Entre Capiba e Caymmi Amigos de longa data, Zé Manoel e Isadora Melo sobem juntos ao palco da Caixa Cultural em show que celebra os ícones da nossa música

ALLAN LOPES

Publicação: 25/03/2025 03:00

 (DIVULGAÇÃO)

As canções de Capiba e de Dorival Caymmi, como Recife, Cidade Lendária e Você Já Foi à Bahia? respectivamente, eternizaram o amor, as festas e os lugares de suas origens. Agora, Zé Manoel e Isadora Melo — representantes da respeitada cena pernambucana — exploram os eixos que unem as obras dos dois mestres no show Capiba Caymmi, lançando um olhar contemporâneo de quem habita esse mesmo chão, mas em outro tempo. A estreia acontece hoje, na Caixa Cultural Recife, e segue até sábado, com ingressos a preços populares.

O projeto acrescenta um novo capítulo à parceria musical de Isadora e Zé, cuja amizade se reflete em composições e gravações ao longo dos anos. A aproximação aconteceu em 2011, durante um tributo a Nelson Cavaquinho, quando cantaram pela primeira vez. Encantado com a voz de Isadora, Zé a convidou para participar do seu álbum de estreia, simplesmente Zé Manoel. “Aos poucos, fomos nos aprofundando na arte um do outro, trocando referências e aprendendo juntos”, comenta ele, em conversa exclusiva com o Viver. Mais recentemente, o cantor a chamou para participar do disco Coral, no qual ela aparece na faixa Siriri. Como se vê, nunca mais se largaram.

A construção do novo show demandou uma investigação profunda sobre como as obras de Capiba e Caymmi teceram os imaginários do Recife e de Salvador. Foi dessa interseção entre geografia e música que nasceu o projeto, ampliando o diálogo para as conexões culturais entre Pernambuco e Bahia. “Achamos que seria lindo unir os dois compositores num mesmo projeto”, explica Isadora. Uma das descobertas envolveu uma declaração do saudoso violonista Rafael Rabello, que, ao gravar um disco inteiramente dedicado ao pernambucano, afirmou em entrevista: “Capiba era o Caymmi do Recife”.

Outro achado revelador da pesquisa é que tanto Capiba quanto Caymmi costuram em suas letras um verdadeiro inventário de mulheres — como Rosa Morena e Maria Betânia. “Acho que ambos têm temas recorrentes em suas obras, mas cada um os expressa de forma única. Embora possa haver uma influência mútua, são duas mentes independentes, cada um cantando sua cidade, sua cultura, seu povo e suas festas”, observa Zé.

Ao longo do processo, Isadora Melo — que compõe há cerca de cinco anos e já teve canções gravadas pela Orquestra Malassombro, da qual é integrante — percebeu que parte de seu repertório autoral dialogava com o universo do show. “É claro que essa identidade está presente em nossa obra, no desejo de representar quem somos e reconhecer a importância de nossa identidade cultural”, afirma.  

Entre as pérolas do repertório de Capiba e de Caymmi, como A Mesma Rosa Amarela, Madeira de Lei Que Cupim Não Rói, Morena do Mar e Samba da Minha Terra, haverá espaço para essas surpresas. Sem Mão Não Tenho Nada, da própria Isadora, emerge como um retrato íntimo do Recife. Zé Manoel, por sua vez, apresentará Resta Sorrir (parceria com a companheira de palco), em que amplia o zoom para mostrar como a cidade inteira pode ser cenário de uma história amorosa. “Encontramos essa rica relação entre os trabalhos deles e os nossos, criando uma conexão profunda com a nossa terra e o nosso DNA”, explica o cantor.

Além das apresentações no palco da Caixa Cultural, o projeto oferece ações formativas gratuitas. Hoje, às 14h, o maestro Rafael Marques, marido de Isadora, ministra o concerto-aula A Estética do Frevo. No próximo sábado, às 16h, o jornalista José Teles conduz a palestra Capiba e Caymmi – Todos Cantam sua Terra, Também Vou Cantar a Minha. De Capiba e Caymmi a Isadora e Zé, Recife e Salvador se fundem entre passado e presente.