A literatura e o cinema perdem Fernando Monteiro
Escritor, poeta e cineasta recifense morreu aos 75 anos, na última terça-feira, deixando uma obra pautada pela rebeldia e pelo inconformismo
Allan Lopes
Publicação: 14/02/2025 03:00
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Fernando dirigiu curtas sobre Brennand e João Câmara |
Em conversa com o Viver, o jornalista e escritor Homero Fonseca ratifica a rebeldia na vida e obra do amigo, inspirada no inconformismo de Lima Barreto (1881-1922). "Era um dos escritores contemporâneos que mais dominava a técnica da escrita em nosso meio, ao mesmo tempo em que mantinha uma postura avessa às manadas, assumindo a figura de um lobo solitário", situa Homero. "Lamento profundamente a sua perda e a convivência que agora nos faltará", complementa.
Nascido em 20 de maio de 1949, Fernando Monteiro era bacharel em Ciências Sociais e estudou cinematografia na Itália. O livro de poemas Memória do Mar Sublevado marcou o início da sua carreira literária. Ao longo da vida, conquistou prêmios importantes, como o da União Brasileira de Escritores (UBE), por Ecométrica (1984). Já como teatrólogo, levou o Prêmio Literário Othon Bezerra de Mello, da Academia Pernambucana de Letras, com a peça O Rei Póstumo. Em seguida, vieram títulos como Cabeça no Fundo do Entulho e O Livro de Corintha, vencedor do Prêmio Pernambuco de Literatura (atualmente Prêmio Hermilo Borba Filho de Literatura), na categoria romance.
No cinema, Fernando dirigiu 15 documentários de curta-metragem, nos quais retratou artistas como o paraibano João Câmara e o pernambucano Francisco Brennand. Muitos deles tiveram exibições em festivais no México, Alemanha e Polônia. Ele dispensava recursos digitais para filmar em película e defendia com vigor o curta-metragem como um gênero próprio.
Em 2017, o escritor foi homenageado na Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. Em entrevista concedida ao Viver, explicou sua decisão de abandonar os romances: "A minha atitude foi contra essa preferência no mundo inteiro. Claro, nenhum editor deixou de dormir por causa disso (risos). Mas, quando abandonei o romance, não incluí o conto".
Assim como suas obras nunca se renderam aos modismos, o legado de Fernando Monteiro será sempre ousado e, acima de tudo, provocador.