O impacto da falta de saneamento no SUS Estudo mostra que, em 2024, Pernambuco registrou 8 mil internações por doenças derivadas dos problemas no saneamento básico

Larissa Aguiar

Publicação: 22/03/2025 03:00

A comunidade Caranguejo Tabaiares é um exemplo da precariedade do sistema (FRANCISCO SILVA/DP FOTO)
A comunidade Caranguejo Tabaiares é um exemplo da precariedade do sistema
Os problemas em relação ao abastecimento de água e saneamento básico em Pernambuco continuam a ser um grave problema de saúde pública, impactando diretamente a população mais vulnerável e sobrecarregando o Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo um estudo do Instituto Trata Brasil, em parceria com a EX Ante Consultoria, mostrou que, em 2024, o estado registrou pouco mais de 8 mil casos de internações resultantes das Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI), desembolsando, em média, R$ 861,25 por cada uma.

Em todo o país, o número de internações chegou a 344,4 mil, gerando uma despesa de R$ 174,3 bilhões. No conjunto dessas doenças, se destacam aquelas causadas por transmissão feco-oral, como diarreia, hepatite A e febre tifoide. Os dados do estudo mostram ainda que o Nordeste, nesse caso, é uma das regiões mais afetadas do país, com 77% das internações por DRSAI derivadas desse problema.

GRUPOS
Os outros grupos de DRSAI são aquelas transmitidas por inseto vetor, como a dengue, febre amarela, malária; as transmitidas através do contato com a água, como esquistossomose e leptospirose; doenças relacionadas com a falta de higiene, como conjuntivite e dermatofitoses; e, por fim, geohelmintos e teníases como ascaridíase, e cisticercose.

No estado, a taxa de incidência de internações por doenças de transmissão feco-oral, que ficou em mais de 6 mil no ano passado, é alarmante, especialmente entre crianças de 0 a 4 anos e idosos, que representam 43,5% das hospitalizações.

Os óbitos por essas doenças também são motivo de preocupação. Em 2023, ano de referência mais atual do estudo nesse quesito, o país registrou 11.544 mortes relacionadas ao saneamento inadequado. No Nordeste, foram 3.305 óbitos. E, na região, a Bahia ficou em primeiro lugar, com 1.135 mortes; Pernambuco em segundo, com 582 e Ceará em terceiro com 391 óbitos.

POPULAÇÃO
Os dados também revelam que as populações mais atingidas pelas DRSAI são as de menor posição socioeconômica, mulheres, crianças, idosos e grupos étnico-raciais vulneráveis. Em Pernambuco, a falta de saneamento impacta diretamente comunidades quilombolas e indígenas, além das populações de bairros periféricos, onde a infraestrutura básica é precária ou inexistente.

As mulheres, além de serem as mais atingidas diretamente pelas doenças, também carregam o peso de cuidar dos familiares doentes, o que impacta suas oportunidades de emprego e geração de renda. Crianças pequenas, devido ao sistema imunológico mais frágil, são especialmente vulneráveis, registrando altas taxas de internação e mortalidade.

O estudo estima que a universalização do saneamento geraria uma economia de aproximadamente R$ 49,9 milhões por ano para o SUS. Em Pernambuco, o governo calcula que sejam necessários R$ 30 bilhões em investimentos para a universalização dos serviços de abastecimento de água e acesso ao esgoto até 2033. Os recursos deverão vir também da concessão dos serviços da Compesa.