Larissa Lins
Agência Estado
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Publicação: 17/08/2016 08:00
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Entrevista Elke Maravilha
Entrevista a Marina Simões
“Hoje, as pessoas estão se drogando com sexo, como fuga”
Você assume que já usou drogas, além da bebida alcoólica. Qual a consequência disso para sua vida?
Bebi e bebo ainda. Usei quase todas as drogas que chegaram a mim. Crack, cocaína, maconha.. Usei e não fui usada. Na minha geração, as pessoas usavam a droga para autoconhecimento, não para fuga. Cada um que procure seu caminho. Nem filho eu fiz, porque não saberia educar uma criança. Fiz abortos conscientemente, 70% das mulheres que têm filho não deviam ter. Em relação às drogas, o poder é a pior droga, matou e continua matando. Hoje, as pessoas estão se drogando com sexo, não para encontro, autoconhecimento, mas como fuga. Tudo o que se faz como fuga te fode. Beber é otimo. Mas não faça da bebida uma rotina, uma fuga da realidade. Vez em quando, tudo bem, caia de porre. Eu me dou esse direito.
Você já vestia roupas e usava cabelos extravagantes antes de Lady Gaga pensar em existir. Quais são suas influências? Será que ela te imitou?
Já andei em Nova York e fui parada várias vezes. Tenho fãs que nunca vi. Causo sensação aonde vou, mesmo depois de velha. Esses artistas observam as ruas para buscar inspiração, mas acho difícil ela ter me imitado. Meus figurinos têm influências das culturas antigas. Busco elementos antigos, referências do Teatro Kabuki, signos, antepassados, vikings, chifres e coisas assim… A cultura negra, por exemplo, tem signos representados nos meus dreads. Não vou a lojas. Tenho meu quarto cheio de materiais. Eu que faço meus adereços e digo para a costureiro: ‘Quero assim, quero assado’. Os bordados, faço à mão. Gosto de brincar disso. Tenho os dedos furados de montar minhas coisas.
Boca solta
“Na realidade, sempre fui um trem meio diferente, sabe? Ainda adolescente resolvi rasgar a roupa, desgrenhei o cabelo, exagerei na maquiagem e saí pela rua… Levei até cuspida na cara. Mas foi bom porque entendi aquela situação como se estivessem colocando-me em teste. Talvez, se meu estilo não fosse verdadeiramente minha realidade interior, eu teria voltado atrás. Mas sabia que nunca iria recuar. Eu nunca quis agredir ninguém. O que eu quero é brincar, me mostrar, me comunicar.”
“Vivi cada coisa no tempo da mãe natureza. Meu pai me dizia: ‘Minha filha, aprende com a mãe natureza.’ E ela nos ensina tudo mesmo.”
“Boa educação é preparar uma pessoa para vida. Eu fui bem preparada para a paz e bem preparada para a guerra.”
“Detesto puta. Ficar armando em cima de homem, ir para a cama para conseguir as coisas. Isso não tem a ver comigo. Quando se é jovem pintam essas coisas.”
“Fiz três abortos sem a menor culpa. Ia fazer merda. Não sei educar criança. Quanto mais vivo, mais tenho certeza que fui sábia, apesar de jovem.”
“Penso que é muito normal transar com tudo. Mas não gosto de cabeça de mulher. Quando transo sexualmente, transo com a cabeça também. E me cansa um pouco.”
“Perguntaram pra mim: qual é a melhor pessoa do mundo? Chacrinha. E qual é a pior? Silvio Santos. Eu trabalhei com o pior e o melhor.”
“Eu tenho muitos deuses, sou politeísta. Eu vejo que as pessoas têm uma ideia muito de gente de Deus… 'Deus é fiel'. Fiel? Fiel é um adjetivo que fizeram para a gente, Deus não cabe em um adjetivo que fizeram para a gente.”
“Eu nasci assim. Quando morávamos na roça, quando éramos imigrantes, meu pai não tinha dinheiro. Nós tínhamos alimentos porque nasciam da terra. Nós morávamos no meio de pessoas negras e quando as mulheres soltavam as tranças e surgiam aqueles cabelões enormes, eu ficava encantada e dizia: 'Eu queria tanto ter esse cabelo'. E, então, meu pai disse 'dá um jeito, Elke!' E eu dei.” (risos)
Saiba mais...
Elke, a maravilhosa