Jurassic real e a ficção Quando Steven Spielberg lançou Jurassic Park (1993), aumentou o fascínio - da arte e da ciência - pelas criaturas que viveram na Terra antes de nós

Publicação: 25/06/2018 03:00

Em 1993, quando o primeiro longa da franquia Jurassic Park estreou, os dinossauros se tornaram febre mundial. A grandiosa produção dirigida por Steven Spielberg se tornou a maior bilheteria da história do cinema, só desbancada em 1997 por Titanic. O sucesso foi tanto que a primeira trilogia – com títulos lançados em 1997 e 2001 –  deu origem à segunda, iniciada em 2015. Na última quinta-feira, estreiou  oficialmente Jurassic World – Reino ameaçado, em cartaz em cerca de 1,4 mil salas brasileiras. Nada menos de US$ 170 milhões foram investidos no filme dirigido por Juan Antonio Bayone, cujas sessões de pré-estreia ocorrem desde a semana passada.

Vinte e cinco anos depois do longa de Spielberg, prossegue o fascínio – da arte e da ciência – pelas criaturas que viveram na Terra antes do ser humano. “Além do Período Jurássico, há uma enorme curiosidade em torno dos períodos Cretáceo e Triássico (que foram a Era Mesozoica), porque tudo que se sabe a respeito deles é espetacular. A força daqueles dinossauros para se manter de pé, com até 100 toneladas, ou a capacidade de se alimentarem com bocas tão pequenas são coisas desafiadoras, que intrigam até hoje”, avalia Cástor Cartelle, curador de paleontologia do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas.

Em 1991, nos Estados Unidos, Cartelle participou de encontro com sumidades da paleontologia, reunidas para apontar erros e esclarecer dúvidas a respeito dos dinossauros para a equipe que produzia o futuro blockbuster de Spielberg. “Fazia estágio em um museu de Washington e tiveram a gentileza de me convidar para assistir àquela reunião. A equipe do filme se esforçava em corrigir erros comuns a reconstituições. Eles nos questionavam, principalmente, sobre os barulhos emitidos pelos dinossauros. Meus colegas tiveram que explicar que eles não rugiam”, lembra o cientista espanhol, radicado em Minas Gerais desde a década de 1960.

Cartelle elogia o pioneiro Jurassic Park: Parque dos Dinossauros. “Foi um marco. Antes dele, as representações no cinema eram horrorosas. Jurassic Park intensificou não só as visitas, mas também a presença de réplicas de animais nos museus. No passado, muitas delas eram feitas em argila, não em resina, o que resultava em pesos exorbitantes. Com isso, só poderiam ser abrigadas em locais especiais”, explica.

Ao analisar os longas da franquia, o professor aponta disparidades: ora eles são bastante fidedignos, ora extrapolam a liberdade criativa, tornando-se absurdos. “O pessoal não vai ao cinema para ver história, mas para ver os animais. Nesse ponto, os filmes são perfeitos. Aquele triceratops morrendo é uma cena maravilhosa. Os rebanhos de dinossauros são magníficos, provavelmente eles eram daquele jeito mesmo”, elogia Cartelle, referindo-se ao primeiro Jurassic Park.

Mas o cientista põe reparo na ficção: “O filme começa de um ponto que dificilmente poderia ocorrer: a captura do DNA da espécie a partir da gota de sangue em uma resina. Também há cenas de pterossauros enormes voando e carregando pessoas. Houve pterossauros grandes, mas, no caso da maior parte deles, se você lhe desse um sopapo ele já caía”, diverte-se. “Tudo isso é imaginação, mas não é essa a base de grande parte dos filmes?”, observa. (Estado de Minas)