Carminha tirou beleza até das sombras "Íntimo idioma" reúne 192 poemas de Maria do Carmo Campello de Melo e será lançado hoje à noite, na Academia Pernambucana de Letras

André Guerra

Publicação: 25/11/2024 03:00

Neste ano, que completa o centenário de Maria do Carmo Campello de Melo, a poesia ganha hoje ainda mais destaque com o lançamento, através da Cepe Editora, do livro Íntimo idioma, às 19 horas, no Auditório Mauro Mota da Academia Pernambucana de Letras, nas Graças, que reúne a obra da autora ao longo de 376 páginas. Na ocasião, haverá uma curta apresentação da Orquestra dos Médicos e a ainda a recitação de poemas dela pelos atores José Mário Rodrigues, Adriano Cabral e Sônia Bierbard, a organizadora da publicação.

Nascida no Recife em 21 de julho de 1924 e falecida na sua cidade natal em 23 de julho de 2008, Maria do Carmo foi bacharel e licenciada em Letras Clássicas e Licenciada em Didática de Letras Clássicas pela Faculdade de Filosofia do Recife, além de pós-graduada em Aperfeiçoamento em Literatura e Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Pernambuco. Acumulando experiência na redação do Jornal do Commercio, onde mantinha a coluna ‘Nossa Página’, a autora ocupou a Cadeira nº 29 da APL e a partir de 1968, com Música do silêncio – 1º Momento: Os símbolos e 2º Momento: Os sobreviventes, publicou diversos livros de poesias, como VerdeVida: O tempo simultâneo, Ser em trânsito, Miradouro, Partitura sem som e outros que marcaram a literatura do estado.

A atriz e poeta Sônia Bierbard, que foi nora de Maria do Carmo e conviveu com ela durante muitos anos, teve a iniciativa de reunir esses 192 presentes no livro Íntimo idioma ao verificar que os livros da poeta estavam fora de catálogo. Sabendo da importância histórica daquela obra para Pernambuco e para o Brasil, ela apresentou à Cepe o projeto de uma publicação que partisse da antologia Retrato abstrato, de 1990, e fosse juntada aos livros posteriores, Solidão compartilhada, Visitação da vida e A consoada - este último que, nas palavras da autora falecida, iria conter os seus melhores poemas, na sua avaliação, e pelos quais ela mais gostaria de ser lembrada.

Responsável pelo prefácio, Lourival Holanda, presidente da APL, faz uma análise da obra de Maria do Carmo indicando as preocupações e compromissos da poeta frente a um Brasil que vivia sob o regime militar entre 1964 e 1985.

“Sua poesia traz a tônica da confiança. Da fé, na dimensão privada; da esperança, na dimensão social. E sempre com seu modo manso de agir. O seu, não foi um tempo fácil; ela o viveu, inteira, intensa, testemunhando no canto — entre a revolta e a reserva — sua relação com o mundo”, escreve.

“Desde a minha adolescência eu escrevia poesia como uma forma de registrar e tentar me entender. E eu encontrei na poesia de Carminha um pouco disso e me apaixonei pelo trabalho dela. Quando ela foi tomar posse na APL, me pediu pra fazer uma apresentação, ocasião em que eu fiz de fato um mergulho no trabalho dela”, relembra Sônia Bierbard em entrevista ao Viver.

“Nossa relação literária ganhou muita força porque eu vi o quão forte e profunda e o quão importante era essa voz dela. Uma mulher madura, casada, religiosa e com uma vida consolidada e feliz, mas que falava da dor humana, de se entender, de uma forma absolutamente verdadeira, que toca as pessoas. A forma como ela criava suas poesias, indo por vários campos da vida, mostrava como existe beleza em vermos as nossas próprias sombras também e em tudo o que está no nosso entorno. Ela ensina a gente a olhar para a vida de uma forma diferente, o que é boa parte do trabalho do poeta mesmo: levantar as pessoas do mundo real e fazê-las observar os ‘grandes acontecimentos’, como ela dizia, de uma maneira humana”, completou Sônia.