ISABELLE BARROS
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Publicação: 02/01/2014 03:00
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Foi a partir de um conto de fadas que o teatro para infância e juventude do Recife escreveu o primeiro capítulo de sua história. A peça Branca de Neve e os 7 Anões, encenada pela primeira vez em 1939 pelo extinto Grêmio Scenico Espinheirense, é o marco inicial da pesquisa Teatro para crianças no Recife: 60 anos de história no século XX, capitaneada pelo ator, jornalista e pesquisador Leidson Ferraz. O material, um DVD de dados com informações sobre encenações teatrais entre 1939 e 1999, vai ser distribuido gratuitamente, ainda este mês, para entidades de artes cênicas, bibliotecas pernambucanas e instituições ligadas ao teatro para a infância e juventude no país inteiro.
A reunião do material que consta no DVD consumiu dois anos de pesquisa e deu origem a um arquivo de 404 páginas, cuja compilação teve a participação de uma equipe de mais cinco pessoas: os assistentes de pesquisa Mônica Maria, Denny Sales e Elivânia Araújo, o revisor Rodrigo Dourado, Laura Ferraz, que cuidou da parte administrativa, e o designer Cláudio Lira.
Neste trabalho, a história do teatro infantil pernambucano nesses últimos 60 anos é contada em arquivo com fotografias, reproduções de material das peças, trechos de críticas e reportagens e textos originais sobre cada década. Além disso, são citadas produções do Cabo de Santo Agostinho, Arcoverde, Caruaru e Petrolina que passaram pelo Recife.
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Segundo Leidson, a escolha em abordar o teatro infantil se deu pela sua percepção de que este segmento era desprestigiado, além de uma escolha afetiva. Sua estreia nos palcos aconteceu em 1995, com a peça Memórias da Emília, de Luiz Felipe Botelho, inspirado no universo criado pelo escritor Monteiro Lobato. “Esse é o teatro que mais gosto, mas não quero ser saudosista. Teve muita coisa boa no passado, mas também muita coisa medíocre. O teatro para infância e juventude sempre andou nessa dualidade. Já que são os pais quem decidem qual espetáculo a criança deve assistir, devem ficar muito antenados”.
De acordo com Leidson, o primeiro período do teatro para a infância e juventude teve como impulsionador o teatrólogo Valdemar de Oliveira. “Até 1939, não havia uma produção teatral no Recife voltada especificamente para a criança. Era tudo muito caseiro. Como ele viu que a apresentação do Grêmio Scenico Espinheirense fez sucesso, Valdemar montou o núcleo infantil do Grupo Gente Nossa, que funcionou entre 1939 e 1942, com crianças da sociedade recifense da época”.
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Segundo Leidson, a profissionalização de fato do teatro para crianças aconteceu no inicio dos anos 1950, quando o Teatro de Brinquedo foi fundado por Alfredo de Oliveira, irmão de Valdemar, que nos anos 1940 chegou a administrar o Teatro de Santa Isabel e já havia aberto, lá, espaço para o teatro para crianças. “A criança não tinha valor na sociedade até aquela época e Valdemar pensou em um horário e uma dramaturgia específicos para a infância”, lembra.
Ao longo desse tempo, entre todas as casas de espetáculo da cidade, o Teatro de Santa Isabel foi um endereço fundamental para a consolidação do teatro infantil em Pernambuco, algo que hoje já não ocorre. “Acho um absurdo que um espaço importante como esse esteja fechado aos domingos de manhã. Muita gente poderia usufruir daquele teatro. Por exemplo, Ulisses Dornelas, conhecido como o Palhaço Chocolate, ocupou aquele teatro todos os domingos, da década de 1970 até a virada da década de 1980 para 1990”.
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Pesquisador destaca as peças: 1 - Avoar, (1987); 2- Branca de Neve e os 7 anões (1939); 3 - Em Marcha, Brasil! (1941); 4 - Os Saltimbancos, (1996); 5 - Memórias da Emília (1995) e 6- Aladim (1996). |
Foi a partir dos anos 1970 e 1980 que a cena teatral no Recife voltada ao teatro para infância e juventude floresceu, em um movimento interrompido na década de 1990 devido às crises econômicas. “Nessa década final da pesquisa, a produção é sofrível. Por outro lado, há, sim, trabalhos muito significativos. O momento de maior qualidade foi os anos 1980, pela qualidade artística de quem participava da cena na época e pela força política desses artistas”.
Seu trabalho atual é o desdobramento de pesquisa anterior da qual o ator e jornalista fazia parte, iniciada pelo Sesc Pernambuco com o objetivo de enfocar o teatro para crianças no Estado na década passada. O Panorama do Teatro Para Crianças em Pernambuco (2000-2010) ganhou financiamento do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) de 2013 e sua publicação em livro está prevista para 2014.
Saiba mais
Números
Peças marcantes do teatro para infância e juventude no Recife
R$ 50 mil
Verba do projeto
404 páginas
480 fotos
3 mil artistas citados
Avoar (1987)
Perguntado sobre uma peça que destacaria em especial nessas seis décadas de teatro no Recife, Leidson lembrou da peça Avoar, montada pelo encenador José Manoel Sobrinho. A montagem também representa a década que, segundo o pesquisador, viu o maior florescimento do teatro para a infância e juventude em Pernambuco. “Era uma peça muito simples e atual que durou anos em cartaz e teve várias remontagens. A trama abordava um grupo de meninos que vivem presos em seus apartamentos. Eles queriam ter o direito de brincar e se deparam com brincadeiras populares quase esquecidas”.
Hipopocaré, o rei da galhofa (1990)
Foi adaptado como musical infantil a partir do livro infantil Hipopocaré, o Rei da Galhofa, do escritor e psicanalista Antônio Guinho. A narrativa traz a história do Hipopocaré, fruto do amor entre uma hipopótama e um jacaré, que salva a floresta de um robô cuja função era carregar animais para uma caverna. De lá, eles eram encaminhado para zoológicos do mundo inteiro.
Pedido
O pesquisador também pede o envio de programas de espetáculos adultos ou para infância e juventude disponíveis para um futuro projeto de pesquisa. O e-mail de contato é leidson.ferraz@gmail.com