As divas pop à brasileira Figuras outrora marginalizadas, foi nas drag queens que o público LGBT encontrou as divas nacionais para chamar de sua

Emannuel Bento
Especial para o Diario
emannuel.bento@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 12/05/2018 03:00

As divas pop norte-americanas sempre tiveram destaque nas playlists de festas destinadas ao público LGBT no Brasil. Desde 2015, no entanto, músicas nacionais têm conquistado cada vez mais esses ambientes, principalmente devido ao fenômeno das drag queens cantoras. Assim como as estadunidenses, nomes como Pabllo Vittar, Kaya Conky, Gloria Groove, Aretuza Lovi e Lia Clarck evocam coreografias, sensualidade e empoderamento nas pistas. Foi justamente nas transformistas, figuras outrora marginalizadas, que os brasileiros encontraram suas divas nacionais. Diante desse cenário, a festa Carola realizará uma edição focada na cultura drag neste sábado, no Espaço Almirante, no Recife, a partir das 22h.

A headliner do evento é a natalense Kaya Conky, jovem de 22 anos responsável por sucessos do funk como E aí bebê e Bumbum tremendo. “Vivemos um momento muito legal em que os olhos do público LGBT está voltado para um conteúdo que temos produzido dentro do país. É um combustível ótimo para que outros artistas locais tenham gás para produzir, criar e acreditar na possibilidade de crescer na mídia”, diz a artista, chamada por Igor Ferreira quando fora dos palcos.

A nordestina ressalta que o êxito das queens também está intrinsecamente ligado a um certo avanço das pautas do movimentos LGBT no Brasil. “A cultura drag já foi muito marginalizada, mas estamos conseguindo coisas sólidas dentro dela. É um avanço para nós e para os LGBT em geral. Faz parte de uma conquista para todos: nossas pautas estão sendo levantadas e nossas vozes sendo ouvidas”. Desde que largou o curso de Turismo na UFRN para investir na carreira de cantora, Kaya acumulou oito milhões de visualizações no YouTube, em uma apresentação no Festival Mada - realizado em um estádio na cidade de Natal -, uma participação no Amor & sexo da Rede Globo, entre outras conquistas.

O mais recente “checkmate” de sua carreira foi a participação em Hasta la vista, a música do Coca-Cola Fan Feat. Conky foi uma das convidadas por Pabllo Vittar para integrar um time de drags na canção, feita em parceria com Luan Santana e Simone & Simaria. “Quando recebi o convite, foi incrível. A Pabllo faz questão de reforçar a cena drag. Ela poderia chamar qualquer pessoa, dançarino, atriz, mas ela escolheu a gente para dar força ao movimento. Ela sempre teve atenção com a gente. Acho isso muito bafo.”

Representatividade
Era noite de domingo, 10 de dezembro de 2017, quando Fausto Silva anunciou, ao vivo, que uma canção de Pabllo Vittar era a vencedora do prêmio de Música do Ano no Troféu Domingão, a principal premiação de entretenimento da Rede Globo. Foi um momento simbólico: a maranhense mostrou, em pleno horário nobre, que é possível ser drag queen, ganhar reconhecimento, dinheiro e conquistar o mainstream.

Embora ela ainda seja a figura mais conhecida do movimento, outras drags aparecem flertando com a grande mídia. Elas já são famosas entre o público LGBT e, em passos largos, fecham contratos com gravadoras e fazem parcerias com grandes nomes da música. Cada uma com seu estilo e brilho próprio.

Serviço

Carola Drag, com Kaya Conky, Byanka Nicoly, Nuno Pires, Orlando Dantas, Envy Hoax + Zizara Caralhon, Vanda Mahalla Kashman e Marlon Parente Suilane Oliveira
Onde: Espaço Almirante (Cais Santa Rita, São José, Recife)
Quando: sábado, a partir das 23h
Quanto: R$ 65 (open bar incluso) e R$ 55 (drags e aniversariante do mês e pessoas trans)

Além Pablo Vittar

Glória Groove

Ao compor sua primeira música como Gloria Groove, o paulista Daniel Garcia trocou o segundo verso por um “flow” e ganhou a fama de “drag rapper”. “Isso me ajudou a ganhar destaque entre as drags”, diz o jovem de 23 anos que foi vocalista do Balão Mágico na formação de 2006. Gloria despertou curiosidade por misturar rap e pop. “Acredito que estabeleci uma espécie de ponte entre o hip hop e o movimento LGBT”. Neste ano, decidiu diversificar seu estilo e lançou Bumbum de ouro, com 18 milhões de exibições no YouTube.

Aretuza Lovi
Em 2011, o goiano Bruno Nascimento perdeu uma aposta e teve de se vestir como drag para ir em uma boate. A brincadeira virou profissão. Seu estilo mescla funk, pop e brasilidades. “Pego várias referências, misturo tudo e vira um grande milkshake de diversidade”, define. Em 2017, foi contratada pela Sony Music. “Quando eu assinei, pensei: Eu nunca imaginei que chegaria até aqui”, revela. Na busca de ampliar seu público, lançou uma música com Solange, Arrependida, e prepara seu primeiro disco, intitulado Mercadinho.

Lia Clark
Foi em um bairro periférico de Santos, no litoral paulista, que Rhael Lima de Oliveira teve seus primeiros contatos com o funk, ritmo que levaria para sua carreira como Lia Clark. “Comecei a fazer para me divertir e a carreira foi brotando aos poucos”, explica. Seu estilo musical é marcado pelo funk e o pop. “Sou muito fã da Britney Spears, esse universo do pop dos anos 2000 me inspira”. Boquetáxi, Trava trava e Tome curtindo são seus sucessos, que exploram a sensualidade com um tom de humor. Alguns dos seus clipes tiveram restrição de idade no YouTube. A comunidade LGBT acusa a plataforma de preconceito.