A princesa do forró A cantora Mariana Aydar inicia a temporada de São João com o single "Xote Destino", canção que costura lembranças com Luiz Gonzaga e seu amor ao forró

Allan Lopes

Publicação: 19/06/2025 03:00

Mariana estará hoje no Sítio Trindade para cantar com a Orquestra Sinfônica do Recife (FLORA NEGRI/DIVULGAÇÃO)
Mariana estará hoje no Sítio Trindade para cantar com a Orquestra Sinfônica do Recife
Nascida e criada em São Paulo, Mariana Aydar carrega o forró na voz sem ter o Nordeste no sangue. Sua conexão com o gênero vai muito além da herança genética, afinal é um vínculo que foi abençoado por ninguém menos que Luiz Gonzaga. O Rei do Baião lhe presenteou, aos 6 anos, com uma boneca que tinha o tamanho dela. Mariana transforma o gesto em arte, memória e celebração na música Xote Destino, já disponível nas plataformas digitais para embalar as festas juninas e tocar corações por onde for ouvida.

Na época, Gonzagão era cliente da empresária e produtora Bia Aydar, mãe da artista, que ajudou a tornar possível o encontro dos dois em um shopping. “Aquela ocasião me marcou profundamente”, relembra a cantora, em conversa exclusiva com o Viver. Ela ainda o veria outras vezes, sempre que a família o recebia em casa. “Não tivemos uma convivência longa. Mesmo assim, foi o suficiente para despertar algo muito forte em mim”, conta. 

Esse “algo” não ficou restrito às memórias. Cresceu, ganhou forma e se tornou a própria identidade artística da paulistana: o forró, um presente ainda maior do que a boneca que recebeu na infância. “O que Luiz Gonzaga mais desejava era ver o gênero pé de serra se espalhar pelo mundo, alcançando todas as pessoas”, afirma. E hoje, Mariana carrega essa missão com maestria. Um dos nomes prolíficos da cena contemporânea, ela venceu o Prêmio da Música Brasileira na categoria Raízes – Lançamento pelo disco Mariana e Mestrinho, criado em parceria com o músico Mestrinho.

Para dar voz às suas lembranças em Xote Destino, ela se uniu ao cantor e compositor pernambucano Barro e à artista baiana Indy Naíse na criação das letras. “Estávamos trabalhando no projeto de um show que, infelizmente, não chegou a acontecer. Mas dessa imersão nasceram descobertas muito profundas”, comenta Mariana. “Uma delas foi justamente esse processo em que ele ouviu as minhas histórias e disse: ‘Sou seu amigo, já sou seu parceiro de tantas músicas, já produzi coisas suas, e não fazia ideia, por exemplo, dessa sua história com o Luiz Gonzaga’”, revela.

Em um cenário dominado por homens, ela busca inspiração nas mulheres que desbravaram o forró antes dela, a exemplo da saudosa Marinês, da grande Anastácia e, sobretudo, Elba Ramalho, amiga de longa data. “Uma vez, Elba me disse uma coisa muito bonita, que eu nunca mais esqueci: ‘o forró me dá energia e eu energizo o forró’. E isso ficou muito forte pra mim, porque eu me sinto exatamente assim”, ressalta. “É uma dose extra de alegria na minha vida. É um jeito de me reconectar com toda a minha juventude, que sempre esteve muito ligada ao forró”. 

Nesta quinta-feira, Mariana volta à capital pernambucana para se apresentar ao lado da Orquestra Sinfônica do Recife, sob a regência de Lanfranco Marcelletti, na abertura da programação junina do Sítio Trindade. “Sempre que eu chego no Recife, me deparo com essa força das tradições e percebo o meu lugar diante dela. Ao mesmo tempo, vou absorvendo um pouco dessa potência para mim. Porque, afinal, é daqui que saíram, e saem, tantos e tantos mestres”. E se for verdade que a música alcança o céu, é possível que Gonzaga, do seu trono nas estrelas, esteja ouvindo. E sorrindo.