O efeito nocivo das telas para os jovens Segundo o pediatra Daniel Becker, o crescimento dos casos de transtornos mentais entre crianças , por exemplo, chega a ser assustador

LARISSA AGUIAR

Publicação: 31/05/2025 03:00

No Recife, Becker falou sobre a proibição nas escolas (TIAGO NUNES/DIVULGAÇÃO)
No Recife, Becker falou sobre a proibição nas escolas
O uso excessivo de celulares por crianças e adolescentes já ultrapassou o limite da preocupação individual para se tornar uma questão de saúde pública. A afirmação é do sanitarista e pediatra Daniel Becker, um dos articuladores da lei federal que proíbe o uso de celulares nas escolas.

Em palestra realizada na última semana, no Recife, Becker apresentou dados alarmantes sobre os efeitos das telas digitais no desenvolvimento físico, emocional e social dos jovens brasileiros. “O que estamos vivendo é um experimento social que não vai dar certo”, alertou o especialista.

Segundo Becker, os prejuízos da exposição prolongada ao celular não se limitam à visão, à postura ou ao sedentarismo. Eles envolvem também o aprendizado, o comportamento, a saúde mental e até a formação ética e política das novas gerações. “Estamos notando problemas graves: irritabilidade, isolamento, consumismo, perda do sono, ansiedade, depressão e até automutilação”, pontuou.

O Brasil, afirmou o pediatra, vive um cenário de crescimento exponencial de transtornos mentais entre adolescentes desde a popularização do celular. Entre 2013 e 2023, os casos de depressão e ansiedade aumentaram 1.500% entre jovens de 10 a 14 anos, e 3.300% na faixa dos 15 aos 19. “É astronômico o que está acontecendo com a nossa adolescência”, destacou.

Para o pediatra, o brincar livre, o contato com a natureza e a convivência com outras crianças são os verdadeiros antídotos à dependência digital. “A infância é brincadeira. Sem brincar, não há infância. E sem infância, não há bem-estar na vida.”

A lei federal que proíbe o uso de celulares em escolas é, para ele, um passo importante. “Na escola, a criança tem a chance de se desconectar por algumas horas e viver o mundo real. É uma conquista da infância”, declarou o especialista.