Dupla premiação histórica em Cannes A edição 2025 do festival consagrou o Brasil e Pernambuco com duas vitórias para "O Agente Secreto", com prêmios para Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura - feito inédito do cinema nacional

André Guerra

Publicação: 26/05/2025 03:00

 (MIGUEL MEDINA / AFP)

Era final de tarde na Riviera Francesa, horário de almoço no Brasil, quando começaram a ser divulgados, na cerimônia oficial no Grand Théatre Lumière, os premiados da competição principal do Festival de Cannes 2025 – que já nasceu um dos mais importantes para os brasileiros. O clima de copa do mundo que tomou conta do país na época do Oscar, com Ainda Estou Aqui, parecia ter, por um momento, retornado nas redes sociais. Sonhando com a almejada Palma de Ouro para O Agente Secreto, a torcida nacional teve seus desejos atendidos de forma surpreendente, com a vitória do longa pernambucano em duas categorias: Melhor Ator, para Wagner Moura, e Melhor Direção, para Kleber Mendonça Filho.

A presença da equipe brasileira no tapete vermelho da premiação já representou um bom sinal, já que as produções dos filmes são sempre avisadas pela organização do evento de que serão contempladas entre os troféus. É bastante raro, no entanto, o júri (presidido nesta edição pela atriz francesa Juliette Binoche) conceder mais de um prêmio para o mesmo projeto e, pelas regras, o vencedor da Palma de Ouro não pode levar nada além.

Com o anúncio do nome de Wagner, portanto, todos já sabiam que a vitória máxima não estava mais no horizonte, mas poucos poderiam prever que Kleber subiria no palco novamente, desta vez para receber o seu próprio prêmio como realizador. “Tive imensa sorte de trabalhar com Wagner e o amo muito. O Brasil é um país cheio de beleza e poesia e eu vejo Cannes como a catedral do cinema no planeta. Queria mandar um abraço para meu país, especialmente para Recife, Pernambuco”, disse o cineasta em seu discurso de agradecimento.

CULTURA
Em Londres para a gravação de um novo filme, Wagner Moura gravou um vídeo para expressar sua euforia com o resultado da premiação. “A felicidade que eu tenho é por mim, pelo Kleber, pelo cinema brasileiro e pela cultura brasileira. E pelo fato desse filme ser mais uma peça que aproxima o espectador brasileiro de sua cultura, principalmente, isso me dá uma alegria imensa”, celebrou o ator.

Além do ineditismo da dupla premiação para um longa brasileiro na competição de Cannes, O Agente Secreto levou ainda o prêmio da Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci), que reúne jornalistas e críticos internacionais. O thriller, que se passa no Recife de 1977 e acompanha um professor universitário tentando escapar de uma perseguição implacável durante o carnaval, foi um dos mais aplaudidos e elogiados pela imprensa internacional e, através de negociações do festival, garantiu distribuição nos Estados Unidos pela Neon, que representou todos os últimos seis vencedores da Palma de Ouro, além dos vencedores do Oscar de Melhor Filme Parasita e Anora.

O nosso cinema também teve seu momento de celebração na mostra Un Certain Regard (“Um Certo Olhar”), que contempla trabalhos de cineastas que estão surgindo no radar de Cannes. Premiado com o troféu de Atriz da competição paralela, para a cabo-verdiana Cleo Diára, O Riso e a Faca trata de um engenheiro (vivido por Sérgio Coragem) que viaja para a realização de um projeto rodoviário na África Ocidental e se envolve com dois locais, o brasileiro Gui (Jonathan Guilherme) e Diára, que também leva o nome da própria atriz. Elogiado pela sensibilidade e pela força das atuações, o filme tem mais de 30 profissionais do audiovisual nacional em sua complexa produção e tem previsão de chegar aos cinemas ainda em 2025.