Entrevista // Maria Cardozo Cineasta

Publicação: 21/01/2017 03:00

A predominância masculina por trás das câmeras se reflete no tipo de conteúdo visto nas telas?
Enquanto padrões de misoginia, do machismo de esquerda e de reproduções quase que automáticas de opressões não forem desconstruídas, sim, vejo muito nitidamente um cinema predominantemente machista, feito na maioria por homens. Seja com a reprodução estetizada da violência contra a mulher só para gerar tensões narrativas, a objetificação sexual do corpo de mulheres - o que é ainda mais crítico quando o fazem com o corpo da mulher negra - a título de naturalidade, personagens femininas pouco complexas e autônomas... São coisas que parecem básicas, mas é aí que nos encontramos. Fazendo equívocos no básico ainda.

Enxerga melhoria nesse contexto, aumento da inserção feminina no mercado?
Existem grupos de mulheres trabalhadoras do audiovisual pelo Brasil articuladas com pautas de políticas públicas para fazer mudança no cenário. Sendo otimista, acho que é questão de pouco tempo. A parte mais potente do movimento é perceber que a luta por um cinema feito com mulheres é uma luta pela diversidade de discursos e discursos não hegemônicos. É uma luta pelos discursos criados nas várias periferias do Brasil, pensando em outras formas possíveis de se fazer cinema.