CARNAVAL DP 2025 » O frevo através do tempo Em conversa com o Viver, o mestre Claudionor Germano relembra momentos importantes de sua longa carreira e a amizade com Capiba, de quem se tornou o principal intérprete

André Guerra

Publicação: 01/03/2025 03:00

 (PRISCILLA MELO/DP FOTO)
Através dos olhos emocionados de Claudionor Germano é possível enxergar um longo túnel do tempo. Nele, uma completa e gloriosa passagem da história do frevo pernambucano vira filme  e na trilha estão todos os sons do carnaval. O mestre entre os mestres, que se tornou um dos maiores intérpretes do estado e bateu o recorde de músicas gravadas de um só autor (Capiba, com 138 faixas) está hoje com 92 anos, quase 80 de carreira, e nunca deixa de celebrar o legado deixado não apenas para a festa de Momo, mas para todos os músicos que seguiram o seu caminho.

Irmão do respeitadíssimo artista plástico Abelardo da Hora, cujo centenário foi celebrado em 2024, e pai orgulhoso do também cantor de frevo Nonô Germano, com quem realizou inúmeras apresentações em conjunto, Claudionor já foi representante comercial de uma vinícola e passou por cargos públicos, chegando a ser até superintendente do Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, o Geraldão. Mas o amor pela música evocada pelos seus ídolos sempre guiou seus caminhos.

Sua carreira, afinal, começou cedo: oficialmente, em janeiro de 1945, quando cantou no Teatro de Santa Isabel aos 13 anos de idade, levado pela madrinha Lília Regueira Costa. Depois de passar pelo conjunto musical Ases do Ritmo, na Rádio Clube de Pernambuco, em 1959, já como cantor solo, gravou um dos mais importantes álbuns de toda a sua discografia: Capiba — 25 Anos de Frevo, interpretando as composições do mestre ao som da orquestra do maestro Nelson Ferreira e do coral Mocambo, da gravadora Rozenblit. Capiba e Nelson eram os grandes ídolos do jovem cantor.

“Há quem diga, com toda razão, que existe um carnaval antes e um depois de Capiba. Mas, por mais especiais que sejam as músicas que ele fez para o 25 Anos de Frevo, tem outras composições dele ainda mais marcantes. É de de uma importância imensa para mim e para todo o carnaval do estado e, com certeza, brasileiro”, enfatiza Claudionor, em entrevista exclusiva ao Viver, realizada em seu apartamento em Boa Viagem, enquanto mostra outros discos emblemáticos, como a série O Bom do Carnaval e o álbum que gravou em parceria com o filho, Nonô.

Relembrando o auge de sua carreira, com apresentações pelo Brasil e pelo mundo — incluindo shows nos Estados Unidos, no Japão e em diferentes países europeus —, o intérprete se emociona e chega a chorar ao listar os grandes nomes que enalteceram seu trabalho, com destaque para um elogio célebre do escritor Ariano Suassuna, descrito por ele como inesquecível.

“Sempre vou lembrar com alegria de quando Ariano me colocou entre os melhores cantores do país. Eu fico muito feliz com todos esses elogios que as pessoas fazem e com as honrarias que me dão, principalmente porque vejo que acontecem com muita espontaneidade e seriedade. Já chegaram a me listar como uma das três maiores estrelas da música mundial, junto com o argentino Carlos Gardel e a portuguesa Amália Rodrigues”, comenta durante a conversa, sem nenhuma modéstia, mas com um tom de voz brincalhão.

Apesar de ter levado o frevo para todos os cantos do mundo, como faz questão de frisar, ele nunca quis deixar o Recife. Mora com a esposa, Maria Lúcia da Hora, há cerca de 50 anos no mesmo endereço. Ultimamente, por conta de questões de saúde, tem permanecido mais tempo em casa, mas não deixa de participar das grandes festas do carnaval. Este ano, ele marcou presença novamente no Baile Municipal, algo que se repetiu em todas as 59 edições da tradicional festa.

No fim da entrevista, Maria Lúcia revela ao Viver que esta semana representou um novo marco na vida do casal. “Completamos as nossas Bodas de Diamante. São 60 anos de casados e muita história para contar. Pude acompanhá-lo por todas as fases da carreira e ver de perto esse sucesso enorme que ele conquistou, sempre ao lado dele”, comemora ela. “É um presente poder manter essa turminha boa que construimos juntos. São sete filhos, 12 netos e 11 bisnetos”, complementa o cantor.

Lenda viva do carnaval, Claudionor Germano não parou no tempo. Além de celebrar as suas conquistas incomparáveis, segue enriquecendo e valorizando a história musical pernambucana, da qual é um dos tesouros.