Recife: faltam ruas para tantos carros Dados da CTTU indicam em números o que as vias já mostram: em 10 anos, medidas de mobilidade não acompanharam aumentos das frotas

Marcelle Reis

Publicação: 04/03/2024 03:00

Uma das maiores certezas de quem mora no Recife e precisa se locomover pela cidade é que, em algum momento do dia, vai ter que enfrentar um engarrafamento.  Para tentar entender esse problema, é preciso observar uma informação oficial. Segundo a Prefeitura, em dez anos, o número de carros cresceu 26% e o de motos, 56%. Nesse período, a cidade não acompanhou esse crescimento da frota com a abertura de vias suficientes nem adotou mecanismos de engenharia capazes de facilitar a mobilidade.

Resultado da equação: tem muito veículo para pouca rua. Por isso, os chamados “nós” no trânsito fazem parte da rotina de motoristas, passageiros de ônibus e de transportes por aplicativo e táxis.  Esses “gargalos” pioram nos horários de pico e acabam dificultando o trajeto devido ao grande fluxo de veículos.

Alguns locais já são famosos e inclusive citados pelas pessoas que os utilizam ou desviam dele, por já conhecer as retenções.

Pontos como, a Avenida Conselheiro Rosa e Silva em cruzamento com a Rua do Futuro, Rua Cônego Barata, Avenida Abdias de Carvalho em ambos os sentidos, Avenida Agamenon Magalhães, Avenida Antônio de Góis e Avenida Caxangá ,entre outros, são locais que normalmente têm bloqueios rotineiros nos horários de pico ou dias de chuva, que causam alagamentos.

Engenheiro civil e especialista em mobilidade, Stênio Cuentro pontua os principais problemas do trânsito do Recife, que segundo ele têm três origens.

“Em 1998, a diretoria de engenharia do Detran já havia feito uma proposta de cerca de 25 intervenções para melhorar a fluidez, porque o que ocorre é que você, às vezes, tem que se deslocar até um determinado ponto onde tem uma ponte e um pontilhão para cruzar um canal. Quem vem pela avenida Rui Barbosa e vai em direção a Olinda. Há uma quantidade enorme de veículos que vai até o Parque Amorim para, de lá, pegar em direção a Olinda. Esse mesmo volume de carros se cruzasse pela Rua Amélia, saindo da Rui Barbosa, pegaria a esquerda na rua Amélia, chegaria até a Agamenon Magalhães e se ali tivesse um pontilhão com um semáforo, boa parte dos veículos sairia do Parque Amorim e iria fazer o novo itinerário por cima de um pontilhão no canal Derby Tacaruna em direção Olinda’’.

Para o consultor de empresas e urbanista, Francisco Cunha, um dos caminhos é ampliar o conceito de tráfego de veículos motorizados para a mobilidade de pessoas.

“Precisamos considerar os outros modos de deslocamento, para além do individual motorizado, que é feito por carros e motos, que são os modos de deslocamento que compõem o que a gente pode chamar de mobilidade sustentável, que são a pé, de bicicleta e por meio de transporte público. Esses modelos são responsáveis pelo deslocamento de mais de dois terços das pessoas que se locomovem por dia nas cidades brasileiras’’.

O Diario de Pernambuco tentou contato com a assessoria de comunicação da CTTU para obter dicas de melhorias de trânsito. No entanto, a Prefeitura informou que se comunicaria por nota.