No palco, o riso é puro orgulho Sucesso em todo o Brasil desde sua estreia, há dois anos, o espetáculo "Gongada Drag" chega ao Recife para duas apresentações, amanhã e sexta-feira, no Teatro RioMar, com elenco de humoristas e drags, entre elas a pernambucana Salário Mínino, veterana da cena local

PEDRO CUNHA
Especial para o Viverr

Publicação: 16/07/2025 03:00

Bruno Motta é um pioneiro do stand-up comedy no país e um dos criadores do Furo MTV (EDSON LOPES JR/DIVULGAÇÃO)
Bruno Motta é um pioneiro do stand-up comedy no país e um dos criadores do Furo MTV
No palco, brilham saltos tão altos quanto o orgulho, perucas tão volumosas quanto as gargalhadas, humor tão ácido quanto necessário e um mar de purpurina que recobre tudo com alegria. Mas, por trás do espetáculo, há também uma mensagem de resistência, afirmação e celebração coletiva. Assim é o Gongada Drag, sucesso de público desde sua estreia, em 2023, que chega ao Recife para duas apresentações, amanhã e sexta, no Teatro RioMar, prometendo uma ode à diversidade. 

Idealizada por Bruno Motta, pioneiro do stand-up comedy no país e um dos criadores do Furo MTV, a montagem reúne drags que brilham nos palcos, nas redes sociais e nos streamings. Em cada cidade, um elenco diferente é escalado, reforçando a proposta de novidade a cada edição.

A “gongada” que dá nome ao espetáculo faz referência ao formato da comédia roast, no qual os artistas “fritam” uns aos outros com piadas ácidas, irreverência e deboche, sempre em clima de festa e homenagem. “Além da mistura de comédia e montação, o sucesso do Gongada se dá ao colocar esses talentos LGBTQIA+ no palco do teatro, em horário nobre. Assim, a gente consegue trazer o humor da nossa comunidade para que o grande público possa dar risada”, detalha Bruno em papo exclusivo com o Viver.

No Recife, o elenco contará com nomes como Suzy Brasil, Frimes, Virginia Del Fuego, Júnior Chicó e Mara Drag. Amanhã, o público confere também a irreverência de Salário Mínimo, veterana da noite recifense. Já na sexta, quem entra em cena é Betty Xuca, do espetáculo Lá na Rua de Casa.

Para Bruno, o formato do Gongada devolve à arte drag a visibilidade que ela merece. Ele lembra que sempre amou a comédia LGBTQIA e os shows, mas que, para assistir a uma apresentação, precisava ir a uma boate e ficar em pé até altas horas, muitas vezes com um público já desatento. O Gongada, segundo ele, é diferente: acontece no teatro, dando aos artistas a atenção que merecem. 

Mais do que entretenimento, as apresentações são trincheiras festivas, transformando códigos e linguajar da comunidade em algo universal. “Usar nossas gírias e maneiras de falar para fazer rir é tornar comédia várias das coisas que já foram usadas contra nós. Trazer para o grande público a forma como nos expressamos é também um ato cultural”, afirma Bruno.

Em meio a ataques e preconceitos cada vez mais explícitos contra a arte drag, Gongada Drag também cumpre um papel ao ocupar os palcos hasteando a bandeira do orgulho. “Fazer comédia é um ato político, assim como fazer drag. Ser LGBTQIA hoje e lutar para existir com liberdade, ter um espetáculo desse porte em cartaz, nos teatros mais importantes, também é fazer política”, discorre Bruno.

E se a arte serve para lembrar quem somos, Gongada Drag cumpre essa missão com gongo, purpurina e gargalhadas. “Cada show é diferente, inesperado e carrega uma energia única que contagia o público”, revela. Mais do que divertir, ele espera que cada pessoa saia do RioMar com a certeza de que, no fim das contas, rir também é um ato de orgulho.