Como seria se Jesus voltasse à terra hoje?
Messiah: Série original recém-lançada pela Netflix tem causado polêmica e abarcado forte audiência ao mostrar a história fictícia de um profeta iraniano apontado como o responsável por eliminar o Estado Islâmico
Paulo trigueiro
Especial para o Diario
Publicação: 11/01/2020 03:00
O messias é enviado por Deus para ensinar e guiar a humanidade. E, por isso, é fundamentalmente subversivo à ordem do seu tempo. Na série original Netflix Messiah, lançada no abrir das cortinas de 2020, o profeta iraniano Al-Masih não parece ser muito diferente do nazareno adorado pelos católicos. Inclusive em seu papel político, setor ao qual a fé caminha intimamente ligada desde que a existência se tornou um ser social. Sua presença incomoda o império atual, americano, tal qual Jesus o romano.
Al-Masih surge, primeiro, vestido em uma túnica dourada pregando antes e durante uma tempestade de areia agigantada no Oriente Médio. A intempérie é responsável por afastar da cidade o Estado Islâmico (EI) - que planejava um ataque devastador no local. Comenta-se, entre as testemunhas, que o profeta pregou durante os 30 dias de tempestade, foi responsável pelos ventos, pela fuga do EI e que deve ser percebido como o novo messias. Assim é feito por cerca de duas mil pessoas, que decidem seguir o mestre. Ele os leva em uma longa caminhada pelo deserto.
Al-Masih é preso pela polícia de Israel, mas já está sendo investigado pela CIA americana: pode se tratar de um terrorista. No interrogatório, dá mostras ao espectador daquilo que pode ser uma onisciência divina ou um trabalho primoroso de contrainteligência realizado por uma complexa rede que lhe suporta. E a série segue, assim, com o personagem principal dividindo opiniões. De um lado, seus seguidores. De outro, os céticos. E os personagens que acompanham o suposto messias passeiam com fluida mobilidade entre os dois grupos. Mas também no sofá das casas em que ela é exibida. Afinal, se a obra não dá certeza sobre a genuinidade do que Al-Masih apresenta, o que resta ao espectador é escolher: você prefere que ele seja o messias ou não? Ele te converteu?
Para cada milagre, possíveis alternativas racionais são apresentadas, sem que nenhuma tenha garantia de ter ocorrido. Porque, mesmo se não houver milagres - se tudo for, talvez, ilusionismo, por exemplo - ele ainda poderia ser o ungido. Quem falou que é preciso superpoderes para representar Deus na terra?
Dentro de um clichê, o “como seria se Jesus voltasse à terra hoje”, Messiah ultrapassa com muita folga o limite do entretenimento. É arte, no sentido de que é arte aquilo que desperta mais de uma possibilidade de interpretação nos seus consumidores, como já definiu o professor de literatura da UFPE Anco Márcio Tenório Vieira.
CONTINUAÇÃO
Ainda não há confirmação nem evidências de que a série Messiah terá uma segunda temporada na Netflix. Por um lado, pouca publicidade lhe foi dedicada para sua primeira temporada. Por outro, tem sido grande a repercussão. Os relatos de pessoas devorando todos os episódios disponíveis em um ou dois dias multiplicam-se. Pano para manga tem.
A rede de suporte (que independe de ser sua origem divina ou humana para existir) pode ser mostrada e, pelo final da primeira temporada, uma grande travessia deverá ser feita: justamente os agentes governamentais mais céticos terão os maiores motivos para acreditar e seguir Al-Masih.
Al-Masih surge, primeiro, vestido em uma túnica dourada pregando antes e durante uma tempestade de areia agigantada no Oriente Médio. A intempérie é responsável por afastar da cidade o Estado Islâmico (EI) - que planejava um ataque devastador no local. Comenta-se, entre as testemunhas, que o profeta pregou durante os 30 dias de tempestade, foi responsável pelos ventos, pela fuga do EI e que deve ser percebido como o novo messias. Assim é feito por cerca de duas mil pessoas, que decidem seguir o mestre. Ele os leva em uma longa caminhada pelo deserto.
Al-Masih é preso pela polícia de Israel, mas já está sendo investigado pela CIA americana: pode se tratar de um terrorista. No interrogatório, dá mostras ao espectador daquilo que pode ser uma onisciência divina ou um trabalho primoroso de contrainteligência realizado por uma complexa rede que lhe suporta. E a série segue, assim, com o personagem principal dividindo opiniões. De um lado, seus seguidores. De outro, os céticos. E os personagens que acompanham o suposto messias passeiam com fluida mobilidade entre os dois grupos. Mas também no sofá das casas em que ela é exibida. Afinal, se a obra não dá certeza sobre a genuinidade do que Al-Masih apresenta, o que resta ao espectador é escolher: você prefere que ele seja o messias ou não? Ele te converteu?
Para cada milagre, possíveis alternativas racionais são apresentadas, sem que nenhuma tenha garantia de ter ocorrido. Porque, mesmo se não houver milagres - se tudo for, talvez, ilusionismo, por exemplo - ele ainda poderia ser o ungido. Quem falou que é preciso superpoderes para representar Deus na terra?
Dentro de um clichê, o “como seria se Jesus voltasse à terra hoje”, Messiah ultrapassa com muita folga o limite do entretenimento. É arte, no sentido de que é arte aquilo que desperta mais de uma possibilidade de interpretação nos seus consumidores, como já definiu o professor de literatura da UFPE Anco Márcio Tenório Vieira.
CONTINUAÇÃO
Ainda não há confirmação nem evidências de que a série Messiah terá uma segunda temporada na Netflix. Por um lado, pouca publicidade lhe foi dedicada para sua primeira temporada. Por outro, tem sido grande a repercussão. Os relatos de pessoas devorando todos os episódios disponíveis em um ou dois dias multiplicam-se. Pano para manga tem.
A rede de suporte (que independe de ser sua origem divina ou humana para existir) pode ser mostrada e, pelo final da primeira temporada, uma grande travessia deverá ser feita: justamente os agentes governamentais mais céticos terão os maiores motivos para acreditar e seguir Al-Masih.