Nova lei quer acabar com o assédio nos estádios
Sancionada na última quarta-feira, a legislação obriga os clubes a desenvolver ações para transformar jogos em ambientes menos hostis para as torcedoras
Laríssa Aguiar
Publicação: 03/05/2025 03:00
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O Sport chegou a realizar uma partida com a torcida formada apenas por mulheres |
Em uma medida que busca transformar os estádios em espaços mais seguros e inclusivos para as mulheres, a Prefeitura do Recife sancionou na última quarta-feira (30) a Lei Municipal nº 19.373, que institui a “Campanha Permanente contra o Assédio, a Importunação e a Violência Sexuais nos Estádios e nas Arenas Desportivas”. A iniciativa foi recebida com entusiasmo por torcedoras de clubes como Santa Cruz e Náutico, mas também com alertas sobre a necessidade de ações práticas e contínuas.
A nova lei estabelece que clubes e patrocinadores ficam responsáveis por promover campanhas de conscientização nos dias de jogos, divulgar informações sobre como denunciar abusos e capacitar os profissionais que atuam nos estádios. Entre os meios previstos para divulgação, estão alto-falantes, telões, murais informativos e redes sociais dos clubes.
Para Marcela Couto, torcedora do Náutico, a iniciativa é um passo necessário, mas faz um alerta: “Acho que as campanhas e toda ação que ajude a acabar com esse tipo de crime são essenciais. Mas é preciso que as autoridades deem andamento, pois todos os dias vemos casos em que a mulher presta queixa, informa tudo que vem passando e acaba morrendo mais à frente porque não existiu punição”, afirma.
Ela relata já ter enfrentado situações de importunação ao sair do estádio. “Um homem bêbado veio pra cima de mim com gracinha. Fui firme, respondi à altura e ameacei chamar a polícia. Mas só fiz isso porque ainda tinha muita gente na rua”, recorda.
INCENTIVO
Assim como Marcela, Andrezza Melo, torcedora do Santa Cruz, também destaca a importância da legislação, especialmente para incentivar a presença de mulheres nos estádios. “Sinto que as mulheres que, assim como eu, frequentam os estádios, estão desprotegidas e vulneráveis. A lei nos dá uma garantia de que a Justiça possa ser feita diante desses episódios”, afirma. Ela, que costuma levar a filha pequena para os jogos, relata já ter sofrido assédio na entrada de um estádio.
A legislação também busca combater o machismo estrutural no futebol. Para Andrezza, ainda há um longo caminho a percorrer. “Na verdade, o machismo tem aumentado bastante. Não respeitam as mulheres dentro do estádio. Vamos para ver futebol, não para ser assediadas”, desabafa.
Apesar de reconhecerem pequenos avanços, ambas cobram maior engajamento dos clubes. “O Santa Cruz raramente se posiciona sobre isso, seja nas redes ou nos dias de jogo.” Um exemplo de ação foi o jogo com torcida 100% feminina já promovido pelo Sport na Ilha do Retiro.