Equação além do preconceito
Candidato ao Oscar, filme narra a vida de três negras - oprimidas pelo racismo e pelo machismo - cujos cálculos contribuíram para o êxito da Nasa
BRENO PESSOA
ESPECIAL PARA O DIARIO
edviver@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 02/02/2017 03:00
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Personagens até então anônimas foram exaltadas emlivro de Margot Lee Shetterly, agora adaptado para cinema |
Baseado em situações reais, o filme mostra a decisiva participação de três mulheres negras que trabalharam na Nasa no início dos anos 1960, durante a corrida espacial com a União Soviética, na Guerra Fria. Como sugere o título original Hidden figures (figuras ocultas, em tradução literal), o longa mira os holofotes sobre personagens que permaneceram praticamente anônimas mas contribuíram, direta ou indiretamente, para o sucesso da agência espacial norte-americana.
O roteiro, adaptado do livro homônimo de Margot Lee Shetterly (Harper Collins, 352 páginas, R$ 39,90), se desenvolve principalmente em torno de Katherine Johnson (Taraji P. Henson), uma brilhante matemática capaz calcular com grande precisão trajetórias de voos, lançamentos e pousos de emergência. Como técnica aeroespacial da Nasa, ela trabalhou nos cálculos do voo de Alan Shepard, primeiro norte-americano a ir para o espaço, em 1959, entre outros importantes marcos da exploração espacial.
Em paralelo, a trama também acompanha Dorothy Vaughan (Octavia Spencer), primeira supervisora negra da Nasa, e Mary Jackson (Janelle Monáe), primeira mulher negra a trabalhar como engenheira no órgão, cargo que ela pôde pleitear após conseguir na justiça o direito de estudar em uma universidade, até então exclusiva para brancos.
Além do brilhantismo, as três personagens têm em comum o histórico de enfrentamento ao preconceito, em uma sociedade com segregação institucionalizada. Um dos aspectos que mais chama a atenção no filme é a lembrança do quão recente é esse período histórico.
Dada a perpetuação dos preconceitos abordados no filme, sejam eles hoje mais velados ou não, o drama tem uma inevitável atualidade e dialoga com outra produção contemporânea centrada na questão racial, Moonlight: Sob a luz do luar também concorrente ao Oscar de Melhor Filme. Coincidentemente, ambas produções têm no elenco Janelle Monáe e Mahershala Ali. Vale mencionar que o músico Pharrell Williams, produtor do longa, participa também do elenco de La La Land: Cantando estações, forte candidato à principal estatueta da premiação.
É interessante notar que o drama da segregação mostrado no filme tem paralelos na história do próprio Oscar. Hattie McDaniel, primeira atriz afrodescendente a receber uma estatueta, pelo papel coadjuvante de Mammy em E o vento levou, só assistiu à premiação após obter autorização especial de acesso da organização do evento. O hotel que abrigou a solenidade não permitia a entrada de negros e, mesmo com liberação, ela acompanhou a festa em um espaço à parte da plateia.
Superação no centro das atenções
Bastante convencional no desenvolvimento, o longa teria menos destaque se tivesse como objeto de estudo personagens menos peculiares e cativantes. E boa parte desse crédito vai para o elenco que, aliás, venceu o Prêmio do Sindicato dos Atores de Hollywood. A conquista na categoria Melhor Elenco em Filme deixa Estrelas além do tempo mais fortalecido ao Oscar, indicado para melhor Filme, Roteiro Original e Atriz Coadjuvante (Octavia Spencer).
Apesar da boa atuação, a figura de Al Harrison (Kevin Costner), chefe de Katherine Johnson, chega a incomodar. A direção enaltece por demais as louváveis atitudes do personagem contra a segregação, tira por vezes o foco de quem realmente esteve do lado mais difícil da luta pela igualdade dos direitos.
Embora trate de tema delicado e da inevitável violência simbólica (e às vezes, física) perpetrada contra os negros, a produção dirigida por Theodore Melfi se dedica principalmente ao aspecto da superação. É uma história inspiradora e mais notável pelo preconceito duplo encarado pelas protagonistas, inseridas em uma sociedade bastante machista. Questões que, infelizmente, continuam terrivelmente presentes.
Estreias de cinema
Documentário sobre os Beatles aborda turnês durante a década de 1960
The Beatles é a banda fora de atividade que mais rende lançamentos. A mais recente produção é o documentário The Beatles: Eight days a week - The touring years, sobre o breve período de turnês dos músicos, entre 1962 e 1966, exibido de hoje a sábado no UCI Kinoplex De Luxe, às 20h. Os ingressos custam R$ 40 e R$ 20 (meia). Dirigido por Ron Howard Oscar Ron Howard (Apollo 13), o documentário cobre a primeira fase da carreira dos músicos, nos quatro anos em que realizaram apresentações ao vivo.
A decisão de abandonar os palcos se deu pela crescente complexidade das músicas, difíceis ou inviáveis de serem reproduzidas fora de estúdio, e pelo barulho ensurdecedor dos fãs durante os shows. Lennon, McCartney, Harrison e Starr diziam ser difícil tocar sem ouvir o próprio som e acreditavam que a apreciação das músicas também seria comprometida com os gritos do público. A produção resgata imagens antigas, raras, inéditas. Cheio de nostalgia, é bom lembrete sobre como a banda conseguiu, em tão pouco tempo de existência, se tornar eterna no pop.
A qualquer custo
A quente paisagem do Texas é cenário deste thriller que acompanha os irmãos Tanner (Ben Foster) e Toby (Chris Pine) em uma maratona de assaltos a bancos na tentativa de acumular dinheiro para pagar a hipoteca da fazenda da família. Concorrendo em quatro categorias do Oscar, incluindo Melhor Filme, o longa tem no elenco Jeff Bridges, indicado a Melhor Ator Coadjuvante.
Clarisse ou alguma coisa sobre nós dois
Terror produzido no Ceará, o longa de Petrus Cariry já acumula 18 troféus em diferentes mostras de cinemas, incluindo o prêmio de Melhor Filme no Festival Rojo Sangre, na Argentina. Na trama, Clarisse (Sabrina Greve) vai passar o fim de semana com o pai doente (Everaldo Pontes) na casa onde cresceu. No local, ela acaba se deparando com acontecimentos estranhos e segredos.
Jackie
A primeira-dama do presidente norte-americano John F. Kennedy ganha cinebiografia estrelada por Natalie Portman no papel de Jackie Onassis, atuação que rendeu indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Indicado nas categorias Melhor Figurino e Trilha Sonora, o longa-metragem é o mais recente trabalho do cineasta inglês John Hurt. Morto recentemente em decorrência de um câncer no pâncreas, o ator interpreta o padre Joseph Leonard.
O chamado 3
A assustadora personagem Samara está de volta em novo capítulo da franquia de terror, ambientado 13 anos após os acontecimentos do filme original. Desta vez, a história tem como protagonistas o casal Julia (Matilda Lutz) e Holt (Ales Roe), que entra em contato com uma fita amaldiçoada que leva à morte quem assiste ao filme. A direção é do cineasta F. Javier Gutiérrez (Três dias) e o roteiro é assinado por Akiva Goldsman (Eu sou a lenda).
TOC: Transtornada, obsessiva, compulsiva
Atriz recorrente em várias comédias nacionais, Tatá Wernerck protagoniza pela primeira vez um filme. Ele interpreta uma atriz que, apesar de bem-sucedida profissionalmente, encara uma série de problemas emocionais decorrentes do transtorno obsessivo-compulsivo e do comportamento complicado de pessoas próximas, como a exigente empresária (Vera Holtz).