Um baiano amado pelo público pernambucano

Publicação: 14/04/2020 03:00

Quando passou a integrar o trio elétrico de Dodô e Osmar, Moraes Moreira expandiu suas referências para Pernambuco. Foi nessa época que ele conheceu melhor compositores pernambucanos como Capiba, Nelson Ferreira, Antônio Maria e Duda, e lançou diversos sucessos carnavalescos inicialmente rotulados como “frevo eletrizado”. O ritmo recifense inspirou faixas como Satisfação (1976) com Gilberto Gil, Bloco do Prazer (1979), Vassourinha elétrica (1980), Dodô no céu, Osmar na terra (1981), além de Cadê o trio? (1983) e Chame gente (1985), ambas com Armandinho. Foi uma contribuição importante para que o frevo se tornasse mais consumido pelo Brasil até meados dos anos 1980.

O seu quarto disco solo, Lá vem o Brasil descendo a ladeira (1979), mudou o destino do carnaval baiano com canções como a faixa-título, Eu sou o carnaval, Chão da praça e Assim pintou Moçambique, que mesclaram o frevo dos trios elétricos com o batuque dos blocos afro. Isso abriu caminho para os hibridismos que impulsionaram o eclodir da axé music, gênero que ganha um sucesso comercial predatório a partir dos anos 1990.

Mesmo quando o frevo ficou escanteado pela cultura de massa, Moraes Moreira sempre reconheceu a influência do bloco Vassourinhas para os primórdios do carnaval baiano. Ele também foi um crítico do caráter mercantil que a festa baiana ganhou ao longo dos anos, com a cultura do “cordão e pipoca”, que ressaltou desigualdades brasileiras. E, por fim, gravou frevos por um tempo considerável.

Por esses motivos, Moreira sempre foi um músico querido pelos pernambucanos, até pelos frevistas mais puristas. Em 1998, ele ganhou o título de Cidadão do Recife, concedido na Câmara de Vereadores da cidade. “De coração, ele é pernambucaníssimo”, disse o vereador João Negromonte, autor do projeto, durante o evento, embalado pelo som do grupo de maracatu Nação Erê e pelo frevo do Bloco das Ilusões.

“Quando o avião vai descendo por aqui, me arrepio. Pernambuco é de arrepiar”, disse o músico, durante o show da turnê Acabou chorare: Os Novos Baianos se encontram no Classic Hall, em Olinda, em 2017. A banda voltou ao estado em 7 de fevereiro deste ano, para a prévia carnavalesca Enquanto Isso na Sala da Justiça, no Centro de Convenções. Em ambas ocasiões, ele cantou Frevo nº 2, clássico de Antônio Maria, com muita sinceridade, sobretudo no trecho “De que adianta se o Recife está longe / A saudade é tão grande, que eu até me embaraço”. A saudade, agora, é sentida pelo Recife. (Emannuel Bento)