe e Beberibe, refúgios da classe média e da elite. É importante lembrar que é a época de uma sociedade escravocrata”, esclarece. “(O banho de mar) começou com a questão medicinal (estudos europeus apontavam para a importância da água salgada para curar doenças), mas se transformou em questão de status, lazer e modo de vida”, completa a historiadora.

Apesar de o edital lançado pelo governo de Pernambuco mencionar a democratização do acesso da população ao mar, a Casa de Banhos era um espaço frequentado pela burguesia recifense. Os banhos custavam quinhentos réis para entrada única e dez mil réis para mensalistas, incluindo a passagem de ida e volta em um barco. Família com mais de cinco membros tinham desconto de 20% nas assinaturas. Trajes de banho podiam ser alugados por 300 réis para mensalistas e 500 réis para não assinantes.

Em 1920, os primeiros sinais de decadência do balneário começaram a aparecer. Frequentadores reclamavam da falta de grades no lado exterior do tanque sul, trazendo insegurança para “as senhoras e as pessoas que não sabiam nadar”. Até 1924, quando destruído por um incêndio, o local, além dos banhos terapêuticos, oferecia comida farta e chás dançantes. Era possível ainda pernoitar no local. “Festas e banquetes voltado para a classe burguesa aconteciam lá. A recomendação de atividades ao ar livre e de banhos solares começou a ser feita no contexto do higienismo (doutrina que nasceu na primeira metade do século 19, quando governantes começaram a dar maior atenção à saúde dos habitantes das cidades)”, diz Rita.

A Casa de Banhos voltou a funcionar em 1997 como um bar próximo ao Parque das Esculturas. O estabelecimento fechou as portas em outubro de 2016, quando a Justiça Federal concedeu seis meses de prazo para o ponto turístico voltar a funcionar com licença ambiental e autorização do Porto do Recife. Desde então, não voltou a abrir. A decisão da Justiça atendia a uma ação civil pública do Ministério Público Federal (MPF) .