Do fundo do imaginário Editora reúne em um único livro três obras fundamentais para entender a ocupação holandesa em Pernambuco

ISABELLE BARROS
isabelle.barros@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 16/08/2017 03:00

A popularidade que a ocupação holandesa em Pernambuco tem no imaginário local deve um bocado ao historiador José Antonio Gonsalves de Mello (1916-2002), pesquisador incansável sobre o Brasil Holandês e maior autoridade no tema. Meticuloso com as informações que coletava, chegou a aprender o idioma estrangeiro para melhor compreender os dados do período em fontes como documentos e mapas. Um pouco da obra volta a ficar disponível ao público com o lançamento, em um só volume, dos livros Testamento do General Francisco Barreto de Menezes, A cartografia holandesa do Recife e A rendição dos holandeses no Recife (1654) pela Cepe, há anos fora de catálogo.

O evento será no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, do qual o bacharel em direito e historiador foi presidente por 36 anos. Os três livros relançados haviam sido editados nos anos 1970 e trazem um aprofundamento de temas estudados pelo autor do clássico Tempo dos flamengos, publicado em 1947. O prefácio é de Bruno Miranda, professor do Departamento de História da UFPE e doutor pela Universitet Leiden, na Holanda.

O primeiro, Testamento do General Francisco Barreto de Menezes, traz a íntegra do testamento do comandante das tropas portuguesas no fim da guerra contra os holandeses, com leitura paleográfica - voltada à compreensão de manuscritos antigos - de Virgínia Pernambucano de Mello. Já o segundo analisa quatro mapas desenhados entre os anos de 1631 e 1648 e contém visão preciosa do ordenamento urbano do Recife no século 17. A rendição dos holandeses no Recife traz documentos, publicados na íntegra, que mostram detalhes das negociações de retirada das tropas flamengas e tem três relatos raros, feitos por portugueses, da reconquista da cidade.

2 perguntas

Bruno Miranda // historiador

Qual a importância da republicação dessas obras?
É enorme, pois o trabalho não é datado, mesmo depois de várias descobertas após os anos 1970, quando houve a primeira edição. É um texto acessível, objetivo e a produção era muito voltada à publicação e análise de fontes, inclusive de arquivos estrangeiros, algo particular à época. O rigor o fez ser referência no Brasil e no exterior. Ele tinha a capacidade de usar um volume gigantesco de dados em uma época na qual sem internet, fazendo fichas enquanto pesquisava e colocando as informações de cabeça no papel.

E quais são as singularidades de seus livros?
O testamento do General Barreto de Menezes, na íntegra, mostra que era militar, político e comerciante. É possível ver as relações mercantis até com os holandeses que combateu. José Antônio abordava o cotidiano do Brasil Holandês e os mapas presentes em A cartografia holandesa do Recife (1654) foram traduzidos por ele e analisados em notas de rodapé riquíssimas. O texto final do acordo de rendição dos holandeses não havia recebido muita atenção até então. E José fez uma minibiografia das pessoas envolvidas.