Existe fascínio, mas falta investimento na ciência

Publicação: 25/06/2018 03:00

Professor de paleontologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do núcleo de pesquisa sobre répteis e fósseis da instituição, Jonathas Bittencourt diferencia entretenimento e ciência. “Há uma preocupação dos filmes em serem fiéis às anatomias dos dinossauros. Talvez eles caçassem realmente daquela forma. Mas há ressalvas quanto aos exageros cinematográficos. É tudo puro entretenimento, nada educacional”, opina.

Assim como Cartelle, Jonathas chama a atenção para a impossibilidade de clonar um dinossauro a partir da manipulação genética – ponto de partida da franquia. “Os filmes pecam por trazer alguns conceitos incorretos, o que acaba criando uma noção errada sobre até que ponto a ciência pode chegar”, ressalta.

Quando Jurassic Park chegou às telas, Jonathas nem sequer pensava em se dedicar à paleontologia. “Fiquei encantado ao assistir ao primeiro filme, pois tudo me parecia fidedigno. Depois que passei a estudar os dinossauros, vi que, realmente, eles são bem representados, mas com tamanhos bem maiores do que o real”, aponta o professor.

Spielberg pode ter influenciado toda uma geração de profissionais que se dedicam à paleontologia e áreas afins, acredita Bittencourt. “O grande papel desses filmes foi atrair o interesse das pessoas não só para os dinossauros, mas para a paleontologia. Eles contribuem porque, habitualmente, a pesquisa é financiada por dinheiro público. A popularização acaba justificando a pesquisa, fazendo com que nosso trabalho continue, cresça e se aprofunde”, observa Jonathas.

Porém, o fenômeno Jurassic Park poderia ter sido mais proveitoso para o Brasil, caso o investimento em ciência não fosse tão escasso em nosso país, ao contrário dos EUA e da Europa. “Há um interesse maior no que a mídia solta sobre o assunto, enquanto a pesquisa fica limitada à universidade. Se tivéssemos mais museus e mais divulgação da pesquisa feita aqui, certamente os profissionais que quisessem ingressar na área seriam mais estimulados e o efeito seria maior”, afirma.

“Houve aumento de procura, sim, até em nível profissional, mas isso foi aquém dos outros países por conta do pouco investimento (no Brasil) em museus, exposições e no próprio trabalho dos paleontólogos”, reforça Jonathas. Atualmente, seu grupo de pesquisa na UFMG se dedica a fósseis encontrados no Rio Grande do Sul e no Nordeste. O cientista chama a atenção também para achados no Triângulo Mineiro.

Cartelle lamenta a falta de recursos para tocar projetos do museu da PUC Minas. Conta que está quase concluída uma exposição sobre a evolução do homem. Porém, são necessários investimentos para possibilitar sua montagem e a abertura para o público. “Sonho com o dia em que vamos inaugurar essa exposição. Certamente, será uma das mais completas do mundo sobre a temática.”

Apesar de algumas ressalvas, Cástor Castelle e Jonathas Bittencourt concordam: as franquias Jurassic Park e Jurassic World beneficiaram o universo da paleontologia. Mesmo que, vez ou outra, os filmes mandem às favas a realidade.