Após pressão, Enem é adiado Uma nova data para o exame será escolhida entre 30 e 60 dias após a que estava prevista nos editais. As inscrições poderão ser feitas até 22 de maio

Publicação: 21/05/2020 03:00

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) confirmou ontem que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, que seria realizado em novembro deste ano, foi adiado. A decisão foi comemorada por alunos e professores pernambucanos, que temiam o impacto da pandemia do novo coronavírus nos resultados obtidos na principal prova do país, responsável pelo ingresso dos estudantes de ensino médio em universidades.

Ouvindo os pedidos de diversas instituições educacionais, uma nova data será escolhida entre 30 e 60 dias após a que estava prevista nos editais. As inscrições também foram ampliadas e poderão ser feitas até o dia 22 de maio. “Sempre fomos unânimes pelo adiamento. Quem é educador deve ter sensibilidade social e empatia pelos estudantes. Mudar a data é o mínimo, seria um absurdo manter o calendário quando os alunos não estão tendo as mesmas condições de ensino. Escolas particulares conseguiram, depois de muito esforço, entrar no universo on-line, mas muitas escolas públicas não conseguem passar seus conteúdos remotamente”, diz o diretor do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de Pernambuco e diretor pedagógico do Colégio DOM, Arnaldo Mendonça.  

“Eu achei ótimo. Disponibilizamos aulas e materiais on-line, mas sabemos que muitos dos nossos alunos não têm boa qualidade de conexão. Chegávamos a arriscar nossas vidas saindo das nossas casas para deixar conteúdo para eles na escola e eles, por sua vez, também se colocavam em risco para ir buscar. Vencemos uma batalha”, comentou a professora Mariza Hermes, que leciona matemática na Escola de Referência Mariano Teixeira.

Karin Vitória, de 16 anos, é uma das alunas de Mariza e também é favorável a mudança de calendário. “Graças a Deus consigo assistir aulas on-line, meus professores ficam disponíveis e faço cursinho, mas sei de muitos colegas de escolas públicas que não têm a mesma oportunidade. Estou segura quanto ao conteúdo, mas o sentimento é de angústia pelo que ainda está por vir”, disse a aluna que tentará medicina.  

Assim como Karin, Giovanna Arcoverde também concorrerá pelo curso em Saúde. Aluna do Santa Maria, ela disse que a nova data ajudou a acalmar um pouco a ansiedade. “Achei bastante respeitosa a decisão de adiar a prova. O processo do vestibular não é fácil para ninguém e esse distanciamento social complica ainda mais. Temos que levar em consideração que somos seres humanos e, desta maneira, somos sociáveis. A falta de contato com outras pessoas mexe muito com o nosso psicológico e com o nosso emocional, que deve estar em equilíbrio para a prova”, revelou a aluna de 17 anos.  

Professores e alunos do Colégio Dom acreditam na qualidade do ensino que está sendo oferecido on-line, mas também veem o Enem deste ano como um desafio. “No nosso colégio já tínhamos algumas aulas remotas, mas agora toda a grade deve ser passada deste modo, ainda não sabemos o que esperar como resultado”, disse o coordenador pedagógico Genildo Júnior. “A decisão não é somente benéfica como necessária. A preparação on-line é diferente, são aulas menos interativas e mais rápidas. Um processo que exige muito mais concentração dos alunos, que não possuem mais intervalos ou contatos com os outros estudantes”, apontou José Vitor de Carvalho, de 16 anos, que tentará Enem para Ciência da Computação.  

INTERNET
Se esse é um momento novo para os alunos, para os docentes exigiu ainda mais a reinvenção. “As aulas on-lines são complicadas, foi uma mudança que teve de ser feita de forma muito rápida. No momento estou concedendo entrevista com meu filho de um ano no braço, após terminar uma aula e continuo atendendo alunos pela internet. Nada é melhor para um aluno do que o olho no olho e a interação em sala. Onde recebem mais atenção de professores e colegas”, comentou o professor de inglês do Colégio Fazer Crescer, Kerley Muniz. “A mudança gerou alívio. As aulas remotas não são a mesma coisa, confesso que estava na torcida para que essa decisão saísse. Queremos mais tempo de aula presencial para preparar nossos alunos”, revelou Amenaide Pessoa, coordenadora do Ensino Médio da mesma instituição.

Em 26 anos lecionando no colégio Santa Maria, o professor de química e coordenador das turmas ITA-IME Robson Villar nunca enfrentou dificuldade parecida, mas ainda acredita que o momento é de esperança, mesmo em meio às dificuldades. “Essa é uma situação ímpar. As mudanças são usualmente acompanhadas de expectativas e incertezas, mas devemos procurar tirar o melhor possível delas. Com o adiamento ganharemos um pouco mais de tempo para atendermos os alunos e assim qualificá-los ainda mais para enfrentar o Enem”, comentou. “É preciso não desanimar. A vitória é um precioso bem que pertence àqueles que nela acreditam por mais tempo. Esse momento difícil que estamos vivendo irá passar.”