Lucy carrega a sanfona adiante Paraibana, atração da festa em Caruaru, acredita no potencial do instrumento e se diz influenciada por Pernambuco

Alef Pontes
Especial para o Diario

Publicação: 24/06/2017 03:00

Exu - Cantora, compositora, sanfoneira e atriz são muitos os títulos que podem ser dados à paraibana Lucy Alves. Natural de João Pessoa, a artista encantou o Brasil com a participação na segunda temporada do reality show The voice Brasil, em 2013, e depois com atuação na novela Velho Chico. Antes dos holofotes, já cantava há mais de década a força e o sotaque do povo nordestino, resgatando ritmos tradicionais como o baião, xaxado e o coco e mesclando com referências globais do pop e reggae. Atualmente na websérie Orquestra Sanfônica de Exu, projeto que homenageia o ícone maior Luiz Gonzaga na terra natal, ela reverencia os mestres e abre novas possibilidades para a sanfona na música brasileira. A cantora se apresenta no São João de Caruaru neste sábado.

Na varanda da casa que pertenceu ao Rei do Baião, em Exu, Lucy recorda a presença de Gonzaga em sua memória afetiva: “Por causa da minha família, que foi muito responsável pelo meu gosto musical, comecei a escutar Gonzaga desde nova”. O interesse pela sanfona surgiu com a formação do grupo familiar Clã Brasil, no início dos anos 2000. Na formação, as irmãs Lucyane, Laryssa, Lizete e a mãe Maria José, além do pai, José Hilton, e dois amigos. “Aí, pensei ‘ah, então vou aprender sanfona’. Peguei o instrumento do meu tio emprestado e me apaixonei”. Com o grupo, gravou seis discos e dois DVDs, entre 2002 e 2015.

Surgiram as primeiras viagens e a oportunidade de conhecer os mestres da música. “Tive a oportunidade de conviver com Dominguinhos, Sivuca e Marinês. Ela fez parte da trupe, da dinastia do forró junto com Luiz Gonzaga”, comenta, sobre uma das principais referências musicais, com quem gravou um DVD (Clã Brasil ao vivo, de 2006). Entre mestres com conviveu, estão Pinto do Acordeon, Oswaldinho do Acordeon, Quinteto Violado, Marcos César e Alceu Valença - fez turnê nacional com ele no projeto Pixinguinha e se apresentou no Festival Internacional da Sanfona.

Uma das poucas sanfoneiras nos palcos, ela tem esperança de ver o instrumento popularizado no futuro. “Ainda bem que esse número de mulheres vem crescendo. A sanfona já não é fácil para um homem em tudo: carregar, para manusear... É um instrumento pesado. Às vezes eu acho que isso assusta, mas a gente gosta, né?”. Ela acredita que, para a mulher, empunhar a sanfona no peito é mais do que simplesmente amor pela música. É um ato representativo: “Eu adoro tocar sanfona e a gente vem quebrando essa história. Acredito na mulher instrumentista, a mulher enquanto artista na sociedade e a sanfoneira”.

*O repórter viajou a convite de O Boticário

“Eu sou muito feliz de ter nascido no Nordeste porque é uma das regiões mais ricas, musicalmente falando. E eu carrego tudo isso nos meus sons. Mesmo que flerte com o pop, tenho célula de maracatu ”

Lucy Alves, sanfoneira

2 perguntas

Lucy Alves // sanfoneira

Com os novos modelos de produção musical e as reviravoltas no mercado fonográfico e as novas tecnologias, ainda existe espaço para o forró na música brasileira?
É difícil? É. Mas a internet é um portal para o mundo. Então você produz suas coisas, você joga ali, as pessoas te veem e te chamam para shows. Existe espaço para tudo, para qualquer tipo de música. O Nordeste é um caldeirão efervescente de ritmos. Mas, no geral, acho que tem espaço para tudo, e é correr atrás, batalhar e acreditar, essa velha história: “Acreditar e fazer valer”.

A gente sabe que você tem uma longa relação com a música e os artistas pernambucanos, até acompanhando Alceu Valença em shows. De que maneira esse contato com Pernambuco influencia o seu trabalho?
Eu sou muito feliz de ter nascido no Nordeste porque é uma das regiões mais ricas musicalmente falando. E eu carrego tudo isso nos meus sons, nas minhas influências. Mesmo que eu flerte com a música mais pop, como as pessoas falam, tenho célula de maracatu que está misturada com com rock ou com uma batida de um reggae ou reggaeton. Isso já faz parte do meu jeito de tocar e cantar e não tem como arrancar mais. O coco tem esse jeito sincopado, que é de Jackson do Pandeiro também. Isso me influencia muito. O repente que se mistura com o rap, tudo está muito ligado. O baião, o xote, o maracatu, o arrasta-pé estão sempre no meu som. E Pernambuco é um berço.