ISABELLE BARROS
isabellebarros.pe@dabr.com.br
Publicação: 11/03/2014 03:00
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Houve um tempo no qual a região do Porto do Recife não dividia espaço com escritórios, nem abrigava eventos de rua que reuniam milhares de pessoas. O moinho da história fez com que a segunda metade do século 20 trouxesse decadência a essa parte da cidade, de onde o Recife surgiu. A partir dos anos 1990, o Bairro do Recife começa a se reerguer, enquanto a ascensão do Porto de Suape obriga o Porto do Recife a se reinventar. Essa transição foi capturada ao longo de 21 anos - de 1992 a 2013 - pelo fotógrafo Gustavo Maia, que abre hoje a exposição Recife [é um] porto, a partir das 18h30, na Caixa Cultural.
São 31 imagens, com curadoria do historiador José Luiz da Mota Menezes, que mostram o fascínio de longa data que o Porto do Recife exerce sobre o fotógrafo e, ao mesmo tempo, mostram a rapidez das transformações sofridas pelo entorno da localidade. “Nasci em Catolé do Rocha, na Paraíba, e vim morar no Recife aos cinco anos. Aprendi a gostar da cidade e, na década de 1980, vinha passear com meus amigos no Bairro do Recife, ainda em estado de abandono total. Ao mesmo tempo, eu achava essa parte da cidade interessantíssima. No início dos anos 1990, entrei em um grupo de fotografia amadora e comecei a fazer imagens do bairro”.
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As fotos mostram, ainda, as particularidades do porto, como os remanescentes do bordéis da cidade. Por extensão, também é mostrada a transformação do Bairro do Recife, que sofreu, há aproximadamente 100 anos, uma mudança urbanística sem precedentes, com pequenos prédios dando lugar aos armazéns vistos até hoje e a ruas como a Marquês de Olinda e a Rio Branco. “A praça do Marco Zero, por exemplo, era mais bucólica, mas, assim como há um século, os novos tempos demandavam a reforma da região do porto, esse local está encontrando novas vocações e novos usos”.
Além das imagens, a exposição mostra trechos de oito poemas de autores pernambucanos cujo conteúdo tenha a ver com o porto. O mais antigo é Prosopopeia, de Bento Teixeira, de 1601, que contém uma descrição elogiosa do Porto do Recife. A exposição também prevê o lançamento de um catálogo de mil exemplares, a ser distribuído pela Caixa Cultural.
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Poema
trecho de O Viajante
de Mauro Mota
Angústia longa e cinzenta
de não partir nem ficar.
Transeunte na ponte entre
o cais e o barco do mar,
o barco dos emigrantes,
todos de mãos amputadas,
que as mãos ficaram no ar
e é um só gesto coletivo
de despedida e chama.
Atividades
PALESTRA
No dia 26 de março, às 19h30, o historiador José Luiz da Mota Menezes fará, na Caixa Cultural, uma palestra intitulada A fotografia como instrumento para a história da cidade, a respeito da imagem como forma de preservar a memória. A entrada é gratuita, com distribuição de senhas a
partir das 18h30.
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A região do Porto do Recife foi usada como ancoradouro desde o início da colonização portuguesa no Brasil. A invasão holandesa, no século 17, deu ainda mais dinamismo ao porto, que floresceu como ponto de troca de mercadorias e de abastecimento. As obras para as instalações atuais só tiveram início em 1909, com término em 1918.
Serviço
Recife [é um] porto, de Gustavo Maia
Abertura: Hoje, às 18h30
Onde: Caixa Cultural – Avenida Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife
Visitação: De 12 de março a 11 de maio – terça a domingo, das 12h às 20h
Entrada Gratuita
Informações: 3425-1900