Os 23 anos da Escola Pernambucana de Circo Fundada em 1996, a EPC atende por ano cerca de 100 crianças e adolescentes da Zona Norte do Recife

Patrícia Monteiro
Especial para o Diario

Publicação: 04/02/2019 03:00

Entre malabarismos, acrobacias, palhaçaria e muito compromisso social, equilibra-se com maestria um dos maiores projetos socioculturais do Nordeste, e mesmo do Brasil: a Escola Pernambucana de Circo (EPC). A organização não-governamental, criada no Recife no ano de 1996 pela ação de um grupo de artistas e educadores sociais, completa 23 anos de atuação em 2019. O time tem como premissa a Pedagogia do Circo Social. O método utiliza técnicas circenses para abrir espaço à reflexão e ao fortalecimento das relações humanas. As atividades são gratuitas e abertas ao público.

De acordo com a coordenadora executiva da EPC, Fátima Pontes, o circo social não trata apenas de oferecer oficinas circenses para pessoas em situação de vulnerabilidade, mas é também uma forma de se colocar no mundo. “Aqui traçamos uma linha de expressão com nossa identidade cultural e como todas as abordagens que podemos ter de nossa realidade social”, destacou.

Um dos pilares bases da Escola Pernambucana de Circo é o projeto Brincar e Aprender para Crescer com Você, realizado por meio de convênio com o Conselho Municipal de Defesa e Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente do Recife (COMDICA), destinado a crianças dos 6 aos 10 anos e adolescentes dos 11 aos 15. O objetivo é que, por meio das aulas de circo, eles exercitem o trabalho coletivo, estimulem a criatividade e alimentem sua autoestima. Durante todo o ano, dedicam-se às aulas de acrobacia de solo e aérea, equilíbrio e malabares, bem como jogos de integração de grupo, brincadeiras populares e outras linguagens artísticas. As aulas são gratuitas, regulares e à tarde, das 14h às 17h. Sempre as segundas e quartas para as crianças e terças, quintas e sextas para os adolescentes.

O circense Bruno Luna foi um dos que passaram por este processo aos 12 anos. Hoje, aos 29, é artista da Trupe Circus e educador. Ele conta que conheceu a instituição quando ela chegava ao bairro do Burity, por meio de um amigo. Começou a fazer aulas de equilíbrio e, depois, encantou-se com os malabares. Em 2004, foi convidado para participar do seu primeiro espetáculo de grande porte, O Vendedor de Caranguejo. “Participar da rotina de treinos com os artistas representou mais responsabilidade, mas isto não me assustou. Pelo contrário, me atraiu ainda mais e me fez crescer artística e emocionalmente”, conta. Em 2010, recebeu o convite para fazer parte do quadro de educadores. “Eu não sabia o quanto era maravilhoso passar nossos conhecimentos, lidar com as particularidades e o tempo de cada um, ensinar sobre respeito, sobre a possibilidade de o educando ser protagonista da sua vida, ter seu espaço de fala e direito de ser ouvido. Com o tempo, alguns deles cresceram, viraram amigos de trabalho e podemos trocar muito um com o outro”, disse Bruno.

Em 23 anos de atividade, a EPC atua em diversos nichos das artes circenses. Do atendimento pedagógico à construção de espetáculos circenses já são mais de 10 espetáculos montados. “Toda e qualquer ação nossa tem um objetivo direcionado à reflexão de algum tema que afete socialmente. Isto se faz no atendimento às crianças e adolescentes e nos espetáculos”, revelou Fátima Pontes.