Alice Caymmi vai até a essência Electra é o quarto disco do forte nome da nova geração

Publicação: 01/06/2019 03:00

A audição de Electra, quarto álbum de Alice Caymmi, passa a sensação de ouvir um disco que seria a evolução de seu segundo trabalho, Rainha dos raios, de 2014. Nos dois, há uma forte inventividade na recriação de canções de outros autores. Desta vez, a cantora optou pelo formato voz e piano, contando com o experiente Itamar Assiere nos teclados. Quase um João Donato de sua geração, Assiere tece uma base impecável para o repertório. Suas escolhas são fundamentais para provar como Caymmi é uma cantora diferenciada na nova geração. O disco não trilha o caminho de grandes sucessos do passado. Na verdade, todas as faixas têm assinaturas famosas, mas estão bem longe do grupo das mais conhecidas de seus autores.

Caso exemplar é Fracassos, de Raimundo Fagner, que recebe uma interpretação quase acanhada, mesmo na voz poderosa de Caymmi. Faz contraponto, por exemplo, a Medo, exagero dramático do universo da portuguesa Amália Rodrigues. A cantora vai buscar Mãe (Mãe solteira) entre as faixas de Estudando o Samba (1976), de Tom Zé. Mais obscura é Pelo amor de Deus, que Tim Maia lançou em 1972. O garimpo de Caymmi extrai dele uma canção que merecia mesmo uma revigorada. A gravação de Tim sufocou um pouco a música, que com ela ganha aura de hit. Adorada pelos modernos de plantão, Caymmi faz algumas incursões no samba que trazem surpresa. Ela abre o álbum com De qualquer maneira, de Candeia, depois passa por Aperta outro, de seu pai, Danilo Caymmi. Em um dos grandes momentos, escolhe Pedra falsa, de Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte.