Desbunde na tela e em livro Showman Edy Star chega aos 87 anos com sua história contada em documentário de Fernando Moraes e em biografia de Ricardo Santhiago

Allan Lopes

Publicação: 08/02/2025 03:00

Plenitude e liberdade são marcas dos 87 anos de Edy Star, ícone queer e enigma vivo. Mas ainda faltava um simples empurrão para que o showman baiano pudesse revelar ao Brasil os bastidores de sua vida cheia de som, fúria e ousadia. Pioneiro da música glam no país, e primeiro artista a assumir publicamente sua homossexualidade, Edy cedeu a convites para ter sua trajetória de altos e baixos desvendada no documentário Antes que Me Esqueçam, Meu Nome é Edy Star, dirigido por Fernando Moraes, e mais recentemente na biografia Eu Só Fiz Viver – A História Oral Desavergonhada de Edy Star. Em circulação pelo país desde novembro, o filme será exibido terça-feira (11), no Cinema da Fundação (Sala Derby), a partir das 19h30. Já o livro está à venda nas livrarias físicas e on-line.

Em conversa exclusiva com o Viver, o artista mantém o tom irreverente ao falar sobre a atenção que recebe. “Eu, sinceramente, acho que não tenho nada de relevante para compartilhar”, desconversa. As quase 400 páginas do livro, entretanto, desmentem essa modéstia, com registros minuciosos que partem da infância e adolescência inusitadas do cantor na Bahia, onde começou nas artes cênicas com o projeto Hora da Criança, até a amizade com Caetano Veloso, a composição, com Gilberto Gil, do clássico Domingo no Parque e a aventura nas artes plásticas. Por mais que tente disfarçar, Edy admite que seus 87 anos não cabem na biografia ou no documentário. “Não são as histórias completas. São apenas pedaços da minha vida”, avisa.

Um dos episódios que sintetizam a influência do artista na música brasileira é sua participação no antológico disco Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, com Raul Seixas, Sérgio Sampaio e Miriam Batucada – hoje, Edy é o único “kavernista” vivo. Autor da biografia, Ricardo Santhiago revela: “Não há bastidores inéditos sobre esse disco porque a história é pontual e já foi muito discutida. O que talvez seja novo é a impaciência do Edy com relação a esse tema”.

Por outro lado, Edy poderia passar horas relembrando sua passagem pelo Recife, onde viveu por quatro anos. Em 1967, após se destacar como ator amador e ingressar na Companhia Baiana de Comédias (CBC), foi indicado na capital pernambucana como um dos melhores atores itinerantes da região. Esse reconhecimento o levou a ser contratado pela Prodarte, para atuar no musical Memórias de 2 Cantadores, dividindo o palco com Teca Calazans, Naná Vasconcelos e Marcelo Melo, que formaria o Quinteto Violado. “Eu subia até o Alto da Sé, conversava com Dom Helder Camara, aquele homem incrível. Ele veio assistir aos nossos espetáculos várias vezes”, recorda.

Depois, na TV Jornal do Commercio, iniciou a carreira de produtor artístico ao lado de José Pimentel e Carmem Peixoto. Em 1972, após o disco dos Kavernistas, os quatro deixaram a gravadora CBS, insatisfeitos com a falta de oportunidades e o conservadorismo da época. Edy então começa a se apresentar em cabarés na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, com shows performáticos influenciados pelos Dzi Croquettes. Numa dessas noites, conheceu Maria Alcina, que estava prestes a sair da boate Number One e o chamou para ficar em seu lugar. “A minha vida na Zona Sul de Ipanema foi marcada por essa substituição”, relembra Edy. Ele espera dividir o palco com sua amiga em breve. Ambos vivem hoje em São Paulo. “Você pode imaginar o quanto nossa amizade é antiga. Já são muitos anos e até hoje nos encantamos um com o outro, saindo para jantar toda semana”, conta.