FERNANDA GUERRA
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Publicação: 18/01/2015 03:00
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%u201CEu me sinto bem em Olinda. Tem um tamanho de cidade que eu gosto. Chego aqui e vou na Bodega do Véio, Esquina do Peneira e em Dona Darcy (nos Quatro Cantos). Passo para dar um %u2018oi%u2019 e dar um beijo neles. São amigos. Pessoas que aprendi a amar%u201D |
Matheus Nachtergaele ficou quase um mês em Pernambuco. “Fez todo o sentido passar o Natal e réveillon aqui. Neste ano, vou estar em dois filmes lindos pernambucanos”, justifica o ator, ao parar por minutos a diversão em um hotel em Olinda para conversar com o Viver. O artista se refere a Sangue azul (estreia no circuito em abril) e Big jato (em processo de finalização), produções dos cineastas Lírio Ferreira e Cláudio Assis, respectivamente. O paulistano recebeu a reportagem em uma tarde ensolarada das férias, regada a piscina e conversas com amigos, como os diretores, o músico Otto e a atriz Conceição Camarotti.
“Vamos fazer as fotos na piscina? Com esse azul?”, dirigia, com certo toque de perfeccionismo. No momento de lazer, conversava sobre vida, arte e projetos. Um deles é Piedade, próximo longa-metragem de Cláudio Assis, cujas filmagens começam em setembro. O artista não sabe “teorizar” como foi tomado pelo “fenômeno Pernambuco” na telona. Da parceria intensa com os cineastas Guel Arraes, Lírio e Cláudio, nasceram vínculos afetivos com o estado. “A vida me deu esse presente lindo: ir descobrindo Pernambuco através dos meus personagens. João Grilo (O auto da Compadecida) foi um passe de entrada”, recorda.
O ator exalta o cinema pernambucano como “o mais potente do Brasil”. Acredita que os outros estados deveriam se mirar no estado como modelo de produção efervescente. “Lírio e Cláudio são dois cineastas de autoria, de criação. Filmam o mundo que veem. Lírio, de uma maneira poética. E Cláudio, de uma maneira mais visceral”, ressalta.
Big jato é o quarto longa de Cláudio. Todos foram feitos com Matheus. O ator vive dois personagens antagônicos. “Apesar de não ser uma história original do Cláudio, é o cinema dele. Utiliza o Nordeste para falar das mazelas do mundo, do amor, da violência, da misoginia”, analisa. A produção é inspirada em romance de Xico Sá. De acordo com ele, o filme exala jovialidade, com a predominância de jovens no elenco, incluindo o protagonista Rafael Nicácio.
Nachtergaele sempre trilhou o caminho do cinema. Já atuou em mais de 30 produções. Também participou de Nina, ao lado de Lázaro Ramos, e Serra Pelada, ambos do pernambucano Heitor Dhalia. Contratado da TV Globo, trabalha em séries ou minisséries. As quatro novelas, entre elas Cordel encantado (2011) e América (2005), foram exceções em uma trajetória que prioriza tempo livre para a sétima arte. “Eu acho que prefiro a obra mais fechada, por não ter (em novela) o controle sobre o que vai acontecer com o meu personagem. O fim é material para a construção”, justifica.
Em 2015, até agora, o único projeto para a TV é uma série sobre Zé do Caixão, de Vitor Mafra, ainda sem cronograma e canal definidos. Ele vai protagonizar os seis episódios, como um making of de filmes de José Mojica Marins. Paralelamente aos projetos no cinema e na TV, Nachtergaele também amadurece um novo trabalho como diretor. “Acho que penso todo dia nisso. Eu só demoro porque trabalho muito como ator”, esclarece. A festa da menina morta (2008), dirigida por ele, passou dez anos sendo “desenvolvida, maturada, desejada”. O mesmo ocorre agora. Enquanto isso, ele segue aficionado na produção local: “O cinema é uma arte interdisciplinar. A música, a literatura, a poesia estão trançadas de uma maneira bem bonita aqui”, filosofa. E pede licença para voltar aos braços dos amigos…
Índole X participação
Fizemos um gráfico com o perfil dos personagens de Matheus nos filmes pernambucanos
João Grilo
O auto da Compadecida (2000), de Guel Arraes
O ator viveu o personagem da obra de Ariano Suassuna no cinema e na TV, em minissérie de quatro capítulos. Entre o maniqueísmo, o sertanejo é malandro, mas as ações seguem a vontade - ainda que atrapalhada - de fazer o bem.
Salustiano
Árido movie (2006), de Lírio Ferreira
As produções de Lírio possuem personagens pequenos, tão fundamentais quanto os principais. Nachtergaele se encaixa no perfil em Árido e Sangue azul. Em Árido, ele vive o deficiente físico. “É uma forma de estar com o Lírio”, avalia.
Gaetan
Sangue azul (2015), de Lírio Ferreira
Em mais uma parceria com Lírio, vive um atirador de facas belga que trabalha em circo. Também é personagem discreto. “Aproveitamos para homenagear o meu lado belga. Meu pai é belga, falo francês desde a infância”, descreve.
Francisco
Big jato (2015), de Cláudio Assis
Matheus vive um pai trabalhador, limpador de fossas, empenhado na educação do filho. “Eu tive medo e não queria fazer uma caricatura dos tipos. Como são personagens antagônicos (o outro é o irmão gêmeo Nelson, abaixo), foi possível diferenciá-los bem”.
Nelson
Big jato (2015), de Cláudio Assis
É o tio do personagem principal, boêmio, radialista, cujo estilo de vida colide com o do pai.
Everardo
Baixio das bestas (2006), de Cláudio Assis
Na pele do personagem, Matheus atingiu um esgotamento dramático. “Baixio me atingiu bastante”, relembra. O filme aborda, entre outros temas, pedofilia e exploração sexual. Ele vive o líder dos agroboys, que assediam sexualmente uma mulher.
Coronel Carvalho
Serra pelada (2013), de Heitor Dhalia
É um vilão na pele do dono de um garimpo poderoso, que tem o personagem Juliano (Juliano Cazarré) como rival. Tereza (Sophie Charlotte) também é alvo da disputa entre os dois homens.
Dunga nnnnn
Amarelo manga (2002), de Cláudio Assis
No primeiro longa-metragem com o cineasta, interpreta um personagem gay, funcionário do hotel Texas. É apaixonado por Wellington, vivido por Chico Diaz, e faz de tudo para destruir o casamento dele.
Paizinho
Febre do rato (2012), de Cláudio Assis
O personagem é amigo de Zizo (Irandhir Santos), casado com um travesti e trabalha como coveiro. Ele é apaixonado, doce, amigo.