Tapetes de buracos, lama e transtornos Asfaltar rua em que mora é o sonho de muitos moradores do Recife, obrigados a enfrentar dissabores como poças de lama na porta de casa

Adelmo Lucena

Publicação: 21/10/2024 03:00

Turistas e até mesmo moradores da capital pernambucana que costumam passar pelos principais pontos da cidade todos os dias estão acostumados a lidar com ruas e avenidas asfaltadas, sinalizadas e com calçadas organizadas. Mas esta não é a realidade de todos que vivem no Recife, que ainda falta calçar diversas ruas, mesmo sendo a capital do estado.

Com a vassoura e pá nas mãos para limpar a terra que acaba entrando em casa, Maria Benedita, de 64 anos, moradora da Rua Carlos Rios, na Imbiribeira, Zona Sul do Recife, espera há dez anos que a via seja pavimentada. Os vizinhos anseiam o mesmo e, ao verem as ruas ao redor asfaltadas, ficam na expectativa de que o serviço da prefeitura também chegue para eles.

“A prefeitura diz que vai calçar a rua e não calça. Muitas ruas aqui não são calçadas. É muita poeira aqui, o vizinho estava limpando a calçada dele agora há pouco e acabou de entrar. Quando chove, fica cheio de poças de água. Todos rezam para que essa rua seja calçada. No começo desse ano alguns funcionários da prefeitura vieram aqui e disseram que iam calçar. Até disse que vou morrer sem ver essa rua calçada”, relata.

A assistente administrativa Cristina Sobral, de 49 anos, morou por 35 anos na Rua 5 de Maio, no bairro da Imbiribeira, Zona Sul do Recife, e nunca viu o local ser calçado. Ela cresceu na localidade junto com os pais, que vivem lá há 50 anos, enfrentando diariamente os problemas de infraestrutura.

De acordo com ela, os moradores já se mobilizaram para tentar resolver o problema por conta própria, colocando tijolos com cimento para amenizar os prejuízos. Ela relata, ainda, que um vizinho idoso sofreu um acidente na rua onde mora. “Meu vizinho caiu em um dia de chuva. A rua estava cheia de lama e ele acabou escorregando e caindo. Nesse acidente ele fraturou a mão”, detalha.

BAIRROS NOBRES

A falta de pavimentação também afeta os bairros nobres, como Boa Viagem, onde a Rua Joaquim Bandeira destoa do entorno. A via, que só tem barro, está cercada por ruas asfaltadas, como a General Mac Arthur.

Por lá, os problemas são antigos e até uma página foi criada no Facebook por moradores indignados com a situação. O perfil mostrava quase diariamente os problemas enfrentados pelos moradores da localidade, que até hoje precisam lidar com diversos buracos, lama e acúmulo de poças bem em frente aos portões das casas. Segundo o que foi postado na página, a construção da Via Mangue piorou ainda mais os alagamentos na rua que já sofria com este problema.

“As entidades começam a permeabilizar a área com as construções e isso, de certo modo, dificulta escoamento da água. Então o que eu proponho é projetar os dispositivos de drenagem para fazer com que estas águas sejam disciplinadas, considerando a gravidade. Ou seja, coloca-se a água no ponto mais alto para ela ser disciplinada para um ponto mais baixo e seja destinada para um outro local. Na via urbana, há situações planas em que não se consegue destinar essas águas com a velocidade requerida. Para estes casos tem que pensar em algumas alternativas como a construção de reservatórios”, explica o mestre em engenharia civil e consultor de pavimentação Fabiano Pereira.