Inclusão digital dá voz para quem não sabe ler e escrever
Analfabetismo funcional não afasta brasileiros das mídias: 86% usam WhatsApp, 72% estão no Facebook e 31% acessam o Instagram
ANAMARIA NASCIMENTO
anamaria.nascimento@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 17/02/2020 03:00
O toque estridente no celular de Ivaneide Silva, 51 anos, revela que chegou um áudio pelo WhatsApp. Moradora do Pilar, comunidade do Bairro do Recife, ela não consegue ler textos enviados, mas usa assiduamente o aplicativo. Além de se comunicar com os filhos e amigas pelo “zap”, como chama, mantém um perfil no Facebook, onde vê fotos e curte publicações. Não saber ler ou ser analfabeto funcional não afasta os brasileiros das mídias digitais. A última edição do Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf), estudo feito em parceria pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa, revelou que, mesmo com dificuldades, os analfabetos funcionais são usuários frequentes das redes sociais. Entre eles, 86% se comunicam pelo WhatsApp, 72% têm perfil no Facebook e 31% acessam o Instagram.
A décima edição da pesquisa, realizada desde 2001, entrevistou 2 mil pessoas entre 15 e 64 anos, residentes em zonas urbanas e rurais de todas as regiões do país. Quase um terço dos brasileiros ouvidos têm limitação para ler, interpretar textos, identificar ironia e fazer cálculos simples. São considerados analfabetos funcionais. “Identificamos um grupo grande de pessoas que, mesmo com dificuldades, está nas redes sociais. São usuários de diversas ferramentas e se comunicam não só por áudio, mas também pela escrita. Concluímos que as redes sociais funcionam como um meio de inclusão”, afirma o coordenador executivo adjunto da Ação Educativa, Roberto Catelli.
O uso das redes, entretanto, é limitado entre os analfabetos funcionais. Desses, apenas 12% enviam mensagens escritas e escrevem comentários em posts do Facebook, por exemplo. Entre os entrevistados com nível de alfabetização proficiente - isto é, os que elaboram textos, interpretam tabelas e gráficos mais complexos e resolvem situações-problema -, 44% enviam mensagens escritas e 43% redigem comentários em publicações. “As redes sociais também são um ambiente com limitações. Observamos um avanço, mas a presença nos meios digitais não basta. Estamos falando de pessoas que não conseguem ler textos do cotidiano, como placas de rua, folhetos de supermercado e orientações no mercado de trabalho”, pontua Catelli.
A dona de casa Maria Miron, 66, reconhece que, apesar de trocar mensagens no WhatsApp, tem dificuldades de ler textos com mais de três frases. Ela começou a estudar pela primeira vez com mais de 60 anos e cursa o módulo dois - equivalente à antiga primeira série - na Escola Municipal de Dois Rios, no Ibura, no Recife. “Aprendi a ler, estou reconhecendo as letras e palavras, mas ainda não consigo entender textos maiores. Daqui para o fim do ano, tenho fé que poderei receber mensagens em texto e não só áudio no celular.”
Para o Inaf, alfabetismo é a capacidade de compreender e utilizar a informação escrita e refletir sobre ela, “um contínuo que abrange desde o simples reconhecimento de elementos da linguagem escrita e dos números até operações cognitivas mais complexas, que envolvem a integração de informações textuais e dessas com os conhecimentos e as visões de mundo aportados pelo leitor”. Escolaridade, portanto, não garante a todos o nível de alfabetismo esperado. “Estudei, mas tenho dificuldade de ler textos grandes e entender o que estão dizendo. Por isso, prefiro mandar áudio (no WhatsApp)”, diz a auxiliar de cozinha Roseane Lima, 41 anos.
Um dos riscos que as pessoas com baixo nível de alfabetização no meio digital correm é a vulnerabilidade à desinformação, segundo a pesquisadora na área de letramento digital Roberta Caiado. “O analfabeto digital pode até ter nível elevado de escolarização e ser considerado letrado, porém não se apropriou das vantagens que as tecnologias do ler e do escrever na tela proporcionariam; não conseguem identificar uma fake news, não entendem um meme, por exemplo.”
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Analfabetos funcionais, leitura e internet
A décima edição da pesquisa, realizada desde 2001, entrevistou 2 mil pessoas entre 15 e 64 anos, residentes em zonas urbanas e rurais de todas as regiões do país. Quase um terço dos brasileiros ouvidos têm limitação para ler, interpretar textos, identificar ironia e fazer cálculos simples. São considerados analfabetos funcionais. “Identificamos um grupo grande de pessoas que, mesmo com dificuldades, está nas redes sociais. São usuários de diversas ferramentas e se comunicam não só por áudio, mas também pela escrita. Concluímos que as redes sociais funcionam como um meio de inclusão”, afirma o coordenador executivo adjunto da Ação Educativa, Roberto Catelli.
O uso das redes, entretanto, é limitado entre os analfabetos funcionais. Desses, apenas 12% enviam mensagens escritas e escrevem comentários em posts do Facebook, por exemplo. Entre os entrevistados com nível de alfabetização proficiente - isto é, os que elaboram textos, interpretam tabelas e gráficos mais complexos e resolvem situações-problema -, 44% enviam mensagens escritas e 43% redigem comentários em publicações. “As redes sociais também são um ambiente com limitações. Observamos um avanço, mas a presença nos meios digitais não basta. Estamos falando de pessoas que não conseguem ler textos do cotidiano, como placas de rua, folhetos de supermercado e orientações no mercado de trabalho”, pontua Catelli.
A dona de casa Maria Miron, 66, reconhece que, apesar de trocar mensagens no WhatsApp, tem dificuldades de ler textos com mais de três frases. Ela começou a estudar pela primeira vez com mais de 60 anos e cursa o módulo dois - equivalente à antiga primeira série - na Escola Municipal de Dois Rios, no Ibura, no Recife. “Aprendi a ler, estou reconhecendo as letras e palavras, mas ainda não consigo entender textos maiores. Daqui para o fim do ano, tenho fé que poderei receber mensagens em texto e não só áudio no celular.”
Para o Inaf, alfabetismo é a capacidade de compreender e utilizar a informação escrita e refletir sobre ela, “um contínuo que abrange desde o simples reconhecimento de elementos da linguagem escrita e dos números até operações cognitivas mais complexas, que envolvem a integração de informações textuais e dessas com os conhecimentos e as visões de mundo aportados pelo leitor”. Escolaridade, portanto, não garante a todos o nível de alfabetismo esperado. “Estudei, mas tenho dificuldade de ler textos grandes e entender o que estão dizendo. Por isso, prefiro mandar áudio (no WhatsApp)”, diz a auxiliar de cozinha Roseane Lima, 41 anos.
Um dos riscos que as pessoas com baixo nível de alfabetização no meio digital correm é a vulnerabilidade à desinformação, segundo a pesquisadora na área de letramento digital Roberta Caiado. “O analfabeto digital pode até ter nível elevado de escolarização e ser considerado letrado, porém não se apropriou das vantagens que as tecnologias do ler e do escrever na tela proporcionariam; não conseguem identificar uma fake news, não entendem um meme, por exemplo.”
Saiba mais
Analfabetos funcionais, leitura e internet
- 41% usaram internet nos últimos três meses
- 86% estão no WhatsApp
- 72% têm perfil no Facebook
- 31% têm conta no Instagram
- 12% acessam o Twitter
- 17% leram livros de literatura nos últimos três meses
- 8% usam o Skype
- 7% mantêm perfil no Snapchat
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2 perguntas // Roberta Caiado