'Se me ama, me deixe ir em paz'

Publicação: 05/12/2016 03:00

Ao sentir seu quadro de saúde se agravar, Ferreira Gullar pediu à mulher, Claudia Ahinsa, para não sofrer intervenções que prolongassem sua agonia. A alternativa era que ele fosse entubado. “Se você me ama, não deixa fazerem nada comigo. Me deixe ir em paz. Eu quero ir em paz”, pediu àquela que era sua companheira havia 22 anos. “Foi uma decisão muito dura para nós, para a família e para mim. Mas era o que tinha de ser feito”, disse Claudia.

Gullar sentiu-se mal em 9 de novembro. Com intensa falta de ar, foi levado ao Hospital Copa D’Or. Os médicos diagnosticaram pneumotórax, entrada de ar na pleura, camada que recobre os pulmões. O problema era reflexo do seu tempo de fumante, ainda que estivesse livre do cigarro há mais de 30 anos.

O ar na pleura comprime o pulmão e o faz murchar. Nos 25 dias de internação, os médicos instalaram um dreno para a retirada do ar e esperavam o pulmão expandir para liberá-lo. “Estava tudo dando certo. A pleura estava fechando, o pulmão estava expandindo. Eles tirariam o dreno nos próximos dias e ele já receberia alta”, conta Claudia.

Ela conta que o marido tinha boa saúde. “No domingo, três dias antes da internação, tínhamos ido ao cinema, passeado. Essas doenças são silenciosas”, afirmou.

O casal imaginava que a internação seria curta. Preferiu não alarmar os amigos. Com o passar das semanas, Claudia começou a contar a um e outro sobre a internação. Nas primeiras semanas, Gullar escreveu de próprio punho a crônica semanal publicada na Folha de S. Paulo. Depois, com o agravamento do quadro, passou a ditar o texto para a mulher. “Ele era poesia pura. A poesia está aí. A obra vai ficar”, afirmou. (Agência Estado)