Atuar e celebrar, sem se entregar Aos 91 anos de vida e 71 de carreira artística, Othon Bastos apresenta "Não me Entrego, Não!", dentro do Festival Recife do Teatro Nacional, amanhã e quarta

ROBSON GOMES
Giro Blog

Publicação: 25/11/2024 03:00

O nome de seu espetáculo é Não Me Entrego, Não! E é isso que a pessoa física Othon José de Almeida Bastos tem feito ao longo de seus 91 anos de vida e 71 de carreira artística, quando se tornou conhecido do público apenas como Othon Bastos. Nascido em Tucano, no sertão da Bahia, o veterano tem se aventurado, desde junho, nesta montagem – escrita e dirigida por Flávio Marinho – que é um dos destaques da vasta programação da 23ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional, apresentando-se amanhã e quarta, às 19h, no Teatro do Parque.

Com o objetivo de relembrar vivências e fatos marcantes de sua trajetória, o monólogo partiu do próprio Othon que, após assistir a peça Judy: O Arco-íris é Aqui, de Flávio, ficou com a ideia de também estar em cena relembrando suas histórias. Por isso, a partir de trocas entre os dois e de um calhamaço de escritos sob a diligência de Flávio, o solo foi elaborado sob minuciosa pesquisa, levando em conta os principais acontecimentos da existência do intérprete.

“Lembro que nessa primeira conversa, eu disse ao Flávio: não quero amarguras! Nada de coisas tristes, depressões, dificuldades... Vamos ver o lado alegre da carreira, o lado maravilhoso que é ser um ator, mas quebrando essa ilusão de que tudo é sucesso. Como diz o [filósofo Friedrich] Nietzsche: o sucesso é o maior mentiroso que existe”, relembra Othon, em entrevista exclusiva ao Diario.

O artista fez questão de ressaltar que a peça não é totalmente autobiográfica: “Não fala só de mim. Fala da história, da história do teatro, da história política, da história de tudo!  O importante, ali, é que falo de tudo e isso gera muita identificação do público”.

Uma das situações que ele conta no espetáculo com muito bom humor, foi sobre um certo “conselho” que ouviu de uma professora, que ele “nunca mais na vida fizesse nada de arte”. Felizmente, desobedeceu.

Após estrear, em 1951, com  Uma Terra Queimada, de Aristóteles Soares, Othon nunca mais deixou o mundo artístico. Desde então, foram cerca de 30 peças, 80 filmes – como o icônico Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha – e na televisão, somente na TV Globo, mais de 40 produções, entre novelas, minisséries e especiais.

Mesmo com tão relevante currículo, o artista sabe que seu lugar são os palcos. “Eu não faço trabalhos para posteridade. Porque tudo já está aí: os filmes para quem quiser ver, as novelas... Mas as peças não. As pessoas vão ao teatro por causa do ator ou elenco. Então, eu faço teatro com muita alegria, porque é o que me importa de verdade. Cinema foi um grande acontecimento na minha vida. Televisão foi um trabalho extra. Mas o teatro, de fato, é o que me preenche profissionalmente”, arremata.

E é com esse coração cheio de boas lembranças que ele desembarca no Recife, de onde recorda com saudade de um episódio no Teatro de Santa Isabel, ao apresentar Um Grito Parado no Ar, de Gianfrancesco Guarnieri. “Quando acabou a peça, aquele teatro completamente lotado aplaudiu de pé, gritando ‘fica, fica, fica’. Foi a maior emoção que eu tive, junto com meu grupo. Não podíamos ficar por causa dos compromissos agendados nos dias seguintes, mas eu jamais esqueci esse momento. E é com essa emoção do ‘fica’ que voltao ao Recife”, projeta.