Recifense resgatada foi aliciada por grupo Dois chineses e uma brasileira teriam sido responsáveis por levar a mulher para Mianmar, onde ela foi forçada a fazer programas sexuais

CADU SILVA

Publicação: 10/06/2025 03:00

A recifense resgatada em Mianmar, durante uma operação contra o tráfico internacional de pessoas, passou três meses em um hotel, sendo forçada a realizar programas sexuais com os clientes, segundo a Polícia Federal (PF) em Pernambuco. A pernambucana, que não teve o nome divulgado, foi salva durante a Operação Double Key, deflagrada na última sexta-feira (6) e divulgada no domingo (8).

Dois chineses e uma brasileira foram presos em flagrante e vão responder por vários crimes. Ainda segundo a PF, outras mulheres brasileiras se encontram na mesma situação, após serem levadas por traficantes de seres humanos. “Há uma característica em relação a esse tipo de vítima. A maioria delas não se considera vítima, como de fato é”, disse o delegado regional de Polícia Judiciária da PF em Pernambuco, Márcio Tenório, em entrevista concedida, ontem, no Recife.

Após o resgate, ela voltou ao Recife, na noite de domingo. “Ela voltou sem nenhum real, sem nenhum dinheiro, sem nada. Chegou aqui sem nada”, acrescentou Tenório. A PF não deu mais detalhes sobre o resgate nem o paradeiro da recifense por medidas de segurança. 

As investigações da PF apontam que a pernambucana estava acompanhada por outras mulheres, também aliciadas. O delegado disse que são, “provavelmente”, moças aliciadas aqui no Brasil”. 

O aliciamento acontecia da seguinte forma, de acordo com a PF. Uma mulher de São Paulo, presa na operação com dois chineses, abordava as mulheres e oferecia emprego em países estrangeiros. Ela também dizia que as aliciadas receberiam salário em dólar e teriam “melhores condições de vida”.

Agora, a PF tenta identificar mais vítimas do esquema internacional. 

Com os chineses presos, em um voo que chegou do Cambodja a São Paulo, os agentes encontraram celulares. Nesses aparelhos, serão feitas análises para tentar detectar novas conexões com a quadrilha e as vítimas que estão no Sudeste Asiático.

Márcio Tenório disse, ainda, que, em Mianmar, há condições propícias a esse tipo de tráfico de seres humanos. 

“Ela fica praticamente na divisa com a Tailândia, apenas um rio divide aquela área do complexo chamado KK Park. Essa região, onde foram construídos diversos hotéis e cassinos. E é uma região que é objeto de conflitos por forças militares paralelas”, observou.

O delegado federal contou que á informações de que é uma área controlada por máfias. Muitos delas são relacionados à exploração sexual de pessoas e também a fraudes eletrônicas. E a principal promessa é trabalhar em hotéis e cassinos nessa região, receber vencimentos vultosos, dando esperança de que elas poderão retornar ao Brasil no momento que tivessem vontade, o que tiverem lá com seus valores já acumulados. 

“Na verdade, chegando ao local, no entanto, a realidade é totalmente diferente”, acentuou.

Os presos na operação foram autuados por formação de organização criminosa e tráfico internacional de pessoas por exploração sexual. “São crimes gravíssimos. As penas somadas ultrapassam 20 anos de reclusão”, informou Tenório.