Álbum Revolver trouxe clássicos instantâneos

Publicação: 25/10/2019 03:00

Dois anos depois da estreia, Walter lançou sua obra-prima, Revolver. O disco mostra faixas com mais cara de canções, algumas clássicas instantâneas, como Eternamente e sua curta e inventiva letra: “Eternamente/ É ter na mente/ Éter na mente/ Eterna mente”. Entraram para a história da MPB a poderosa faixa-título e o rock quase pesado de Feito gente, que ganharia regravações de inúmeros artistas.

Na música Revolver já aparecia o estilo mântrico de várias composições do artista, estudioso de culturas orientais. Na letra, algum didatismo zen: “Lembrar de esquecer/ Esquecer de lembrar/ Cansar de dormir/ Dormir, descansar”.

Era um prenúncio daquela que seria sua canção mais famosa, Coração tranquilo, gravada no álbum seguinte, Respire fundo (1978). Tem apenas quatro versos, que costumavam ser repetidos dezenas de vezes pela plateia no encerramento de seus shows: “Tudo é uma questão de manter/ A mente quieta/ A espinha ereta/ E o coração tranquilo”.

Seu disco seguinte, Vela aberta (1979), era um pouco voltado a uma música mais palatável. Não à toa, tem dois dos grandes hits do cantor: Vela aberta, uma balada serena, e o rock pesadão Canalha, que rendeu a ele mais vaias poderosas em festival de música, da extinta TV Tupi.

Ambas se tornaram obrigatórias em seus shows, assim como Serra do Luar, sucesso na voz de Leila Pinheiro e mais um exemplo da poesia existencial de Walter Franco: “Viver é afinar o instrumento/ De dentro pra fora/ De fora pra dentro”. Depois de um disco mais fraco, Walter Franco, em 1982, ele só gravaria novamente em 2001, com Tutano. O álbum mostrou seu trabalho a novas gerações, com participação especial de Arnaldo Antunes. Mas não significou uma retomada forte da carreira fonográfica.

A miopia do mercado fonográfico não conseguia encaixar Walter. Passou por períodos de ostracismo, assim como Jards Macalé, Luiz Melodia, Jorge Mautner e outros gênios chamados de “malditos”, rótulo que todos eles sempre detestaram.

Nos anos seguintes, Walter trabalhou ligado a arrecadação de direitos autorais, na entidade Abramus, e fez shows esporádicos. Manteve uma banda fixa desde 2015 e quase sempre era acompanhado nos shows por Diogo Franco, cantor, compositor e um de seus quatro filhos. Todas as vezes em que subia ao palco, exibia seu paradoxo: a agressividade crua de Canalha e a singeleza carinhosa de Coração tranquilo. (Folhapress)