Gênese do crime com voz pernambucana "O Jogo que Mudou a História" conta o surgimento da organização das facções do Rio de Janeiro com os pernambucanos Pedro Wagner e Jailson Silva

Allan Lopes

Publicação: 03/06/2024 03:00

A partir do próximo dia 13, O Jogo que Mudou a História, nova série Original Globoplay, transporta os espectadores para o Rio de Janeiro das décadas de 1970 e 1980, quando as facções criminosas já disputavam o controle das favelas e dos presídios. O público pernambucano rapidamente vai reconhecer o sotaque dos seus conterrâneos Pedro Wagner e Jailson Silva, naturais de Garanhuns e Carpina, respectivamente. A dupla, que encena dois irmãos com personalidades opostas, ganha destaque em uma narrativa repleta de heróis e anti-heróis.

Ao longo de dez episódios, com publicação de dois por semana sempre às quintas-feiras, diferentes tramas se entrelaçam em três comunidades fictícias: Padre Nosso, Parada Geral e Morro da Promessa. Outro cenário-chave da trama, o presídio de Ilha Grande, é o ambiente da disputa de poder entre as facções “Jacaré” e “Turma do Fundão”, composta por presos políticos e assaltantes de banco, como Chico da Cavanha (Rômulo Braga), Rosevan (Bukassa Kabengele), mais conhecido como Mestre, e Hoffman (Babu Santana). O público vai acompanhar como os conflitos se alastram pelas favelas e até mesmo o campo de futebol, resultando em uma guerra que durou 25 anos.

As implicações do conflito na prisão impactam diretamente no cotidiano das comunidades que, outrora pacíficas, agora são palco de disputas entre facções rivais, como Parada Geral e Padre Nosso. Nesta última, Amarildo, interpretado por Pedro Wagner, assume o papel de líder comunitário, comprometido em manter a paz e combater a violência. “Amarildo não segue as mesmas regras morais daqueles em posições privilegiadas. Sua moral é outra. Eu não queria retratá-lo de maneira heroica, mas sim mostrar sua humanidade, suas contradições, sua complexidade humana”, salienta o ator, cujo currículo inclui Justiça (2016), Segunda Chamada (2021) e Cangaço Novo (2023).

A trama se intensifica com o reencontro de Amarildo e seu irmão, Belmiro (Jailson Silva), um ex-policial agora detido, que promete trazer reviravoltas inesperadas. Segundo Pedro Wagner, a dupla nordestina é fundamental no enredo. “Enquanto estávamos filmando, sempre falava para Jailson: ‘Nós somos os dois corações desta série’. Embora não tenhamos gravado juntos tanto quanto gostaríamos, o que gravamos foi muito intenso. Quando Belmiro retorna e passa a conviver novamente no seio familiar, toda essa contradição que Amarildo tentou manter afastada durante anos entra em cena por meio desse outro coração, que é Belmiro”.

Com longa experiência no cinema independente, Jailson Silva encarou um dos maiores desafios da sua carreira ao tentar entender as motivações de Belmiro. “Ao contrário do seu irmão Amarildo, que representa a esperança e a busca pela paz na comunidade, Belmiro é uma figura controversa, com um passado de policial e detento. A dualidade dele – o bem e o mal, a justiça e a transgressão – me obrigou a explorar várias camadas emocionais e comportamentais. Foi essencial entender suas motivações e dilemas internos para representá-lo de forma autêntica e humanizada”.

Além da veracidade visual e histórica, O Jogo que Mudou a História também se destaca pela ampla diversidade regional e racial do elenco. Jaílson exalta a seleção de atores e atrizes majoritariamente pretas e nordestinas. “Isso não só garante uma representação fiel das histórias e realidades que estamos contando, mas também dá voz e visibilidade a comunidades e grupos historicamente marginalizados. Ter atores que entendem e vivenciam as nuances culturais e sociais dos personagens que interpretam enriquece a trama”, comenta. A criação e produção da série é de José Júnior, com direção geral de Heitor Dhalia.

Conhecido na cena artística pernambucana ao integrar o grupo teatral Magiluth, em 2009, Pedro Wagner teve sua primeira incursão na TV no papel do psicopata Osvaldo, na série Justiça. Desde então, o ator agrestino se firmou nas prateleiras de cima e atualmente figura em superproduções nacionais, a exemplo de Cangaço Novo e O Jogo que Mudou a História. Pedro, no entanto, se pergunta em que momento a percepção de que há mais espaço para atores nordestinos se tornará palpável. “Eu sinto que talvez há 15 anos fosse mais complicado, mas ao mesmo tempo a gente já está há 10 anos nessa situação. Essa sua pergunta me gera mais questionamentos do que uma possível resposta”.