Uma velha casa nas Graças foi equipada com o que havia de mais moderno nas boates para abrigar a Over Point. O estabelecimento comandado pelos irmãos Rogério, Wilson e Romero Amorim chamou a atenção de produtores do país inteiro e virou reduto da música eletrônica na capital pernambucana. O publicitário Yoran Junior, ou DJ JR, era o residente, considerado a alma da Over. “Foram 14 anos lotada. A magia era ver as pessoas irem ouvir o melhor da música. Fazia um long set de cinco horas e adentrava a madrugada, chegando às 6h”, relembra. A casa funcionou de 1986 até 1999, nas Graças. Chegou a reabrir na cobertura do Paço Alfândega, no Recife Antigo, em 2010, mas só durou um ano.

No bar, uísque escocês, vodca nacional ou importada e vinho branco. As estripulias que o público fazia são lembranças que renderiam um livro. “Muitos falsificavam carteira de identidade para entrar. As mulheres se produziam como nunca, escolhiam as melhores peças e faziam o cabelo”, recorda Yoran. O ambiente era climatizado com cerca de 30 máquinas, mas com o cigarro liberado, a exaustão precisava ser muito eficiente para renovar o ar a cada 30 minutos.

Um dos hinos foi a música Never gonna give you up, de Rick Astley. “Esse disco chegou de Londres. Quando toquei a reação do público foi absurda. Me perguntavam que música era aquela e pediam para tocar de novo. Repetia a faixa por quatro vezes na noite”, contabiliza.

Ícones

Cantinho das Graças
Bar simples na Rua Guilherme Pinto é apontado como berço do Manguebeat, onde ocorreram as primeiras ideias para o movimento.

Clube da Farra
Casarão verde trazia placa de carro na fachada com o nome Clube da Farra. Os associados ganhavam o CrediFarra e pagavam o consumo no final do mês.

Over Point
A balada eletrônica ficou famosa na cidade de 1986 a 1999 e tocava as paradas de sucesso de boates de Nova York e Miami. O público se produzia para ir ao local e a concorrência resultava em longas filas para entrar. No bar, uísque escocês, vodca nacional ou importada e muito vinho branco.