Meio século de amor e dedicação à arte moderna Galeria Ranulpho inicia comemorações dos 50 anos com exposição de Vicente do Rego Monteiro

Caio Ponciano
ESPECIAL PARA O DIARIO
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Publicação: 22/05/2018 09:00

Em 1968, o então joalheiro Carlos Ranulpho aceitou vender os quadros de um amigo na loja de joias e artigos de decoração em que trabalhava. As vendas foram um sucesso, o nome de Ranulpho começou a aparecer nos jornais e foi a partir disso que ele vislumbrou algo que ainda não era formalizado no Recife: as galerias de arte profissionais. Com a mudança de ramo, surgia a Galeria Ranulpho, que inicia as comemorações de meio século em atividade, hoje, às 19h, com a abertura da exposição Vicente em seis atos - uma celebração aos 50 anos da Galeria Ranulpho. “Eu ajudei a construir esse campo no estado e a profissionalizar o ofício de marchand, que investe em artistas e negocia obras de arte. Foi um início muito bom, brindado com exposições de Vicente e outros grandes nomes”, conta Carlos Ranulpho, de 89 anos.

A princípio, o espaço funcionava em um prédio perto do Rio Capibaribe. Dois anos depois, mudou-se para um casarão em Boa Viagem. Em 1977, uma filial foi instalada na região nobre dos Jardins, em São Paulo, e desde 2001 a galeria funciona em um casarão histórico da Rua do Bom Jesus, no Recife Antigo. “É uma trajetória de muita garra, esforço, suor e, acima de tudo, paixão pela arte. Estar há meio século dentro desse mercado, que é instável e se transforma constantemente, é uma raridade no Brasil. E aqui estamos nós, com uma história muito bonita que construímos e também com muita disposição para vivenciarmos novas fases”, celebra Ranulpho.

Considerada uma das maiores referências em arte moderna no Brasil, a Galeria Ranulpho ajudou a projetar nomes de grandes talentos pernambucanos, como Cícero Dias, Wellington Virgolino, Reynaldo Fonseca, José Cláudio e o próprio Vicente do Rego Monteiro, um dos primeiros artistas que expuseram no espaço e o nome que assina as obras da mostra comemorativa. “Vicente estava desacreditado no mercado de arte local, mas eu consegui convencê-lo a pintar novos quadros para uma exposição. Logo na estreia, todas as obras foram vendidas. De certa maneira, ele recuperou o prestígio conquistado nos anos 1920, mas que ao longo das décadas pareceu ter diluído. Criamos um laço de amizade muito forte, para além do profissional”, revela.

Depois que Vicente faleceu, em 1970, Carlos Ranulpho teve como missão representar o artista. Todas as telas escolhidas para a exibição foram produzidas nos anos 1960, período em que Vicente retomou a técnica de pintura tridimensional pela qual ele ficou conhecido, na década de 1920.