3 perguntas - Abby Moreira Guarda municipal

Publicação: 15/09/2018 03:00

Como foi seu processo de identificação como mulher trans?
Eu nunca fui homem. Apesar do meu sexo biológico ser masculino, nunca me vi ou me aceitei dessa forma. Comecei a identificar meu gênero em contrário com minha condição biológica aos 4 anos. Tinha uma irmã, já falecida. Eu pegava suas roupas e usava. Como minha irmã tinha um tumor no cérebro, todas as atenções eram para ela. Ninguém dava muita importância a um menininho usando calcinha ou vestido. Minha família, se um dia notou, pensou ser coisa de criança. Não passava pela cabeça de ninguém que eu era uma criança transgênero.

Conta um pouco de seu trabalho.

A questão do emprego era e é uma realidade cruel para as mulheres trans. Somos rotuladas, violentadas psicologicamente, ridicularizadas. Na Guarda não seria diferente. Mas o preconceito que enfrentei foi velado, silencioso.

Como foi o processo cirúrgico?
Passar pelo sofrimento de várias cirurgias é uma necessidade  além da estética. É saúde. É uma forma de readequarmos nosso corpo à nossa mente. Sempre faço uma analogia. Imagine você mulher, satisfeita com sua condição e seu corpo. Agora imagina se alguém te obrigasse a retirar os seios, trocar sua genitália e a viver com um corpo e aparência completamente oposta daquilo que se via e onde você se sentia realizada.É isso que sentimos desde que nascemos. A minha voz era algo que me incomodava tanto quanto meu corpo.

Qual expectativa com a nova voz?

Sonho ser quem eu sou. Me tocar. Me ouvir. Ninguém merece sofrer tanto. Sou punida sem cometer crime. Quero apenas ser feliz.