A dama de arte e aço
Artista visual Mirella Andreotti, especialista no manuseio do material para composição das obras, chega aos 90 anos com uma trajetória premiada
Publicação: 24/04/2016 03:00
Uma vida inteira dedicada às possibilidades plásticas do aço. Foi a partir desse material que a artista visual italiana radicada em Pernambuco Mirella Andreotti pavimentou o caminho nas artes visuais. Com a discrição característica de sua personalidade, Mirella comemorou 90 anos no último dia 8, coroando uma carreira cujas obras foram adquiridas no Brasil e no exterior, seja por colecionadores particulares, seja por instituições.
Na trajetória, Mirella buscou evitar que a personalidade aparecesse em detrimento da obra. “Não gosto de enfrentar gente, de me promover”, sempre disse. Mesmo com a timidez, ela foi lembrada no ano passado pelo prêmio Tacaruna Mulher, que ganhou em homenagem ao destaque conseguido ao longo da trajetória artística.
A artista plástica teve uma primeira fase com o figurativo, expresso por meio de pinturas, colagens e trabalhos com tecido. As experimentações a levaram ao trabalho com o abstrato, no qual o foco das obras era o alumínio e, depois, o aço inoxidável. Em entrevista ao Diario, em 1998, ela resumiu o encanto com o material. “O aço é uma coisa fantástica. Adquire as cores do ambiente e tem as cores do infinito”. A contemporaneidade dessa liga metálica e o simbolismo de um mundo contemporâneo no qual ele se banalizou também não passou despercebido à artista.
O pensamento de Mirella sobre o aço sempre foi o de superar os limites do material. A rigidez dele não a impediu de realizar esculturas que desafiam tanto a gravidade quanto opiniões reducionistas sobre as artes visuais. O reflexo da luz e as curvas do próprio aço tornam as esculturas diferentes a cada momento. A ideia inicial era passada para o papel, transformada em desenho, em maquete de papelão e, depois, para o toque final. A oficina era o passo seguinte, o qual Mirella acompanhava em seus mínimos detalhes antes de se aposentar. Na antiga oficina-ateliê, havia meios de fazer operações de corte, dobra e solda do aço.
Outra característica da obra da artista são as grandes dimensões. Assim como na peça Milênio, de 2000, instalada na entrada do prédio do Diario de Pernambuco, em Santo Amaro, o trabalho parece encontrar uma expressão mais adequada em formatos como o obelisco e a pirâmide. Com o aço, Mirella parece fazer esculturas e quadros vazados como se dançassem no ar, em uma ideia muito particular de movimento.
Obras
NO BRASIL
Mirella Andreotti nasceu em Livorno, na Itália, e começou a pintar ainda criança. Com 24 anos, em 1950, imigrou para o Brasil acompanhada do marido, Romano Andreotti, desembarcando inicialmente em Londrina, passando depois por São Paulo e, finalmente, se instalando no Recife. Em 1963, o marido foi transferido para os Estados Unidos e Mirella, já com duas filhas, retomou o passatempo de infância, dessa vez com mais dedicação, pintando no sótão de casa. Os amigos da família começaram a admirar as obras e querer comprá-las e isso impulsionou a artista a pintar profissionalmente.
Dois anos depois, em 1965, Mirella voltou a morar no Recife e passou a conviver com os artistas visuais que começavam, na época, a se instalar em Olinda. Foi com a volta ao Brasil que a artista começou a realizar exposições individuais e a participar de exposições coletivas. À época, a artista participava do Movimento da Ribeira, que congregava artistas locais como João Câmara, Maria Carmem, Wellington Virgolino, José Cláudio. Ela chegou a ser secretária da Cooperativa de Artes e Ofícios da Ribeira, cujos encontros aconteciam na Oficina 154, localizada no Sítio Histórico. Na maturidade, foi agraciada com a comenda de “Cavaliere” da Ordem ao Mérito da República Italiana.
O reconhecimento alcançado pelas obras se refletiu na aceitação delas em várias localidades. Nos Estados Unidos, há trabalhos dela na Fliadélfia e, na Alemanha, a empresa Varta levou uma escultura para Hannover. Já em Pernambuco, há locais nos quais se pode ver a força criativa de Mirella, como a sede da Chesf, no bairro de San Martin, ou a Academia Pernambucana de Letras.
Na trajetória, Mirella buscou evitar que a personalidade aparecesse em detrimento da obra. “Não gosto de enfrentar gente, de me promover”, sempre disse. Mesmo com a timidez, ela foi lembrada no ano passado pelo prêmio Tacaruna Mulher, que ganhou em homenagem ao destaque conseguido ao longo da trajetória artística.
A artista plástica teve uma primeira fase com o figurativo, expresso por meio de pinturas, colagens e trabalhos com tecido. As experimentações a levaram ao trabalho com o abstrato, no qual o foco das obras era o alumínio e, depois, o aço inoxidável. Em entrevista ao Diario, em 1998, ela resumiu o encanto com o material. “O aço é uma coisa fantástica. Adquire as cores do ambiente e tem as cores do infinito”. A contemporaneidade dessa liga metálica e o simbolismo de um mundo contemporâneo no qual ele se banalizou também não passou despercebido à artista.
O pensamento de Mirella sobre o aço sempre foi o de superar os limites do material. A rigidez dele não a impediu de realizar esculturas que desafiam tanto a gravidade quanto opiniões reducionistas sobre as artes visuais. O reflexo da luz e as curvas do próprio aço tornam as esculturas diferentes a cada momento. A ideia inicial era passada para o papel, transformada em desenho, em maquete de papelão e, depois, para o toque final. A oficina era o passo seguinte, o qual Mirella acompanhava em seus mínimos detalhes antes de se aposentar. Na antiga oficina-ateliê, havia meios de fazer operações de corte, dobra e solda do aço.
Outra característica da obra da artista são as grandes dimensões. Assim como na peça Milênio, de 2000, instalada na entrada do prédio do Diario de Pernambuco, em Santo Amaro, o trabalho parece encontrar uma expressão mais adequada em formatos como o obelisco e a pirâmide. Com o aço, Mirella parece fazer esculturas e quadros vazados como se dançassem no ar, em uma ideia muito particular de movimento.
Obras
NO BRASIL
- Editora Abril (São Paulo, 1972)
- Caesar Park Ipanema (São Paulo, 1976)
- Embaixada da Itália (Brasília, 1980)
- Brasmotor (São Paulo, 1980)
- Refinaria de Açúcar do Nordeste
- Prefeitura do Recife
- Sede da Chesf
- Galeria Metropolitana do Recife
- Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco
- Academia Pernambucana de Letras
- Prédio do Diario de Pernambuco (escultura Milênio)
Mirella Andreotti nasceu em Livorno, na Itália, e começou a pintar ainda criança. Com 24 anos, em 1950, imigrou para o Brasil acompanhada do marido, Romano Andreotti, desembarcando inicialmente em Londrina, passando depois por São Paulo e, finalmente, se instalando no Recife. Em 1963, o marido foi transferido para os Estados Unidos e Mirella, já com duas filhas, retomou o passatempo de infância, dessa vez com mais dedicação, pintando no sótão de casa. Os amigos da família começaram a admirar as obras e querer comprá-las e isso impulsionou a artista a pintar profissionalmente.
Dois anos depois, em 1965, Mirella voltou a morar no Recife e passou a conviver com os artistas visuais que começavam, na época, a se instalar em Olinda. Foi com a volta ao Brasil que a artista começou a realizar exposições individuais e a participar de exposições coletivas. À época, a artista participava do Movimento da Ribeira, que congregava artistas locais como João Câmara, Maria Carmem, Wellington Virgolino, José Cláudio. Ela chegou a ser secretária da Cooperativa de Artes e Ofícios da Ribeira, cujos encontros aconteciam na Oficina 154, localizada no Sítio Histórico. Na maturidade, foi agraciada com a comenda de “Cavaliere” da Ordem ao Mérito da República Italiana.
O reconhecimento alcançado pelas obras se refletiu na aceitação delas em várias localidades. Nos Estados Unidos, há trabalhos dela na Fliadélfia e, na Alemanha, a empresa Varta levou uma escultura para Hannover. Já em Pernambuco, há locais nos quais se pode ver a força criativa de Mirella, como a sede da Chesf, no bairro de San Martin, ou a Academia Pernambucana de Letras.