Especialista fala sobre os riscos do Mounjaro Bastante falado nos últimos anos, o medicamento começa a ser comercializado no Brasil esta semana, mas com uso controlado. Preço é elevado

LARISSA AGUIAR

Publicação: 12/05/2025 03:00

O medicamento deverá ser vendido por até R$ 2,4 mil (JAKUB PORZYCKI/AFP)
O medicamento deverá ser vendido por até R$ 2,4 mil
O Mounjaro, medicamento injetável aprovado no Brasil para o tratamento do diabetes tipo 2, começa a ser comercializado nas farmácias brasileiras a partir da próxima a quinta-feira (15). Com preços que podem ultrapassar os R$ 2 mil e potencial para promover perda de peso significativa, o fármaco chega cercado de expectativas, especialmente entre consumidores que visam à estética corporal. No entanto, especialistas alertam para os riscos do uso indiscriminado, automedicação e efeitos adversos quando utilizado sem supervisão médica.

Popularmente conhecido como “Ozempic dos ricos”, o Mounjaro traz como princípio ativo a tirzepatida, substância que atua como agonista duplo dos hormônios GLP-1 e GIP — diferentemente do Ozempic, que simula apenas o GLP-1. Essa combinação proporciona maior eficácia na perda de peso e no controle glicêmico, o que vem despertando o interesse de pessoas sem diagnóstico de diabetes ou obesidade. O uso do medicamento para fins estéticos ainda não é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e é considerado off-label.

Estudos recentes demonstram que o Mounjaro pode promover perda de até 25% do peso corporal após 20 meses de uso, superando os índices do Ozempic. Essa eficácia, no entanto, vem acompanhada de um custo elevado: as versões de 2,5 mg e 5 mg, que serão as primeiras a chegar ao país, terão preços entre R$ 1.400 e R$ 2.400, dependendo da dose, local de compra e participação no programa de suporte ao paciente da fabricante.

A endocrinologista Renata Paiva detalhou os efeitos, indicações, riscos e orientações para o uso responsável do Mounjaro. “É uma medicação potente e não um cosmético”.

FUNCIONAMENTO
“A tirzepatida é uma molécula que age simulando duas substâncias que o nosso intestino produz quando comemos: GLP-1 e GIP. Elas comunicam ao pâncreas que a glicose está chegando, estimulando a liberação de insulina e inibindo o hormônio glucagon, que eleva a glicemia”, explica Paiva. “No cérebro, esses hormônios desligam o interruptor da fome e ligam o da saciedade. A pessoa sente-se satisfeita mais rápido e por mais tempo.”

No Brasil, apesar do uso do medicamento ser restrito ao tratamento de diabetes tipo 2, seu uso para perda de peso já é uma realidade em consultórios, especialmente entre pacientes com obesidade ou excesso de adiposidade. “É importante lembrar que o uso estético, sem diagnóstico de obesidade ou diabetes, é inadequado e pode trazer riscos sérios à saúde”, alerta a médica.

Renata Paiva aponta que os efeitos colaterais mais comuns estão relacionados ao sistema gastrointestinal: náuseas, diarreia, constipação e desconforto abdominal. “Esses sintomas tendem a desaparecer com o tempo, mas há outros riscos que merecem atenção, como perda de massa muscular, hipoglicemia e interferência na absorção de medicamentos orais, como anticoncepcionais.”

O perigo maior, segundo a endocrinologista, está na automedicação. “O uso indiscriminado pode levar ao chamado efeito sanfona, perda de massa magra e piora da composição corporal a longo prazo. É uma medicação poderosa, que exige acompanhamento multidisciplinar”. A médica também ressalta que o medicamento é contraindicado para gestantes, pessoas com histórico familiar de carcinoma medular da tireoide, e pacientes com neoplasias endócrinas múltiplas.

MEDIDAS

Para conter o uso sem prescrição, a Anvisa passou a exigir a retenção da receita médica para a compra de medicamentos agonistas de GLP-1, como o Mounjaro e o próprio Ozempic. “Essa é uma medida importante”, avalia Paiva. “Mas ainda precisamos de campanhas de conscientização para reforçar que não se trata de uma solução mágica para emagrecimento, e sim de um tratamento médico sério”.

A especialista ressalta que  o ideal para quem deseja emagrecer, mas não tem diagnóstico de obesidade, é buscar ajuda médica e investir em mudanças sustentáveis de estilo de vida. “Um profissional sério vai avaliar seu caso com critério e buscar o melhor caminho para sua saúde — com ou sem medicação.”

“Precisamos reforçar que saúde não é só estética e que cada corpo merece cuidado individualizado. O que eu mais gostaria que as pessoas entendessem é que se trata de uma medicação potente. Para o seu próprio bem, não faça uso por conta própria”, conclui Renata Paiva.