Pequenos heróis enfrentam as agulhas por um coração melhor
Na útima semana, um convênio do IMIP possibilitou a realização de cirurgias cardíacas em crianças
NICOLLE GOMES
Publicação: 09/06/2025 03:00
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Em PE, 15 crianças que precisam de cirurgia foram escolhidas para passar pelo procedimento menos invasivo |
A Campanha Little Heroes (Pequenos Heróis), uma parceria com o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP) com a empresa global Abbott, possibilitou que 15 crianças recebessem cirurgias gratuitas de correção de defeitos cardíacos nos últimos dias 5 e 6 deste mês. Os pacientes aguardavam o procedimento de instalação de catéter, método mais avançado e menos invasivo, não disponibilizado pelo SUS.
Uma das crianças participantes foi Maria Helena, de 4 anos. Ela aguardou a cirurgia por três anos por medo da família de submetê-la ao procedimento, explicou a avó, Angélica Silva, de 50 anos, enquanto aguardava a saída da neta da cirurgia.
“Maria Helena cansa muito, então ela foi para o médico com a mãe. Lá foi pedido um eletro, e se descobriu que ela tinha esse problema. A mãe escondeu (o diagnóstico) com medo de que acontecesse alguma coisa ruim. Agora foi que ela resolveu ir atrás”, relatou. “Agradeço a Deus porque ela vai ter uma vida normal. Creio que não vai cansar mais. Ela está na mão de uma médica muito boa. É uma referência”, compartilhou.
A médica que realizou a intervenção cirúrgica de Maria Helena é Juliana Neves, cardiologista pediátrica e responsável pelo cateterismo cardíaco pediátrico no IMIP. Ela explicou como funciona o mutirão dos Pequenos Heróis.
“Com apoio da Abbott, nós selecionamos 15 crianças de todo o estado de Pernambuco para realizar o fechamento do canal arterial via cateterismo cardíaco. Se não fosse o mutirão, essas crianças não realizariam esse procedimento”, explicou a médica, lembrando que a outra forma de intervenção cirúrgica envolve riscos maiores aos pacientes.
“A cirurgia cardíaca seria mesmo com tórax aberto, um procedimento bem mais invasivo, que demanda maior tempo de internamento hospitalar”, disse. A pediatra explica que a cirurgia significa uma nova vida para a criança contemplada. “Ela vai ter uma nova perspectiva biológica, física, para conseguir se desenvolver com vida normal. Após o fechamento, a gente acompanha essas crianças por um ano e, depois disso, elas têm alta cardiológica”.
DIAGNÓSTICO
O Diario também conversou com Fabiana Aragão, cardiopediatra e cardiografista do IMIP. Ela é responsável por diagnosticar e acompanhar as crianças na unidade. A médica destacou a importância dos pais estarem atentos a seus filhos. “O diagnóstico precoce é muito importante para o tratamento inicial porque algumas crianças, infelizmente, principalmente as do interior, não têm acesso ao cuidado ideal e já chegam com diagnóstico tardio”, lamentou.
“Muitas vezes chegam já sem a possibilidade do tratamento. Têm uma expectativa e qualidade de vida menor”, salienta. Os principais sintomas podem variar de acordo com a gravidade da cardiopatia.
Nos bebês, pode haver cianose pele azulada. Nas crianças, a falta de ar, fadiga durante atividades físicas, baixo ganho de peso e sopro cardíaco são pontos de alerta. “As crianças (sem diagnóstico e tratamento) não crescem adequadamente, não conseguem brincar adequadamente, muitas vezes não vão à escola, porque os pais percebem que é doente”, contou.
GESTAÇÃO
Segundo a médica, é possível receber diagnóstico ainda durante o pré-natal. Gestantes em todo o território nacional têm direito a realizar ecocardiograma fetal. O exame é capaz de detectar cardiopatias.
“Existe uma lei nacional que define que toda gestante deve ter o ecocardiograma fetal, sendo que é um exame que não está disponível para a gente fazer em todas as gestantes. Então, uma triagem em obstetrícia bem feita, um pré-natal bem feito, um ultrassom oftalmológico bem feito, já exclui as principais cardiopatias mais graves.
“Com o diagnóstico da cardiopatia intraútero, é possível planejar o parto. Faz toda diferença. Impacta não só em mortalidade, um bebê cardiopata que nasce numa maternidade distante, pode morrer nessa maternidade, às vezes sem o diagnóstico, mas o impacto também é em como esse bebê vai ser tratado”, adicionou.
TECNOLOGIA
O Ministério da Saúde realizou, na última quarta-feira (28), a primeira cirurgia cardíaca pediátrica com teleacompanhamento na região Norte. O procedimento foi feito em uma criança de 1 ano em Manaus (AM), com orientação em tempo real da equipe do Hcor, em São Paulo. A iniciativa integra o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS). De acordo com o Ministério da Saúde, dois centros cirúrgicos estão sendo estruturados no Nordeste, em parceria com o Hcor, por meio do Proadi-SUS. Os hospitais selecionados são o Hospital Infantil Albert Sabin, em Fortaleza (CE), e o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), no Recife (PE).
Cerca de 30 mil crianças todos os anos no Brasil nascem com algum tipo de anomalia no coração, segundo o Ministério da Saúde. Clinicamente chamada como Cardiopatia Congênita, a condição é a mais comum no mundo entre bebês e crianças.