Clube do Cubismo Livro resgata a história do movimento artístico e a expansão pelo mundo, com influência sobre artistas pernambucanos

Isabelle Barros
isabellebarros.pe@dabr.com.br

Publicação: 06/09/2015 03:00

Uma revolução no modo de ver e fazer arte. Foi assim que o Cubismo conseguiu lugar na história da arte, ao abandonar o academicismo e a vinculação à realidade para fazer com que os artistas trouxessem novas camadas de significação ao trabalho. A pintura Les demoiselles d’Avignon, feita por Pablo Picasso em 1907, é considerada o marco inicial desse movimento artístico, que se espraiou por outros suportes, como a escultura, o cinema, a música e a literatura. A partir desses desdobramentos, o historiador e curador francês Serge Fauchureau escreveu O Cubismo - uma revolução estética: nascimento e expansão (Liberdade, R$ 105,90, 256 páginas), recém-lançado no Brasil.
A obra desvenda como a transformação do olhar aconteceu. A partir do cubismo, a distorção e a síntese das formas passaram a se tornar uma preocupação dos artistas. Isso abriu as portas para o aparecimento de outros movimentos europeus de vanguarda, como o Futurismo e o Dadaísmo, além da arte abstrata. Paul Cézanne, precursor do Cubismo, já havia questionado o uso da perspectiva nos quadros, e nomes como Picasso e Georges Braque tensionaram isso até provocar ruptura sem precedentes.
Fauchureau analisa o Cubismo desde os primeiros anos e frisa que foi um movimento no qual não houve manifestos ou declarações de pessoas consagradas no meio artístico para reconhecê-lo como movimento. “Nas décadas precedentes ao seu funcionamento, em um ritmo acelerado, aconteceram grandes revluções científicas. Elas trouxeram várias técnicas novas logo aplicadas à vida cotidiana, mas também novas questões. (…) Os artistas cubistas serão precisamente os primeiros a entender que a obra de arte reproduz experiência necessariamente de longo prazo”, escreve o autor.
O livro também fala da vontade de tornar o Cubismo uma arte popular pelos artistas que o adotaram, além de sublinhar uma característica presente em várias das obras e ainda não suficientemente estudadas: o humor.  
A parte final é dedicada à influência não apenas na Europa, mas ao redor do mundo. Embora tenha sido eminentemente parisiense, alcançou longas distâncias a partir das diversas nacionalidades de seus membros. Rússia, México e o Brasil foram locais alcançados. Tarsila do Amaral, por exemplo, é citada, e mesmo Pernambuco, que não é relacionado, tem expoentes (ver ao lado). No Rio, exposição em cartaz mostra 90 obras de Picasso e pode ser vista pela internet: picassonobrasil.com.br.

 

 

 

Vicente
do Rêgo Monteiro

 

Trabalho com densidade e volume presente em vários dos quadros de Vicente (1899-1970) permite dizer que ele teve o Cubismo como influência. Na infância, visitou Paris e entrou em contato com o movimento. Nos anos 1930, é responsável pela mostra A Escola de Paris, no Recife, Rio de Janeiro e em São Paulo. Trouxe obras cubistas pela primeira vez Brasil. “Vicente convivia com a nata da vanguarda e eles se entrosavam muito entre si. Tem naturezas-mortas que são, de certa forma, cubistas, e há outras abstratas”, diz o artista visual Paulo Bruscky, coautor de Vicente do Rêgo Monteiro: poeta, tipógrafo, pintor. 

 

 

Cícero Dias

 

O pintor modernista Cícero Dias (1907-2003) se fixou em Paris nos anos 1930, onde conheceu nomes como Georges Braque, Fernand Léger e Pablo Picasso, de quem foi amigo. Segundo Waldir Simões de Assis, marchand paranaense que editou o livro Cícero Dias - uma vida pela pintura, o Cubismo é um ponto de passagem para a junção entre o abstracionismo e o figurativismo que o artista teve na obra. “Vejo o Cícero como artista que não tinha medo de ir por searas distintas. Nos anos 1940, houve período no qual ele tinha linguagem aproximada com Picasso, mas ele não se satisfez com isso. Ainda assim, um exemplo de obra no qual ele dialoga com o cubismo é o mural dedicado às Revoluções Pernambucanas, na Casa da Cultura, no Centro do Recife”.

 

 

Francisco Brennand

 

O cubismo é uma das influências reconhecidas pelo próprio Francisco Brennand em sua produção, como o artista pontua em depoimento ao VIver. “Pode-se dizer que nenhum artista do século 20 escapou dos diferentes ‘ismos’: impressionismo, cubismo, fauvismo, surrealismo, dadaísmo, abstracionismo. Os cubistas são herdeiros diretos de Paul Cézanne sendo que Picasso e Braque são seus mais legítimos representantes (os dois professores que conheci em França e dos quais tive influências, ambos, eram cubistas à sua maneira: Fernand Léger e André Lhote). Aproveitei do cubismo sobretudo nos murais, logo que voltei de Paris, o que é fácil verificar olhando o mural Pastoral, que se encontra no aeroporto dos Guararapes”.

 

 

Lula Cardoso Ayres

 

O trabalho de Lula Cardoso Ayres (1910-1987) traz um forte matiz regionalista e a cerâmica - material com o qual Picasso tambem trabalhou - foi o caminho pelo qual Lula chegou ao cubismo. Essa influência se estende a outros suportes, como os quadros. "Há alguns trabalhos do meu pai que são essencialmente cubistas e atribuo isso ao tempo que ele passou na França. Ele passou o ano de 1925 convivendo com Léger e Braque. Entre eles, estão desenhos de 1941 e de 1942 essencialmente nessa estética. Em 1945, quando ele voltou a morar no Recife, é como se ele revivesse o que viu 20 anos antes. A década de 50, por sua vez, foi essencialmente abstrata, com formas geométricas mais arredondadas”, afirma Lula Cardoso Ayres Filho.